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Memória Libertária

Documentos e Memórias da História do Movimento Libertário, Anarquista e Anarcosindicalista em Portugal

Documentos e Memórias da História do Movimento Libertário, Anarquista e Anarcosindicalista em Portugal

Memória Libertária

20
Jul23

19 de julho: as comemorações da revolução espanhola em Portugal


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Desde sempre, mesmo na clandestinidade, os meios libertários portugueses assinalaram o início da revolução espanhola de 1936, fosse na imprensa clandestina, fosse em encontros de militantes. Essa evocação acentuou-se após o 25 de abril de 1974, realizando-se logo nesse ano, a 19 de julho, um comício na Voz do Operário, em Lisboa, com a presença de militantes espanhóis, ainda na clandestinidade. Em 1975, a data foi mais uma vez assinalada em Lisboa com um comício no Pavilhão do Estádio Universitário. Aqui fica a convocatória para este comicio que reuniu muitas centenas de pessoas e contou com diversas intervenções, algumas delas de companheiros espanhóis.

03
Mar23

A MANIFESTAÇÃO ANARQUISTA DE 3 DE MARÇO DE 1975 EM SOLIDARIEDADE COM OS TRABALHADORES ESPANHÓIS


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A 3 de março de 1975, vários grupos (uns anarquistas e outros afirmando-se apenas internacionalistas) de Lisboa organizaram uma manifestação de solidariedade para com os trabalhadores espanhóis ainda sob o jugo de Franco, aproveitando o aniversário do assassinato de Salvador Puig Antich, que tinha sido garrotado um ano antes, a 2 de março de 1974.

Foram várias centenas os manifestantes que desfilaram Avenida da Liberdade acima, provocando alguns estragos nas montras de companhias espanholas que ali tinham as suas delegações.

O comunicado que convocou a manifestação – para além de outro material publicado na altura – traduz o espírito da convocatória e a solidariedade que todo o movimento libertário português sempre prestou, neste período difícil, aos companheiros espanhóis.

Sobre esta manifestação, escreveu Júlio Carrapato, alguns anos depois, que "os jovens anarquistas e os velhos anarco-sindicalistas portugueses foram os únicos a organizar a manifestação de 3 de Março de 1975, contra o Pacto Ibérico e de solidariedade com os trabalhadores espanhóis, a única claramente antimilitarista que se fez no Portugal pós-fascista, na qual se gritou uma frase que os jornais servis nem se atreveram a transcrever na íntegra: “os soldados são filhos do povo; os generais são filhos da puta”. Coitados, com toda a boa vontade que os caracteriza em relação aos partidos do Governo ou aos da oposição legal democrática (sempre “a mudança”!), só ousavam citar a boutade até meio, o que, convenhamos, alterava “um pouquinho” o sentido da frase…”

Referindo-se a esta manifestação, Carlos Gordilho, escreve que: "A manifestação pública referida neste texto (...), foi planeada pela Associação de Grupos Autónomos Anarquistas. Na organização colectiva desse evento também participaram os companheiros espanhóis refugiados, que diáriamente conviveram connosco em Almada. Local onde estiveram alojados durante seis meses. A AGAA nessa época representava a única estrutura anarquista real, com capacidade de mobilização da juventude e com a força necessária de penetração em alguns sectores sociais. Na área indústrial da margem sul do Tejo (Lisnave, Oficinas do Arsenal do Alfeite, Companhia Nacional de Pescas, Siderurgia Nacional) a nossa propaganda era distribuida nos locais de trabalho, a partir de uma rede de jovens operários." (aqui)

Em baixo está a “notícia” do “insuspeito” Diário de Lisboa, então dominado pelo PCP e pela extrema-esquerda (a maioria hoje a militar em partidos de direita) que, num texto não assinado e demonstrativo daquilo que, na altura e agora, se chama “isenção jornalística”, tenta ironizar com a forma como decorreu o desfile de protesto. Quem lá esteve não se reconhece no tom faccioso e mentiroso da prosa! Mas fica como exemplo desses tempos, em que depois de 16 anos de repressão burguesa na 1ª República e de 48 anos de fascismo, o movimento anarquista ainda sofreu todo o tipo de silêncios, perseguições, mentiras e ocultações após o 25 de abril por parte de quem quis ocupar as primeiras filas de uma democracia de opereta.

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13
Fev23

(1975) Portugal, base de apoio para os militantes espanhóis anti-franquistas


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Quando se deu o 25 de Abril de 1974 em Portugal, ainda Espanha vivia sob o franquismo e toda a actividade politica e social era fortemente reprimida. Durante os meses que se estenderam até à morte de Franco (Novembro de 1975) e depois à "abertura" politica e social no país vizinho que ainda levou vários anos - o primeiro comício público da CNT, pós Franco, apenas se realizou em Março de 1977, nos arredores de Madrid -, Portugal foi usado como espaço de retarguarda para muitos activistas das várias regiões de Espanha, entre eles muitos libertários - bascos, catalães, galegos, andaluzes, madrilenos. O incipiente movimento libertário português acolheu-os sempre que pôde, estabeleceu relações de companheirismo e deu a ajuda possível, servindo em muitos casos de abrigo temporário para militantes perseguidos pelas autoridades espanholas, nomeadamente aquando do caso "Scala" ( aqui também), em Barcelona, em Janeiro de 1978, numa operação montada pela polícia espanhola para destruir o movimento anarquista catalão e a CNT, durante a qual muitos militantes foram perseguidos e tiveram que procurar apoio externo.

Outros agiam por sua conta e risco, trazendo para Portugal métodos de luta contra empresas espanholas, tentando apressar o fim da ditadura. É neste campo que se insere o incêndio de três autocarros de uma empresa espanhola, em Lisboa, em Janeiro de 1975, em que foi presa uma cidadã espanhola que, casualmente, por ali passava e que não tinha a ver com aquela acção, reinvindicada, em comunicado, que publicamos acima, por um "comando" anarquista.

Documento aqui: https://1969revolucaoressaca.blogspot.com/search/label/Corrente%20Anarquista

09
Jan23

(memória libertária) As faixas da Casa Viva, no Porto, e a repressão policial


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No dia 20 de dezembro de 2008, dia internacional de solidariedade com os jovens gregos em revolta, depois do assassinato pela polícia grega do jovem anarquista de 15 anos, Alexandros Grigoropoulos (Alexis), o Centro Social Casa Viva (março de 2006 a maio de 2015), um espaço autogestionado na Praça Marquês de Pombal, no Porto, decidiu colocar uma faixa no prédio que ocupava denunciando a actuação da policia grega.  Na altura foi distribuído um comunicado à população (O espectro da liberdade surge sempre com uma faca nos dentes) a explicar o sentido da faixa. Duas semanas depois, a 5 de Janeiro, os Bombeiros Sapadores do Porto, chamados pela PSP, retiraram a faixa, e foi levantado um auto de apreensão.

Dias depois a Casa Viva reagia com um comunicado em que denunciava a actuação da polícia e das autoridades e em que se alertava para a, cada vez maior, violência exercida contra qualquer dissidência: "Os processos de intimidação à divergência apertam-se. Espera-se que o medo de qualquer coisa, independentemente do que seja, impeça as pessoas de se manifestarem, de exporem opiniões, de se levantarem perante as injustiças dos poderosos. Depois de visitas policiais à Casa em dias de reuniões, depois de visitas regulares ao blog, veio o roubo/apreensão da faixa, um processo-crime sobre “os responsáveis pela faixa”, o reconhecimento policial de que já estamos todos fichados e as ameaças de que, ou atinamos, ou nos fecham a Casa e nos mandam de saco, por causa da questão da propriedade, aliás, por causa das drogas, aliás por qualquer coisa que lhes apeteça." (aqui)

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Mas a tensão entre as autoridades locais e os activistas da Casa Viva devido às faixas não  ficou por aqui. Cinco anos depois, para assinalar o 1º de maio de 2014 decidiram colocar uma faixa, na frontaria do edificio, criticando a escravidão do trabalho assalariado. A frase escolhida foi: "SER ESCRAVA PARA SOBREVIVER, IDE-VOS FODER!".

No dia 2 de Maio, sem que qualquer uma das ocupantes da casa estivesse presente, numa acção conjunta,  a PSP,  Polícia Municipal e Sapadores do Porto retiraram a faixa, sem qualquer explicação. A Casa Viva reagiu com um comunicado em que reivindicava o direito a cada um usar a fachada das suas casas como muito bem entendesse, " já muito bem pago pelos impostos (IMI) no direito de habitar!" (aqui)

Video relacionado: https://youtu.be/XclwwxL5Ql0

 

05
Jan23

Há 14 anos a polícia assassinou um jovem de 14 anos no Bairro de Santa Filomena, na Amadora. O agente que o matou foi ilibado.


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Passaram ontem 14 anos sobre a morte pela polícia de Kuku (Elson Sanches), um jovem negro, de 14 anos, no bairro de Santa Filomena, na Amadora.

Este assassinato teve uma ampla repercussão em diversos sectores da sociedade portuguesa, nomeadamente entre os anarquistas, motivando diversas manifestações nas semanas e meses posteriores.

Segundo a Plataforma Gueto, citada pela Rede Libertária, que divulgou incessantemente todas as iniciativas de solidariedade, a morte de Kuku, foi “mais uma execução sumária, com pena de morte, dum jovem negro por parte da polícia, e um julgamento injusto feito no tribunal dos media, que condenou o nosso irmão e absolveu mais um assassino.

Uma perseguição policial do passado domingo, 4 de Janeiro às 21h, ditou a morte de Kuku, com apenas 14 anos.

Segundo a versão "oficial" de fontes policiais os agentes identificaram o carro furtado, onde seguiam 4 jovens, no bairro de Santa Filomena. Por não terem respeitado a ordem para parar, a polícia iniciou uma perseguição que só acabou no bairro da Quinta da Lage quando os jovens abandonaram o carro e continuaram a fuga a pé. Depois de terem disparado tiros para o ar, a polícia alega que Kuku, que foi o último a sair da viatura, apontou uma arma de calibre 6.35 a um agente, tendo este, em legítima defesa, disparado um tiro que o feriu mortalmente na cabeça. Outro irmão foi ainda atingido com uma bala na perna.

Ainda na sua versão oficial a polícia declara que o agente não atirou para a matar. Quem não quer matar não aponta uma arma à cabeça, portanto a intenção do agente era matar ou teria apontado a outra parte do corpo.

Na manhã seguinte os media iniciaram a sua propaganda, usando apenas as fontes policiais, para sujar a imagem do jovem e legitimar a acção do polícia, alegando que se tratava de um jovem referenciado por crimes violentos.

Com esta propaganda os media conseguiram transmitir a ideia de se tratar dum jovem violento que era uma ameaça para os agentes, e para a sociedade, bem como glorificar a polícia por mais uma "missão cumprida": assassinar um negro.

Como se não bastasse a idade de Kuku, 14 anos, para que este não pudesse ser considerado um criminoso violento, o mesmo foi referenciado como tal apenas por furtos, dos quais não resultou nenhuma condenação. Ainda que tal tivesse acontecido, em nenhum dos casos houve uso de violência. Tendo em conta aquilo os media têm propagandeado nos últimos meses como "criminalidade violenta" só prova que esta usa e abusa de tais critérios sem nenhum rigor para operar a sua propaganda racista e continuar a fomentar o medo dos imigrantes seus descendentes na opinião publica.”

Anos depois (2012) o polícia que matou Elson Sanches foi absolvido pela juíza do Tribunal da Amadora que julgou o caso, tal como, em geral, acontece sempre que a policia é acusada de mortes ou actuações violentas. O Estado defende sempre os seus algozes.

Relacionado:

https://redelibertaria.blogspot.com/2009/01/jovem-de-14-anos-baleado-na-cabea-por.html

https://redelibertaria.blogspot.com/2009/01/agente-da-psp-que-baleou-kuku-este.html

 https://redelibertaria.blogspot.com/2009/01/uma-das-vises-sobre-o-que-se-passou-na.html

https://redelibertaria.blogspot.com/2009/01/concentrao-contra-represso-policial-por.html

https://redelibertaria.blogspot.com/2009/01/dia-17-de-janeiro-sbado-s-16h-vem.html

https://redelibertaria.blogspot.com/2009/01/relatrio-pericial-prova-que-o-psp.html

https://redelibertaria.blogspot.com/2009/01/24-e-31-de-janeiro-20h-jantar-benefit.html

 

 

 

06
Nov22

António Ferreira, ex-preso social, libertário


 

No dia 6 de novembro de 2013 morrria, em Setúbal, António Ferreira, ex- preso, libertário, natural de Portimão, que motivou uma forte campanha de solidariedade por parte de vários colectivos que exigiam a sua libertação. Durante 30 anos, António Ferreira foi protagonista de todas as lutas de contestação promovidas por reclusos e “visitou” as prisões mais duras de Portugal.
Na altura da sua morte, escreveu António Pedro Dores, responsável pelo Observatório das Prisões:
"António Ferreira de Jesus descansará em paz
António Ferreira de Jesus (30/10/1940 a 6/11/2013) era um libertário. Conheci-o como um colaborador de todas as lutas contra a perversidade carcerária. A vida dele foi - soube-o mais tarde – praticamente toda feita entre muros (52 dos 73 anos de vida). Mas na prisão a sua fama era de ser superior. De inspiração e fonte de confiança para todos os que estivessem em condições de reclamar justiça. O Ferreira era quem sabia organizar com mais clareza as palavras para explicar o que se estava a passar. E como isso é importante numa cadeia.
Sofreu de tudo quanto o regime prisional tem para oferecer: transferência como castigos informais, isolamentos, censura nas comunicações, negligências nos cuidados de saúde, ameaças de morte para que se calasse. Mas a maior tortura foi judicial, a que baralhou as papeladas como justificação para que a pena cumprida fosse maior do que a pena de condenação.
António Ferreira de Jesus ensinou muito do que aprendemos sobre as prisões. Minucioso na observação, contido e preciso na afirmação, ponderava o valor das palavras e assumia as suas posições como questões de honra. Sabia que tudo podia ser pretexto para um ataque ao que tinha de mais precioso. A dignidade era o seu alimento. E o companheirismo a sua imagem de marca.
Atraiu um grupo de jovens correligionários para amigos, com quem manteve uma fraterna amizade, de que fui testemunha. Grupo que lhe serviu de amparo à saída da prisão e lhe soube assegurar a liberdade profunda a que sempre aspirou. E que ele sempre exigia. Bem hajam.
Ficou claro para ele, e pagou com a vida essa certeza, o carácter desumano e ilegítimo de qualquer sistema prisional, seja sob regimes fascistas ou democráticos, seja quanto a presos de consciência ou presos sociais.
António Pedro Dores"
 
19
Out21

CONCENTRAÇÃO FRENTE AO ESTABELECIMENTO PRISIONAL DE LISBOA ÀS 11 HORAS, DO DIA 8 DE JANEIRO DE 2013


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Cartaz aqui 

“Presos/as, familiares e movimentos sociais convocam uma concentração de solidariedade e denúncia no dia 8 de Janeiro de 2013 (amanhã) pelas 11horas da manhã, em frente ao Estabelecimento Prisional de Lisboa. Haverá visita para familiares que termina pelas 11:30h. Apareçam! Circulem esta mensagem.

São diversas as denúncias sobre a tensão vivida por presos e familiares de presos no Estabelecimento Prisional de Lisboa (bem como noutras prisões em portugal), a prática de tortura dentro desta instituição do Estado viola leis nacionais e internacionais de Direitos Humanos. São diversos os casos de espancamento praticados por guardas no Estabelecimento Prisional de Lisboa, são relatados com regularidade bem como outras queixas relativas a condições de celas, comida, cuidados de saúde e tratamento humilhante de familiares. Presos/as, familiares e movimentos sociais solicitam a intervenção urgente sobre o comprometimento do Estado Português com a não violação dos Direitos Humanos nas prisões em Portugal (inclusive recentemente Portugal ratificou o Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes da ONU, convenção que assinou em 2006.).

Vamos dar voz a esta opressão!
Circulem sff pelos vossos contactos.”

fonte: https://www.facebook.com/IndignadosLisboa?fref=ts

aqui: https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2013/01/08/concentracao-hoje-terca-feira-frente-ao-estabelecimento-prisional-de-lisboa-as-11-horas/