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Memória Libertária

Documentos e Memórias da História do Movimento Libertário, Anarquista e Anarcosindicalista em Portugal

Documentos e Memórias da História do Movimento Libertário, Anarquista e Anarcosindicalista em Portugal

Memória Libertária

20
Jul23

19 de julho: as comemorações da revolução espanhola em Portugal


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Desde sempre, mesmo na clandestinidade, os meios libertários portugueses assinalaram o início da revolução espanhola de 1936, fosse na imprensa clandestina, fosse em encontros de militantes. Essa evocação acentuou-se após o 25 de abril de 1974, realizando-se logo nesse ano, a 19 de julho, um comício na Voz do Operário, em Lisboa, com a presença de militantes espanhóis, ainda na clandestinidade. Em 1975, a data foi mais uma vez assinalada em Lisboa com um comício no Pavilhão do Estádio Universitário. Aqui fica a convocatória para este comicio que reuniu muitas centenas de pessoas e contou com diversas intervenções, algumas delas de companheiros espanhóis.

27
Fev23

MANUEL FRANCISCO RODRIGUES (1901 - 1977)


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               Por Maria João Dias

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Professor, filósofo e escritor, opositor à ditadura fascista do Estado Novo, viveu a violência da repressão. Passou por todas as prisões políticas até ser deportado para o Campo de Concentração do Tarrafal, onde esteve três anos e meio. É autor de diversas publicações, entre as quais “Tarrafal, aldeia da morte”, considerada um valioso testemunho sobre o sofrimento dos presos políticos.
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1. Manuel Francisco Rodrigues nasce em Lisboa, a 12 de Fevereiro de 1901, filho de Carlota da Conceição Vidal, natural de S. Domingues do Vale de Figueira (Santarém) e de António Guilherme Paula Rodrigues, carpinteiro, natural da freguesia de Santa Isabel, Lisboa, moradores na Estrada de Campolide. É inteligente, de espírito culto e inquieto. É assíduo frequentador da Biblioteca Nacional quando Jaime Cortesão é o Director. Torna-se partidário das ideias anarquistas e cristãs. A sua filosofia é libertária-ramo tolstoiano. Segue também doutrinas, crenças filosóficas e práticas de cariz místico. É defensor do vegetarianismo e particante do naturismo. Funda o "Grupo dos Filhos do Sol" com o enfermeiro Virgílio de Sousa, e colabora com a Liga- Anti-Alcoólica Operária". O seu idealismo cedo o levou às grades de uma prisão política, detido durante uma noite de contestação em Lisboa.
Com vinte e poucos anos, sai do país e, durante vinte anos, viaja 10.000 Km por toda a Europa. Vive na Noruega, Suécia, Estónia, Letônia , Lituânia, Alemanha...Na Bélgica, estuda e adquire um diploma em Filosofia, no Institut Philosophique de Bruxelles. Na Alemanha, vive na aldeia vegetariano-tolstoiana de Orienburg e participa na reunião da IV Internacional em Berlim.
Em 1936, está em Barcelona e, integrado no movimento anarquista, organiza na sua casa reuniões com outros membros de destaque do movimento. Casa com Aurora Reboredo, filha do anarquista José Rodrigues Reboredo (1891-1952). Em 1938 nasce a primeira filha do casal, Aurora. No eclodir da guerra civil espanhola, luta como voluntário contra os franquistas. É ferido e perde a visão do olho esquerdo. Refugia-se em França, atravessando os Pirenéus, e vive lá alguns anos com a família. Mas acaba por conhecer a dureza dos campos de concentração de Argelès-Sur-Mer; Saint-Cyprien e Gurs. Em dezembro de 1940, e já à espera do nascimento de mais uma filha, Maria, regressa a Portugal.
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2- Em Beirã (Marvão), a 15 de Dezembro de 1940, Manuel é detido com o sogro. Fica preso no posto da GNR até 20 de Dezembro, data em que é enviado para a cadeia do Aljube (Lisboa). Em Fevereiro de 1941, é transferido para a prisão de Caxias. Em Julho de 1941 dá entrada no Forte de Peniche, onde fica dois meses e, em 4 de Setembro de 1941, embarca para o Campo de Concentração do Tarrafal (Cabo Verde), com José Rodrigues Reboredo e outros antifascistas. Julga que é um engano, mas cedo as suas esperanças se desvanecem. Aí vai encontrar dois conhecidos: um antigo amigo dos tempos de juventude, o enfermeiro Virgílio de Sousa Coelho, que chegou ao Tarrafal a 12 de Junho de 1937 e de lá sairá apenas a 23 de Janeiro de 1946, e o operário metalúrgico José de Sousa Coelho, que deu entrada no Tarrafal a 29 de outubro de 1936 e sairá a 10 de Fevereiro de 1945. Conhece de nome apenas mais quatro ou cinco deportados. Considera que a sua prisão é um engano e uma injustiça, pois nem sequer foi julgado. Escreve cartas de apelo às autoridades civis e religiosas de então. Não obtém resposta. Apenas o castigo de conhecer durante vários dias a " frigideira".
Ao fim de 3 anos e meio de cativeiro, sem julgamento, regressa do “Campo da morte lenta” em 20 de Fevereiro de 1945 (1). Vai residir para o Porto e fica impedido de sair do país. Dedica-se à tradução e à docência. Em 1946, casa com Lucília Branca Dias, natural do Porto, professora de Educação Musical em vários liceus do Porto e Chaves. Em 1948, nasce a única filha do casal, Lucília Dias Rodrigues. Vive com a família em Matosinhos, durante alguns anos. Regressa ao Porto e vai residir para a Rua de Santa Catarina. Lecciona Filosofia e Línguas na Escola Comercial Oliveira Martins, no Liceu Nacional de Chaves, no Instituto Francês e em vários Colégios particulares. Liga-se a várias colectividades, entre as quais a Associação de Jornalistas e Homens do Porto, à Liga Portuguesa de Profilaxia Social , onde trabalhou com o Dr. António Emílio de Magalhães em vários projectos, um dos quais era acabar com o "hábito" de andar descalço. Em 1958, apoia a candidatura do General Humberto Delgado. Vai esperá-lo à estação de S.Bento, e é um dos que o carrega em ombros .
Nas décadas de 50 e 60, publica vários livros, em edição de autor, com o pseudónimo Oryam. Memórias (1950) e Cântico de Oryam contam experiências vividas por ele (3). Recebe um prémio literário pela União de Autores Latinos.
Em 1974, adoece e pouco usufrui do tempo em Liberdade. Organiza tudo o que tinha escrito, há muito, sobre o Tarrafal e a 3 de Julho, em edição de autor, finalmente pode publicar a sua obra mais importante e escondida durante décadas: "Tarrafal aldeia da morte | O diário da B5”. É um dos primeiros livros publicados sobre o campo de concentração. Trata-se de um relato na primeira pessoa, em 327 páginas, de uma obra ilustrada. Nesse ano, a obra tem mais duas edições, pela Brasília Editora (2) e recebe o Prémio Literário " 25 de Abril" para Ensaio Político, na Feira do Livro do Porto. Anuncia a publicação de mais três livros, que não chegarão ao prelo, devido ao seu estado de saúde. Mas publica ainda " Socialismo em Liberdade", em 1975.
Considerado um homem bondoso e simples, os últimos anos de vida passa-os doente e cego, mas “conservou sempre o aprumo que lhe tinham querido roubar nas prisões fascistas”. Morre no Porto, a 28 de setembro de 1977, tão anónimo e tão discreto como viveu (4).
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2 - Depoimentos:
Por Antónia Gato
«Manuel Francisco Rodrigues foi um homem extraordinário. A sua obra “Tarrafal Aldeia da Morte - o diário da B5”, é a melhor obra sobre o Campo do Tarrafal. Anarca-cristão tolstoiano, trabalhou como repórter, professor, tradutor de línguas estrangeiras e autor de várias obras literárias onde se apresenta ao público com o pseudónimo de Oryam. Integrado no movimento anarquista, casou em Espanha com a filha de José Rodrigues Reboredo e combateu como voluntário na guerra civil contra os franquistas.
Acompanhado pela família atravessou os Pirenéus e refugiou-se em França mas acabou por conhecer a dureza dos campos de concentração de Argelès-Sur-Mer; Saint-Cyprien e Gurs. Em dezembro de 1940 regressa a Portugal e, juntamente com o sogro, é detido e posteriormente deportado para o Tarrafal " -
In: Tese de Doutoramento de Antónia Maria Gato Pinto, TARRAFAL: RESISTIR COMO PROMESSA - O poder de transformar uma experiência de opressão numa história de grandeza. In: file:///C:/Users/Utilizador/Downloads/CCT.pdf
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Por Diana Cortez:
"Manuel Francisco Rodrigues era meu vizinho. Tinha uma sala cheia de livros, tantos que chegavam ao tecto. Estava cego, já não os lia... Passava os dias de sol no quintal, à sombra da japoneira e os restantes em casa a ouvir música clássica. Às vezes pedia-me que lhe lesse. Eu não entendia o que lhe lia, muito menos porque sorria quando me ouvia. Diziam ser muito inteligente mas eu não sabia porquê.
Hoje sei que era filósofo, poeta, professor e escritor, cujo pseudónimo era Oryam.
Foi perseguido por ser inteligente e ter ideais anti-fascistas, esteve detido em vários lugares, entre eles, o campo de concentração Tarrafal, onde terá vivido dias de terror."

3. Outras publicações
O Cântico de Oryam, Colecção Oryam (Nº 2) Editora: Edição do Autor, 1ª Edição, 1957, Porto – Imprensa Social Secção da Coop. do Povo Portuense.
A Ideia Venceu a Morte, Colecção Oryam (Nº 3). Edição do Autor, 1ª Edição, 1958, Porto – Tip. J. R. Gonçalves, Limitada.
Socialismo em Liberdade, 1ª ed ,1975

Notas:
(1) Chegaram ao Tarrafal sucessivas levas de presos. As primeiras ocorreram em 1936 (151 deportados) e em 1937 (57 deportados). Mais tarde, à medida que a II Guerra Mundial foi evoluindo favoravelmente para os Aliados, decresceram os números da deportação. Na sua maioria, esses presos ultrapassaram largamente as penas a que tinham sido condenados; e, por vezes, nem sequer eram julgados, funcionando o campo como um desterro sem lei, isto é, de acordo com as leis fascistas de Salazar. Em 1939 verificam-se as primeiras saídas do campo, esporádicas, mas só em 1944 se regista um movimento significativo de libertações, cerca de uma trintena. O campo, aberto em Outubro de 1936, seria fechado em 1954. Foram 36 os prisioneiros políticos que morreram no Tarrafal: 32 portugueses, 2 angolanos e 2 guineenses. Os restos mortais dos portugueses só depois do 25 de Abril puderam voltar à pátria: Em 1961, o Ministro do Ultramar Adriano Moreira reabre-o para nacionalistas africanos, com a designação de Campo de Trabalho de Chão Bom.
(2) Excertos da sua obra "Tarrafal aldeia da morte":
«Quando os primeiros deportados chegaram, encontraram pedregulhos, vento, calor e mosquitos. Então ainda não havia as casernas, nem o «Posto de Socorros», nem a cozinha, nem as oficinas. Tudo isso se fez depois. O que havia já era o arame farpado e a água do poço. Fizeram umas toscas barracas de lona e, passados alguns meses, morreram os primeiros oito reclusos... Só num dia morreram três... depois mais três... e mais dois... Os cadáveres foram transportados a pau e corda para o cemitério. Então ainda não havia o luxo da camioneta. (,,) Depois, abriu-se a pedreira e mandou-se fazer uma marreta que pesava uma arroba. Sob os raios quentíssimos do sol, os forçados arrancavam e transportavam a pedra e, em longa e interminável fileira custodiada por soldados negros, acarretavam a água do poço para as necessidades do povo da aldeia. Quando um escravo caía, vítima do paludismo mortífero, outro era imediatamente escolhido para o substituir. E, depois, como se tudo isso não bastasse, construíu-se a célebre «Frigideira»...isto é: -a antecâmara do cemitério. A «Frigideira» é um bloco de cimento, dentro do qual há um orifício onde emparedam os reclusos que caem na desgraça de não agradar aos que estabelecem as ordens.
(…) Sob a acção do sol, a temperatura vai subindo dentro do buraco... sobe... sobe... sobe!... O desgraçado ou desgraçados que lá estão vão suando... suando... até ficarem cozidos e depois assados. É claro que, submetidos a esse tratamento, morrem muito mais depressa, sobretudo quando o ingresso no buraco se faz ao som das chicotadas do cavalo- marinho rasgando as costas dos condenado, às quais se seguem os consagrados rigores do jejum periódico forçado.»
(3) Catalogado na Livraria Fernando Sanos em Filosofia, em 244 páginas e com a descrição: «10.000 kms através da Europa. – A aldeia vegetariano-tolstoiana de Orienburg. – A lição dos Três Profetas na maravilha nevada do Wildhorn sobre o Homem e o Universo. – O país do sol da meia-noite, o acampamento de Krishnamurti e o ocaso de Viena de Áustria. – Franz Korscnher e Stefan Zweig. – A Academia de Estudos filosóficos fundada por Anakreon no oásis grego de Zágora».
(4) «Quando o conheci era um velho no limite da resistência humana, deixara em vários cativeiros o vigor, a força e a vontade férrea que sempre o tinham animado. (…) Da vida que dedicou à Paz no mundo restam apenas, além dos seus livros, recordações mais ou menos vagas daqueles que o conheceram. (…) Se continuarmos assim, esquecendo ou minimizando, de ânimo leve, Homens de tal envergadura, o “dia em que soará na terra a hora da fraternidade, da Paz justa e sincera” estará cada vez mais longe e, em breve, estaremos de novo envoltos nessa paz podre e vergonhosa de que tão dificilmente nos libertámos» - Sílvia Barata Gonçalves da Silva (Rio Tinto) em “Tribuna Livre”, 27 Maio 1979.
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Fontes:
- ANTT Registo Geral dos Presos nº 12946
https://www.livrariafernandosantos.com/.../memorias-de.../
http://im-parcial.blogspot.com/.../tarrafal-aldeia-da...
https://seculopassadolivros.com/.../a-ideia-venceu-a.../
http://media.diariocoimbra.pt/.../55b02a81-e5dc-469e-9676...;
https://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=4820829
- Tribuna Livre (secção de jornal não identificado) – artigo de Sílvia Barata Gonçalves da Siva, em homenagem a Manuel Francisco Rodrigues
- Correspondência de MFR com leitores das suas obras.
Informações da filha, Lucília Dias Rodrigues, Diana Cortez e da investigadora Antónia Gato Pinto. 

aqui: https://www.facebook.com/FascismoNuncaMais/photos/a.559109110865139/2332024566906909/

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30
Jan23

Manuel Firmo, uma vida de combatente anarquista: da resistência ao fascismo em Portugal à guerra civil espanhola, dos campos de concentração franceses ao Tarrafal


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Manuel Firmo durante a Guerra Civil Espanhola

Na madrugada de 30 de Janeiro (de 2005) faleceu no seu domicílio, em Barcelona, o último (tanto quanto sabemos) militante libertário que combateu na Guerra Civil da vizinha Espanha, de 1936 a 1939, e o último também dos que padeceram no campo de concentração do Tarrafal.

Manuel Firmo, o mais velho de três irmãos – todos libertários – nasceu no Barreiro a 9 de Setembro de 1909, filho dum maquinista do Caminho de Ferro do Sul e Sueste. O pai foi transferido para Faro em 1914 e foi nesta cidade que Manuel frequentou a instrução primária.

 Regressado com a família ao Barreiro em Dezembro de 1918 começou a trabalhar numa fábrica de cortiça com doze anos incompletos. Despedido em consequência duma greve, foi sucessivamente servente de pedreiro, contínuo nos escritórios da CUF (donde foi despedido por se recusar a denunciar dois colegas) e novamente operário da indústria corticeira.

 Desejoso de melhorar os seus conhecimentos frequentou a biblioteca da Associação dos Corticeiros e, posteriormente, a do Sindicato dos Ferroviários. Fez exame de admissão às Oficinas Gerais do Caminho de Ferro do Sul e Sueste onde aprendeu o ofício de serralheiro. Aprendeu Esperanto e iniciou a sua militância anarco-sindicalista.

Em 1936, estando em risco iminente de ser preso pela polícia política em virtude da sua actividade militante, fugiu para Espanha. Detido por entrada ilegal, foi libertado ao cabo de algumas semanas por intervenção do antigo presidente da República Bernardino Machado, então exilado em Madrid.

 Para esta cidade se dirigiu e um mês depois deu-se o golpe militar fascista de 18 de Julho. Manuel Firmo incorporou-se nas milícias da CNT e foi enviado para a frente, em Somossierra. Dadas as más condições de alojamento, vestuário e alimentação combinadas com o frio rigoroso desse primeiro inverno adoeceu com pneumonia, numa época em que não existiam ainda antibióticos. A gravidade da situação determinou a sua evacuação, primeiro para Madrid e depois para Valência, onde convalesceu.

Com a incorporação das milícias no exército regular da República, Manuel Firmo, dadas as suas habilitações profissionais, foi integrado na aviação republicana como sargento mecânico.

O avanço nacionalista levou à evacuação da força aérea para Barcelona e, posteriormente, à retirada do exército governamental para a fronteira pirenáica, no que foi acompanhado por muitos milhares de civis.

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Manuel Firmo no Campo de Concentração de Gurs (França)

Ao entrar em França foi internado, como a maior parte dos refugiados, em campos de concentração sem as mínimas condições de alojamento, higiene ou alimentação. Passou pelos ignominiosos campos de Argelés-sur-Mer e de Gurs, sendo requisitado para trabalhar numa fábrica de material aeronáutico após a entrada da França em guerra com a Alemanha. À capitulação seguiu-se o reenvio para o campo concentração e ulterior incorporação em companhias de trabalho com características de companhias disciplinares.

Ao ter conhecimento de que se projectava o envio para a Alemanha duma força de trabalho composta de refugiados espanhóis, Manuel Firmo decidiu fugir de França e regressar a Portugal. Detido na fronteira, passou longos meses em prisões metropolitanas (Aljube, Caxias, Peniche) sendo finalmente enviado para o campo de concentração do Tarrafal, sem sombra de processo judicial.

 Finda a II Guerra Mundial foi libertado ao fim de 53 meses de encarceramento. Sendo-lhe muito difícil encontrar trabalho em Portugal, ao fim de dois anos emigrou para Angola onde esteve colocado inicialmente numa empresa de exploração de sisal e, mais tarde, na Companhia dos Caminhos de Ferro de Benguela. Aí se lhe juntaram os dois irmãos.

Regressou a Portugal e, decorridos dois anos, partiu para Barcelona onde reside a família da esposa, aí permanecendo até à sua morte.

Enquanto a saúde lho permitiu vinha a Portugal todos os anos, nas férias estivais. Nessa altura costumava frequentar o C.E.L., participando nas suas actividades e, nomeadamente, proferindo aí algumas palestras.

Manuel Firmo era um homem culto, autodidacta, que escrevia com elegância. Deixou-nos um livro autobiográfico, "Nas Trevas da Longa Noite, da Guerra de Espanha ao Campo do Tarrafal", editado por Publicações Europa-América.

A sua colaboração em A Batalha, encontra-se reunido «Caderno d' A Batalha» – Em torno da Guerra Civil Espanhola – publicado em 2003. Deixa ainda outra obra que não chegou a ser editada por haver adoecido e não poder acompanhar a sua revisão.

Mas o que sempre mais nos impressionou nele foi a extrema correcção e delicadeza, a atitude tolerante e bondosa, o bom senso, a simplicidade e a sua cultura.

Para a esposa Josefa, que o acompanhou nos momentos dificeis do exílio, também ela internada num campo de refugiados em França, que sofreu a separação dos longos anos de prisão e o acompanhou indefectivelmente em Portugal, Angola e Espanha, nomeadamente nos últimos anos de doença e invalidez, vai a manifestação do nosso pesar, bem como para o seu irmão, cunhada e sobrinhos, familiares da esposa e amigos mais íntimos.

O Colectivo Redactorial de A Batalha, nº 209 (Março, 2005)

Relacionado: http://utopia.pt/edicoes/Binder19.pdf

https://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Firmo

https://rastrosderostros.wordpress.com/2014/12/13/manuel-firmo-sindicalista-anarquista-y-esperantista/

https://estudossobrecomunismo2.wordpress.com/2005/02/05/morte-de-manuel-firmo-sindicalista-anarquista-e-esperantista/

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https://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=4293964