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Memória Libertária

Documentos e Memórias da História do Movimento Libertário, Anarquista e Anarcosindicalista em Portugal

Documentos e Memórias da História do Movimento Libertário, Anarquista e Anarcosindicalista em Portugal

Memória Libertária

29
Abr23

CasaViva no Porto (2006-2015): uma década de liberdade e criatividade


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No dia 29 de Abril de 2006 abria as portas, no Porto, a CasaViva, uma experiência temporária de um espaço alternativo, libertário e autogestionado que durante 10 anos serviu de porto de abrigo para centenas de projectos e iniciativas de índole cultural e anti-autoritária. A CasaViva era o espaço da liberdade no Porto.

Num dos primeiros textos publicados no blogue da CasaViva definia-se assim o que ela pretendia vir a ser. E foi: 

"A CasaViva é um projecto que se quer aberto à comunidade, disponível para acolher iniciativas irreverentes, que proponham novas formas de pensar, através da música, pintura, teatro, conversa, cinema, fotografia, oficinas, literatura, dança. É um espaço de entrada livre, bate o batente para entrar.
 
A CasaViva não paga cachet e não cobra à porta. Acesso gratuito. E cada qual é livre de estender o chapéu depois da actuação. A divulgação dos eventos cabe a quem os propõe. A CasaViva participa através do blog e por email. Para isso, precisa de ter acesso atempado (mínimo uma semana) à informação do que se vai realizar: texto e imagem (400x300 dpi). Os ensaios públicos (3 bandas máx.) devem realizar-se às sextas-feiras e sábados, até às 22h00. A CasaViva acredita nas redes autónomas, em permanente construção, de cultura e software livres. Por isso, ainda que possamos ouvir e descarregar com linux as músicas localizadas no myspace, optamos por potenciar outras redes de partilha mais distribuídas e menos controladas pelas grandes corporações. Netlabels, como jamendo, phlow magazine, enough records, alg-a lab ou commonsbaby são alternativas de publicação e divulgação. Se quiserem mais informação, escrevam para este email ou falamos quando cá chegarem para tocar, actuar, etc... A CasaViva regista som e imagem dos concertos, podendo depois divulgar esses conteúdos através dos seus canais de divulgação – blog, facebook, rádio. É também habitual, de tempos a tempos, editarmos um CD com músicas de todas as bandas que por cá passam. Se acharem que isto é um abuso, é sinal que se equivocaram no local onde tocar.
 
A CasaViva quer-se um espaço livre de violência. Por vezes a violência surge onde menos se espera, basta um "mosh" mal feito… Por isso apelamos aos grupos que vêm actuar no sentido de reforçarem essa mensagem, na divulgação do evento e/ou durante o próprio evento. Pelo nosso lado, estamos presentes ao longo do evento para ajudar quando as coisas descambam, mas preferimos fazer tudo para que as situações sejam evitadas a ter de intervir.
 
A CasaViva apoia-se numa dezena de amigos que se dedicam ao projecto por gosto. Gente que abre e fecha a porta, orienta a concretização das iniciativas, promove o debate, pensa, despeja cinzeiros, varre o chão e limpa sanitas. A bem da manutenção do espaço, e seguindo a filosofia de partilha de direitos e de responsabilidades, esperam-se contribuições semelhantes de quem procura a casa para nela fazer acontecer coisas.
 
A CasaViva é uma casa particular, temporariamente cedida pelos proprietários, sem contrapartidas financeiras. Apoiado nos ditos amigos que não querem formalizar o projecto. A contrapartida é conservar o espaço, zelar por ele e revitalizá-lo. Animando-o enquanto alternativa ou mexendo na pele. Pode-se intervir, respeitando a estrutura e alguns revestimentos.
 
Meia dúzia de salas livres, uma cozinha, sanitas e urinol. Um corredor comprido e uma caixa de escadas iluminada por clarabóia. Tem horta, loja livre, oficina de serigrafia, hacklab, bookcrossing. Dispõe do seguinte equipamento: um projector, PA (mesa de mistura e amplificador e respectivas colunas (COLUNAS PEVEY POWER 250 WATTS 8 OHMS) e microfone sem suporte nem cabos. Está a iniciar a colecção e a catalogação de filmes, cds, revistas, livros, fanzines, para partilhar. Informação sempre gratuita."
 
Logo, na abertura, teve  lugar uma inciativa que tomou o nome de "Liberdades".

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Durante os 10 em que esteve a funcionar ficaram memoráveis muitas outras iniciativas. A Casa fechou as portas, como combinado com os proprietários, a 1 de Maio de 2015, também com a organização de uma iniciativa e a divulgação de um texto, onde se podia ler:

"Morro a 1 de Maio. Se me tens algum carinho, não me evoques. Não me chores. Não me metas na gaveta do lembras-te quando. Se nostalgia for o sentimento que fica depois de mim, esta viagem de 9 anos não valeu a pena.

Preferia deixar-te o sabor amargo de algo inacabado. Não para que me continues. Antes para que te dê asas à vontade de experimentar. Para que te anime a levantares-te contra quem te oprime, a inventar formas de estar e viver livres de poder, a remar contra a corrente do capital, a criar, enfim, a tua própria utopia.

Só assim, só se a minha morte te elevar os níveis de raiva e de sonho, só se mil novas experiências de liberdade se erguerem, só assim, repito, terá valido a pena. Se a cidade arde por falta de espaços de partilha, que se criem esses espaços. E que se veja a cidade a arder.

Despeço-me. Até nunca. O colectivo que me gere diz até já."

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Famosas ficaram também muitas faixas que, por diversas vezes, "decoraram" a frente do prédio ocupado pela CasaViva e que, por várias vezes também, desencadearam a ira da Câmara Municipal e da polícia que os retiravam motivando novos protestos do colectivo que geria este  "ESPAÇO TEMPORÁRIO*MULTICULTURAL*INTERVENTIVO*GRATUITO*SEM FRONTEIRAS*SEM ROSTO*EXPERIMENTAL*REVOLTADO*APARTIDÁRIO ", como o definiam os membros do colectivo que o geria.

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relacionado: https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2014/05/06/porto-comunicado-da-casa-viva-sobre-a-retirada-da-faixa/

 

27
Fev23

MANUEL FRANCISCO RODRIGUES (1901 - 1977)


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               Por Maria João Dias

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Professor, filósofo e escritor, opositor à ditadura fascista do Estado Novo, viveu a violência da repressão. Passou por todas as prisões políticas até ser deportado para o Campo de Concentração do Tarrafal, onde esteve três anos e meio. É autor de diversas publicações, entre as quais “Tarrafal, aldeia da morte”, considerada um valioso testemunho sobre o sofrimento dos presos políticos.
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1. Manuel Francisco Rodrigues nasce em Lisboa, a 12 de Fevereiro de 1901, filho de Carlota da Conceição Vidal, natural de S. Domingues do Vale de Figueira (Santarém) e de António Guilherme Paula Rodrigues, carpinteiro, natural da freguesia de Santa Isabel, Lisboa, moradores na Estrada de Campolide. É inteligente, de espírito culto e inquieto. É assíduo frequentador da Biblioteca Nacional quando Jaime Cortesão é o Director. Torna-se partidário das ideias anarquistas e cristãs. A sua filosofia é libertária-ramo tolstoiano. Segue também doutrinas, crenças filosóficas e práticas de cariz místico. É defensor do vegetarianismo e particante do naturismo. Funda o "Grupo dos Filhos do Sol" com o enfermeiro Virgílio de Sousa, e colabora com a Liga- Anti-Alcoólica Operária". O seu idealismo cedo o levou às grades de uma prisão política, detido durante uma noite de contestação em Lisboa.
Com vinte e poucos anos, sai do país e, durante vinte anos, viaja 10.000 Km por toda a Europa. Vive na Noruega, Suécia, Estónia, Letônia , Lituânia, Alemanha...Na Bélgica, estuda e adquire um diploma em Filosofia, no Institut Philosophique de Bruxelles. Na Alemanha, vive na aldeia vegetariano-tolstoiana de Orienburg e participa na reunião da IV Internacional em Berlim.
Em 1936, está em Barcelona e, integrado no movimento anarquista, organiza na sua casa reuniões com outros membros de destaque do movimento. Casa com Aurora Reboredo, filha do anarquista José Rodrigues Reboredo (1891-1952). Em 1938 nasce a primeira filha do casal, Aurora. No eclodir da guerra civil espanhola, luta como voluntário contra os franquistas. É ferido e perde a visão do olho esquerdo. Refugia-se em França, atravessando os Pirenéus, e vive lá alguns anos com a família. Mas acaba por conhecer a dureza dos campos de concentração de Argelès-Sur-Mer; Saint-Cyprien e Gurs. Em dezembro de 1940, e já à espera do nascimento de mais uma filha, Maria, regressa a Portugal.
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2- Em Beirã (Marvão), a 15 de Dezembro de 1940, Manuel é detido com o sogro. Fica preso no posto da GNR até 20 de Dezembro, data em que é enviado para a cadeia do Aljube (Lisboa). Em Fevereiro de 1941, é transferido para a prisão de Caxias. Em Julho de 1941 dá entrada no Forte de Peniche, onde fica dois meses e, em 4 de Setembro de 1941, embarca para o Campo de Concentração do Tarrafal (Cabo Verde), com José Rodrigues Reboredo e outros antifascistas. Julga que é um engano, mas cedo as suas esperanças se desvanecem. Aí vai encontrar dois conhecidos: um antigo amigo dos tempos de juventude, o enfermeiro Virgílio de Sousa Coelho, que chegou ao Tarrafal a 12 de Junho de 1937 e de lá sairá apenas a 23 de Janeiro de 1946, e o operário metalúrgico José de Sousa Coelho, que deu entrada no Tarrafal a 29 de outubro de 1936 e sairá a 10 de Fevereiro de 1945. Conhece de nome apenas mais quatro ou cinco deportados. Considera que a sua prisão é um engano e uma injustiça, pois nem sequer foi julgado. Escreve cartas de apelo às autoridades civis e religiosas de então. Não obtém resposta. Apenas o castigo de conhecer durante vários dias a " frigideira".
Ao fim de 3 anos e meio de cativeiro, sem julgamento, regressa do “Campo da morte lenta” em 20 de Fevereiro de 1945 (1). Vai residir para o Porto e fica impedido de sair do país. Dedica-se à tradução e à docência. Em 1946, casa com Lucília Branca Dias, natural do Porto, professora de Educação Musical em vários liceus do Porto e Chaves. Em 1948, nasce a única filha do casal, Lucília Dias Rodrigues. Vive com a família em Matosinhos, durante alguns anos. Regressa ao Porto e vai residir para a Rua de Santa Catarina. Lecciona Filosofia e Línguas na Escola Comercial Oliveira Martins, no Liceu Nacional de Chaves, no Instituto Francês e em vários Colégios particulares. Liga-se a várias colectividades, entre as quais a Associação de Jornalistas e Homens do Porto, à Liga Portuguesa de Profilaxia Social , onde trabalhou com o Dr. António Emílio de Magalhães em vários projectos, um dos quais era acabar com o "hábito" de andar descalço. Em 1958, apoia a candidatura do General Humberto Delgado. Vai esperá-lo à estação de S.Bento, e é um dos que o carrega em ombros .
Nas décadas de 50 e 60, publica vários livros, em edição de autor, com o pseudónimo Oryam. Memórias (1950) e Cântico de Oryam contam experiências vividas por ele (3). Recebe um prémio literário pela União de Autores Latinos.
Em 1974, adoece e pouco usufrui do tempo em Liberdade. Organiza tudo o que tinha escrito, há muito, sobre o Tarrafal e a 3 de Julho, em edição de autor, finalmente pode publicar a sua obra mais importante e escondida durante décadas: "Tarrafal aldeia da morte | O diário da B5”. É um dos primeiros livros publicados sobre o campo de concentração. Trata-se de um relato na primeira pessoa, em 327 páginas, de uma obra ilustrada. Nesse ano, a obra tem mais duas edições, pela Brasília Editora (2) e recebe o Prémio Literário " 25 de Abril" para Ensaio Político, na Feira do Livro do Porto. Anuncia a publicação de mais três livros, que não chegarão ao prelo, devido ao seu estado de saúde. Mas publica ainda " Socialismo em Liberdade", em 1975.
Considerado um homem bondoso e simples, os últimos anos de vida passa-os doente e cego, mas “conservou sempre o aprumo que lhe tinham querido roubar nas prisões fascistas”. Morre no Porto, a 28 de setembro de 1977, tão anónimo e tão discreto como viveu (4).
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2 - Depoimentos:
Por Antónia Gato
«Manuel Francisco Rodrigues foi um homem extraordinário. A sua obra “Tarrafal Aldeia da Morte - o diário da B5”, é a melhor obra sobre o Campo do Tarrafal. Anarca-cristão tolstoiano, trabalhou como repórter, professor, tradutor de línguas estrangeiras e autor de várias obras literárias onde se apresenta ao público com o pseudónimo de Oryam. Integrado no movimento anarquista, casou em Espanha com a filha de José Rodrigues Reboredo e combateu como voluntário na guerra civil contra os franquistas.
Acompanhado pela família atravessou os Pirenéus e refugiou-se em França mas acabou por conhecer a dureza dos campos de concentração de Argelès-Sur-Mer; Saint-Cyprien e Gurs. Em dezembro de 1940 regressa a Portugal e, juntamente com o sogro, é detido e posteriormente deportado para o Tarrafal " -
In: Tese de Doutoramento de Antónia Maria Gato Pinto, TARRAFAL: RESISTIR COMO PROMESSA - O poder de transformar uma experiência de opressão numa história de grandeza. In: file:///C:/Users/Utilizador/Downloads/CCT.pdf
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Por Diana Cortez:
"Manuel Francisco Rodrigues era meu vizinho. Tinha uma sala cheia de livros, tantos que chegavam ao tecto. Estava cego, já não os lia... Passava os dias de sol no quintal, à sombra da japoneira e os restantes em casa a ouvir música clássica. Às vezes pedia-me que lhe lesse. Eu não entendia o que lhe lia, muito menos porque sorria quando me ouvia. Diziam ser muito inteligente mas eu não sabia porquê.
Hoje sei que era filósofo, poeta, professor e escritor, cujo pseudónimo era Oryam.
Foi perseguido por ser inteligente e ter ideais anti-fascistas, esteve detido em vários lugares, entre eles, o campo de concentração Tarrafal, onde terá vivido dias de terror."

3. Outras publicações
O Cântico de Oryam, Colecção Oryam (Nº 2) Editora: Edição do Autor, 1ª Edição, 1957, Porto – Imprensa Social Secção da Coop. do Povo Portuense.
A Ideia Venceu a Morte, Colecção Oryam (Nº 3). Edição do Autor, 1ª Edição, 1958, Porto – Tip. J. R. Gonçalves, Limitada.
Socialismo em Liberdade, 1ª ed ,1975

Notas:
(1) Chegaram ao Tarrafal sucessivas levas de presos. As primeiras ocorreram em 1936 (151 deportados) e em 1937 (57 deportados). Mais tarde, à medida que a II Guerra Mundial foi evoluindo favoravelmente para os Aliados, decresceram os números da deportação. Na sua maioria, esses presos ultrapassaram largamente as penas a que tinham sido condenados; e, por vezes, nem sequer eram julgados, funcionando o campo como um desterro sem lei, isto é, de acordo com as leis fascistas de Salazar. Em 1939 verificam-se as primeiras saídas do campo, esporádicas, mas só em 1944 se regista um movimento significativo de libertações, cerca de uma trintena. O campo, aberto em Outubro de 1936, seria fechado em 1954. Foram 36 os prisioneiros políticos que morreram no Tarrafal: 32 portugueses, 2 angolanos e 2 guineenses. Os restos mortais dos portugueses só depois do 25 de Abril puderam voltar à pátria: Em 1961, o Ministro do Ultramar Adriano Moreira reabre-o para nacionalistas africanos, com a designação de Campo de Trabalho de Chão Bom.
(2) Excertos da sua obra "Tarrafal aldeia da morte":
«Quando os primeiros deportados chegaram, encontraram pedregulhos, vento, calor e mosquitos. Então ainda não havia as casernas, nem o «Posto de Socorros», nem a cozinha, nem as oficinas. Tudo isso se fez depois. O que havia já era o arame farpado e a água do poço. Fizeram umas toscas barracas de lona e, passados alguns meses, morreram os primeiros oito reclusos... Só num dia morreram três... depois mais três... e mais dois... Os cadáveres foram transportados a pau e corda para o cemitério. Então ainda não havia o luxo da camioneta. (,,) Depois, abriu-se a pedreira e mandou-se fazer uma marreta que pesava uma arroba. Sob os raios quentíssimos do sol, os forçados arrancavam e transportavam a pedra e, em longa e interminável fileira custodiada por soldados negros, acarretavam a água do poço para as necessidades do povo da aldeia. Quando um escravo caía, vítima do paludismo mortífero, outro era imediatamente escolhido para o substituir. E, depois, como se tudo isso não bastasse, construíu-se a célebre «Frigideira»...isto é: -a antecâmara do cemitério. A «Frigideira» é um bloco de cimento, dentro do qual há um orifício onde emparedam os reclusos que caem na desgraça de não agradar aos que estabelecem as ordens.
(…) Sob a acção do sol, a temperatura vai subindo dentro do buraco... sobe... sobe... sobe!... O desgraçado ou desgraçados que lá estão vão suando... suando... até ficarem cozidos e depois assados. É claro que, submetidos a esse tratamento, morrem muito mais depressa, sobretudo quando o ingresso no buraco se faz ao som das chicotadas do cavalo- marinho rasgando as costas dos condenado, às quais se seguem os consagrados rigores do jejum periódico forçado.»
(3) Catalogado na Livraria Fernando Sanos em Filosofia, em 244 páginas e com a descrição: «10.000 kms através da Europa. – A aldeia vegetariano-tolstoiana de Orienburg. – A lição dos Três Profetas na maravilha nevada do Wildhorn sobre o Homem e o Universo. – O país do sol da meia-noite, o acampamento de Krishnamurti e o ocaso de Viena de Áustria. – Franz Korscnher e Stefan Zweig. – A Academia de Estudos filosóficos fundada por Anakreon no oásis grego de Zágora».
(4) «Quando o conheci era um velho no limite da resistência humana, deixara em vários cativeiros o vigor, a força e a vontade férrea que sempre o tinham animado. (…) Da vida que dedicou à Paz no mundo restam apenas, além dos seus livros, recordações mais ou menos vagas daqueles que o conheceram. (…) Se continuarmos assim, esquecendo ou minimizando, de ânimo leve, Homens de tal envergadura, o “dia em que soará na terra a hora da fraternidade, da Paz justa e sincera” estará cada vez mais longe e, em breve, estaremos de novo envoltos nessa paz podre e vergonhosa de que tão dificilmente nos libertámos» - Sílvia Barata Gonçalves da Silva (Rio Tinto) em “Tribuna Livre”, 27 Maio 1979.
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Fontes:
- ANTT Registo Geral dos Presos nº 12946
https://www.livrariafernandosantos.com/.../memorias-de.../
http://im-parcial.blogspot.com/.../tarrafal-aldeia-da...
https://seculopassadolivros.com/.../a-ideia-venceu-a.../
http://media.diariocoimbra.pt/.../55b02a81-e5dc-469e-9676...;
https://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=4820829
- Tribuna Livre (secção de jornal não identificado) – artigo de Sílvia Barata Gonçalves da Siva, em homenagem a Manuel Francisco Rodrigues
- Correspondência de MFR com leitores das suas obras.
Informações da filha, Lucília Dias Rodrigues, Diana Cortez e da investigadora Antónia Gato Pinto. 

aqui: https://www.facebook.com/FascismoNuncaMais/photos/a.559109110865139/2332024566906909/

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09
Jan23

(memória libertária) As faixas da Casa Viva, no Porto, e a repressão policial


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No dia 20 de dezembro de 2008, dia internacional de solidariedade com os jovens gregos em revolta, depois do assassinato pela polícia grega do jovem anarquista de 15 anos, Alexandros Grigoropoulos (Alexis), o Centro Social Casa Viva (março de 2006 a maio de 2015), um espaço autogestionado na Praça Marquês de Pombal, no Porto, decidiu colocar uma faixa no prédio que ocupava denunciando a actuação da policia grega.  Na altura foi distribuído um comunicado à população (O espectro da liberdade surge sempre com uma faca nos dentes) a explicar o sentido da faixa. Duas semanas depois, a 5 de Janeiro, os Bombeiros Sapadores do Porto, chamados pela PSP, retiraram a faixa, e foi levantado um auto de apreensão.

Dias depois a Casa Viva reagia com um comunicado em que denunciava a actuação da polícia e das autoridades e em que se alertava para a, cada vez maior, violência exercida contra qualquer dissidência: "Os processos de intimidação à divergência apertam-se. Espera-se que o medo de qualquer coisa, independentemente do que seja, impeça as pessoas de se manifestarem, de exporem opiniões, de se levantarem perante as injustiças dos poderosos. Depois de visitas policiais à Casa em dias de reuniões, depois de visitas regulares ao blog, veio o roubo/apreensão da faixa, um processo-crime sobre “os responsáveis pela faixa”, o reconhecimento policial de que já estamos todos fichados e as ameaças de que, ou atinamos, ou nos fecham a Casa e nos mandam de saco, por causa da questão da propriedade, aliás, por causa das drogas, aliás por qualquer coisa que lhes apeteça." (aqui)

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Mas a tensão entre as autoridades locais e os activistas da Casa Viva devido às faixas não  ficou por aqui. Cinco anos depois, para assinalar o 1º de maio de 2014 decidiram colocar uma faixa, na frontaria do edificio, criticando a escravidão do trabalho assalariado. A frase escolhida foi: "SER ESCRAVA PARA SOBREVIVER, IDE-VOS FODER!".

No dia 2 de Maio, sem que qualquer uma das ocupantes da casa estivesse presente, numa acção conjunta,  a PSP,  Polícia Municipal e Sapadores do Porto retiraram a faixa, sem qualquer explicação. A Casa Viva reagiu com um comunicado em que reivindicava o direito a cada um usar a fachada das suas casas como muito bem entendesse, " já muito bem pago pelos impostos (IMI) no direito de habitar!" (aqui)

Video relacionado: https://youtu.be/XclwwxL5Ql0

 

06
Nov22

Livraria Utopia: Quarenta Anos à Margem


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Entrevista a Manuel Ricardo de Sousa e Herculano Lapa

Esta micro-história da livraria Utopia, um facto absolutamente marginal e periférico, só comprova que algumas coisas podem acontecer, e acontecem, nos interstícios do Sistema sem terem sequer, e muitas vezes não querendo ter, visibilidade, mesmo que nesta sociedade contemporânea haja a pretensão totalitária de só legitimar como existente o que se deixa ver.
 

A Utopia cumpre agora 40 anos, muito tempo e muitas histórias. Contem-nos um pouco como chegaram as vossas vidas à formação da Utopia, e em que ambiente foi possível germinar um projecto de afinidades libertárias num momento histórico dominado ainda por tendências autoritárias da esquerda?

Manuel Ricardo de Sousa – A ideia de abrir uma livraria alternativa no Porto, numa época em que outras já tinham encerrado, como a Erva Daninha e a Contra-a-Corrente, deve-se em parte ao facto de ter rompido com as FP25 e termos decidido, eu e a minha companheira, mudar-nos para o Porto, onde já tinha relações com companheiros anarquistas de Vila do Conde. Também influenciou o facto de estarmos ligados à histórica editora Centelha, de Coimbra, onde na época editámos livros como A Europa da Repressão ou a Insegurança do Estado, Uma Campanha de Salubridade de Júlio Carrapato e A Anarquia Perante os Tribunais de Pietro Gori, em grande parte sustentada pelo entusiasmo militante do advogado e cooperativista Sobral Martins. Curiosamente nessa pequena vila de pescadores surgira um activo núcleo de libertários resultante das relações dos irmãos Veiga (Joaquim, recentemente falecido, e Armando, um dos organizadores dos acampamentos anarquistas em Izeda). Após Joaquim se ter exilado em França, através dele começaram a chegar as ideias anarquistas a jovens trabalhadores da vila, o que gerou esse núcleo que apareceu após o 25 de Abril e nunca desapareceu, ao contrário do que ocorreu noutras cidades. Foi com esses companheiros que em grande medida se desenvolveu a ideia da livraria Utopia e vários deles estiveram envolvidos nas obras de adaptação do espaço. Quem também colaborou foi o Karpov, que conhecia do Grupo Anti-militarista e Ecológico da AAC e do activismo anarquista em Coimbra, e que nesse momento estava a tirar no Porto um curso de formação profissional de pedreiro. Quando abrimos já o ambiente radical da cidade estava em desagregação, na ressaca da estabilização política, e diversos militantes que tinham participado em grupos de extrema-esquerda, em particular do «Grito do Povo», que teve relevância no Porto e no Norte no pós-25 de Abril, tinham rompido com o leninismo, alguns aproximando-se de posições libertárias

À volta da Utopia acabou por reunir-se um grupo diverso de pessoas. Que projectos, actividades e publicações nasceram entre aquelas estantes repletas de livros? 

MRS – Sendo um espaço um pouco periférico na geografia comercial — e sendo reduzido o ambiente libertário e alternativo da cidade, como o é ainda hoje — que já estava vendida à lógica da reestruturação capitalista, e com a militância esquerdista a reciclar-se, a vida não era fácil para uma livraria como a Utopia. Também não tínhamos espaço para actividades, exceptuando pequenos encontros de algumas pessoas, mas fomos resistindo — quer como Utopia, quer como Grupo Germinal de Vila do Conde, que era constituído pelo Lano, Ramiro, Quim, Gena e eu — acompanhando as iniciativas dos grupos libertários, principalmente dos companheiros de Coimbra e Leiria, os encontros, campanhas, conferências, acampamentos que se foram realizando. Um pouco à margem do que se passava em Lisboa, com todos os seus conflitos, onde só íamos irregularmente e com pouso certo na Bica, na casa do velho peixeiro e anarquista heterodoxo Zé de Brito. Na Utopia começaram a aparecer, aos poucos, alguns companheiros com os quais não tínhamos ainda contacto regular como o Paiva, a Fany, o António, o agitador da contracultura tripeira, e o restante grupo da Rádio Caos, o Alvão e o Figueiredo, entre outros, além dos curiosos clientes de livros usados, que são uma fauna muito particular que frequenta esses espaços e sente ao longe o cheiro de livro velho. Não havia muitos livros mas tínhamos os suficientes, além das publicações anarquistas da época e fanzines, que marcavam a diferença…

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Manifesto do grupo Anarquista”O Geminal” de Vila do Conde, onde após o 25 de Abril surgiu um activo núcleo de libertários no qual viria a desenvolver-se a ideia de abertura da livraria Utopia.

Tendo a Utopia sido inaugurada no período de normalização democrática e entrada na sociedade de consumo, mas onde a luta armada ainda era uma realidade na luta anti-capitalista tanto em Portugal como em Espanha, de que forma o colectivo de pessoas que girava à volta da Utopia, foi fundamental no apoio a companheiros e companheiras que mantinham actividades ilegais?
 
MRS – É necessário ter presente que ainda não tinha ocorrido todo o processo de «normalização» política, nem sequer a sociedade de consumo estava ainda instalada, só com a adesão à CEE esse ciclo se começa a fechar no final dos anos 80, início dos 90. Mantínhamos então contactos frequentes com companheiros do estado espanhol e foi através deles que mais tarde, Luís Andrés Edo, um histórico militante anarquista catalão do pós-guerra, já falecido, nos faria chegar o pedido de apoio a companheiros libertários em fuga. Pela Utopia passariam, entre outros, Alberto e Conchita, ele escapado da prisão numa das mais espectaculares e curiosas fugas ocorridas em Espanha nos anos 80, quando trocou de lugar na prisão com o seu irmão gémeo. Acabariam indo para a Nicarágua e para o México, só voltando à Catalunha muitos anos mais tarde. Esses companheiros e outros ligados aos Comandos Autónomas Anti-Capitalistas, bem como à COPEL, o Manolo e a Iza, que eram maioritariamente libertários, mas à margem das organizações históricas CNT/FAI, seriam alguns dos que foram apoiados nessa rede ilegal e informal de afinidades libertárias. Mas também companheiros portugueses com problemas legais. Foi nessa época que conheci, nas idas a Espanha e a França, entre outros, Abraham Guillén, Octávio Alberola, Ariane Gransac, António Tellez, Abel Paz, activos militantes espanhóis da geração pós-Guerra Civil envolvidos na resistência anti-franquista. Era a geração de «transição», embora muito ligada ainda à Guerra Civil, mas que tinha após os anos 60 tentado através das Juventudes Libertárias e da acção directa, dar uma nova vida ao activismo revolucionário anarquista. Activismo que continuou, ainda pelos anos 70, com diversos grupos em Espanha, França e Itália, e que obviamente ainda se prolongou na geração seguinte.

Como se dá já nos anos 80 a tua saída da Utopia e o Lano assume a responsabilidade da livraria?
 
MRS – Pelas razões já referidas do meu envolvimento na fase inicial das FP 25, assunto sobre o qual já escrevi e não vale a pena aprofundar, e a passagem de diversos companheiros com problemas legais pelo nosso espaço, mas principalmente pela denúncia de um bufo, a Utopia foi colocada sob observação pelos homens da DCCB. Quando se tornou evidente essa vigilância e que a qualquer momento iriam ocorrer prisões, eu e a minha companheira abandonámos a livraria e a cidade. Mas, apesar de tudo, era importante que a livraria continuasse a funcionar independentemente deste acidente de percurso. Herculano que desde sempre era um trabalhador assalariado com pouca vontade de o ser, mostrou-se disponível para assumir a Utopia até porque a polícia nunca teve nada de concreto contra a livraria para lá do cheiro a esturro que o seu faro apurado sempre é capaz de detectar. Por sorte nossa, e azar deles, também não nos conseguiu então prender pelo que o máximo que podiam fazer era manter a livraria sob vigilância e escutas. Tudo ficou na obscuridade do jogo do rato e do gato, não chegando ao espectáculo jornalístico. Mais tarde, ocorreria a minha prisão, mas já em Coimbra, e logo em seguida, a fuga colectiva da EPL. Após isso nos meses seguintes sabendo que as opções eram escassas neste pequeno país, e que mais dia, menos dia, iria voltar a ser preso, decidimos sair para o estrangeiro. Antes disso tivemos um encontro com os companheiros de Vila do Conde em que discutimos com o Herculano a continuidade da livraria pois sabia que pelo menos por dez ou quinze anos, na melhor das hipóteses, não poderia voltar a viver em Portugal. É a partir daí que o Herculano assume integralmente os rumos desse espaço alternativo do Porto demonstrando uma capacidade de resistência notável nas décadas seguintes, conseguindo fazer sobreviver a Utopia a todas as adversidades sociais, económicas e livreiras. Mesmo sabendo que teria uma vida mais tranquila, e acomodada, na condição de predestinado à vida de assalariado.

 Nos anos seguintes quais foram as principais actividades na área libertária em que a Utopia esteve envolvida? Quais foram as relações com os grupos jovens informais que publicavam fanzines e com o colectivo Inquietação do Porto e com a revista Utopia? 

Herculano Lapa – Quando fiquei na Utopia, os contactos regulares foram ainda com as pessoas ligadas à Rádio Caos, que emitia a partir da Praça da República aqui ao lado da Utopia. Nesta rádio, que vivia em plena autogestão até ao momento em que foi silenciada pela lei do audiovisual, foi possível participar com estreita colaboração em programas, através de entrevistas, partilha de livros e revistas, alguns deles emitidos a partir da Utopia. No campo das edições continuamos continuámos a colaborar com a Centelha/Fora do Texto, nesse período pertenciam também ao colectivo da Centelha, o Chico, o Karpov e o Zé Tavares,  até ao seu desaparecimento com a morte de Sobral Martins. Foram editados nesse período livros como À Tribo dos Irrecuperáveis, Guerrilha no Asfalto e A Resistência do Índio à Dominação do Brasil, um livro de Jorge Valadas e outro do João Bernardo para falar de alguns dos mais interessantes. Uma das apresentações interessantes que fizemos foi o de uma nova edição do Discurso sobre o Filho da Puta de Alberto Pimenta, que o autor dedicou à URSS-EUA e foi um momento marcante, como sempre acontecia com as perfomances do Pimenta. A publicação de fanzines de música, pequenos contos, poesia e política, fazia aparecer ainda alguns jovens com curiosidade e gosto pela leitura dessas publicações, um dos quais, o Noé, passou a colaborar regularmente com a livraria. Num período tivemos também discos e cassetes de música punk e literatura libertária vinda de Inglaterra e Estados Unidos, que o João encomendava para distribuir  na sua distribuidora, Confronto. No final dos anos 80 foi possível com jovens companheiros libertários, organizar debates contra as comemorações dos «descobrimentos», onde denunciámos o roubo e massacre das populações indígenas e o tráfico de escravos, todo o lado sombrio da nossa história. Nesta campanha contra a expansão portuguesa, colaboramos com o MAR – movimento anti-racista, anticolonialista, antí-nacionalista, e distribuímos o seu Boletim que denunciava a história colonial portuguesa. Com o César Figueiredo e o Germinal organizámos uma exposição de Mail Art internacional, que esteve em exposição em Vila do Conde onde se debateu «os encobrimentos», com a colaboração do Júlio Henriques, também companheiro nosso na Centelha, que agora edita a revista Flauta de Luz. Com o Paiva fui participando em diferentes actividades sobre o anarquismo; com o Luis Chambel participei no Inquietação. Este colectivo que durou mais de uma década era composto por algumas pessoas mais próximas da extrema-esquerda mas também alguns libertários, lembro do Rui Ribeiro agora editor em Lisboa e o Paulo Esperança, nessa altura os debates mais apaixonantes foram a desmontar as eleições e o vanguardismo como herança do marxismo-leninismo! Destas experiências nasceram as Jornadas Libertárias do Porto e as Feiras do Livro Anarquistas na cidade.

Uma campanha de salubridade de Júlio Carrapato, A anarquia perante os tribunais de Pietro Gori e Resistência do índio à dominação do Brasil de Luiz Luna, são algumas das ediçōes da Centelha/Fora de Texto, uma editora intimamente ligada à livraria Utopia.

Houve encontros e tentativas associativas dos meios libertários nesse período?

HL – Nos finais dos 80 e no começo dos anos 90 foram-se criando condições para uma  maior aproximação e cooperação nos meios libertários em Portugal, superando alguns problemas da década anterior, talvez porque começava a ficar claro a pouca actividade individual e dos grupos dos anos anteriores. Foi assim que  nasceu a Associação Cultural a Vida, da qual fui um dos fundadores, em 1995, que editou a Revista Utopia até e reuniu companheiros provenientes de diversos grupos e publicações da geração pós-25 de Abril, constituindo o colectivo mais diversificado que até então se tinha reunido. Com o Germinal distribuímos a revista pelo norte do país, com a associação participei no Acampamento Libertário de Izeda em 1997, onde mais uma vez o Armando Veiga foi fundamental, e que teve uma participação significativa. Esta iniciativa chegou a ter destaque mediático. Foi pena que o impulso resultante desse acampamento, onde surgiram novos companheiros e companheiras, não tenha sido aproveitado pelo movimento libertário para se consolidar no aspecto associativo.

Como conseguiu a Utopia sobreviver nesta fase recente, com a crise geral na área do livro e a pressão da turistificação da cidade do Porto. E como tem participado — ou se tem relacionado — com as diversas lutas que têm surgido nos últimos anos na cidade?

HL –  A certa altura pensava-se que os meios digitais iriam liquidar o livro impresso e pôr fim à importância do livro, mas isso não veio a acontecer, pelo menos da forma que alguns imaginavam. O livro em papel continua, apesar de tudo, a ter uma relevante função cultural e, hoje, com pouco dinheiro podem encontrar-se obras interessantes nas livraria e alfarrabistas! No entanto, o maior problema das livrarias independentes, principalmente das alternativas como a Utopia, continua a ser conseguir que os leitores as continuem a frequentar, em vez de comprarem livros nas grandes cadeias e nas «Amazons»…
No que se refere ao impacto do turismo, basicamente tem estado a retirar as pessoas da cidade, a pandemia abrandou essa vertigem especulativa, mas os próximos anos vão indicar para onde caminhamos. Se tudo se vier a acentuar, as cidades como o Porto e Lisboa, vão ficar para as classes média e alta portuguesa e estrangeira, afastando os cidadãos comuns das cidades, principalmente os jovens e os velhos. Por isso mesmo as lutas pela habitação e em defesa do direito à cidade são das que estão mais na ordem do dia neste país, principalmente se integradas na crítica às ideias dominantes de desenvolvimento e progresso.
É necessário referir que apesar de tudo foram aparecendo diversos espaços de afinidade libertária na cidade, do Terra Viva, dedicado há muitos anos à ecologia social, à Casa Viva, já desaparecida, espaço ocupado autogestionário, onde se fez um dos últimos grandes encontros libertários, ao Musas e ao Gato Vadio, cada um com a sua forma e filosofia própria. Não esquecendo os mais recentes com a Gralha e o Maldatesta ou experiências únicas na sua mobilização como a da Es.col.A da Fontinha.
Mas a Utopia manteve-se como o único espaço exclusivamente livreiro, evidentemente falando do Porto, em Coimbra e depois em Lisboa o Zé Tavares teve a Crise Luxuosa, com todas as dificuldades associadas a esse facto. Termino dizendo que não sei quantos mais anos a Utopia irá sobreviver mas até lá reafirmo que é um espaço aberto a todos os leitores, principalmente aos que connosco têm mais afinidades, aqui sempre poderão trocar ideias e comprar algum livro que não irão encontrar nas grandes livrarias comerciais…

 

Artigo publicado no JornalMapa, edição #34, Maio|Julho 2022.

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Out21

18 DE JANEIRO DE 1934 ASSINALADO NO PORTO 79 ANOS DEPOIS


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Alguns textos: Irene Pimentel: 18 de Janeiro de 1934

 Paulo Guimarães:  Cercados e Perseguidos: a Confederação Geral do  Trabalho (CGT) nos últimos anos do sindicalismo  revolucionário em Portugal (1926-1938)

 Maria de Fátima Patriarca: O «18 de Janeiro»: uma proposta de releitura

18Forças de infantaria ocupam a Marinha Grande

11 (1)Largo da Marinha Grande ocupado pelas  forças repressivas

12 (2)Alguns dos operários detidos na Marinha Grande

embarquePresos  do 18 de Janeiro, a caminho da prisão em Angra do Heroísmo (a bordo do Carvalho Araújo).

CarvAraujoEmbarque dos insurrectos do 18 de Janeiro (entre os quais muitos anarquistas e anarco-sindicalistas, nomeadamente o coordenador da CGT e director da “Batalha”, Mário Castelhano) com  destino aos Açores (Angra do Heroísmo)

familiaFamilias dos presos da Marinha Grande numa manifestação junto ao Governo Civil de Leiria, em 1935, pedindo a sua libertação

aqui: https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2013/01/14/movimento-de-18-de-janeiro-de-1934-assinalado-no-porto-esta-sexta-feira/

 

19
Out21

ANIVERSÁRIO DOS 91 ANOS DA AIT ASSINALADO NO PORTO A 5 E 6 DE JANEIRO DE 2013


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Os 91 anos da Associação internacional de Trabalhadores (AIT) vão ser assinalado no Porto este fim de semana. A iniciativa é do Sindicato de Oficios Vários, da Secção Portuguesa da AIT.

No sábado, dia 5 de Janeiro  haverá na Casa Viva , às 15h. uma “Perfomance Tecnorevolucionária” e no domingo, 6 de Janeiro, no Terra Viva, às 15h. – “Palestra: AIT, história e actualidade”.