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Memória Libertária

Documentos e Memórias da História do Movimento Libertário, Anarquista e Anarcosindicalista em Portugal

Documentos e Memórias da História do Movimento Libertário, Anarquista e Anarcosindicalista em Portugal

Memória Libertária

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Nov22

José António Machado, corticeiro, tipógrafo, jornalista: um percurso exemplar de lutador anarquista por uma sociedade sem exploração nem opressão


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José António Machado (1915-1978), de origem operária, depois tipógrafo e jornalista, foi um dos militantes libertários que permitiram a existência de “A Batalha” clandestina, bem como de outra propaganda anarquista e anarco-sindicalista durante os tempos da ditadura.

Filho de Ana José Camacho Machado e de Artur António Machado, nasceu em 25 de Junho de 1915, no Barreiro. Começou a trabalhar aos 16 anos na indústria corticeira no Barreiro, vindo depois para Lisboa como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Nacional.

Autodidacta, dedicou-se ao estudo e difusão do esperanto e dos ideais libertários. Fez parte do grupo anarquista do Barreiro “Terra e Liberdade”, que na altura publicava um jornal com o mesmo nome.

Embora muito jovem e aparentando alguma debilidade física (daí ser conhecido como o  “Machadinho”) integrou a organização anarco-sindicalista do Barreiro e fez parte do comité organizador das Juventudes Libertárias juntamente com Emídio Santana, que seria um dos responsáveis pelo atentado a António de Oliveira Salazar em 1937.

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Em Lisboa frequentou a Casa dos Marinheiros, onde funcionava o Grupo Editorial Argonauta, e trabalhava já na Imprensa Nacional de Lisboa, como aprendiz de tipógrafo,  quando  foi preso pela primeira vez pela PVDE, em 1934 (1933?), acusado de envolvimento na Aliança Libertária de Lisboa e de ter composto e impresso manifestos subversivos (e também os jornais A Batalha, órgão da CGT, proibido desde Maio de 1927, e O Libertário, porta-voz da Federação das Juventudes Libertárias) na tipografia clandestina que mantinha em casa.  Foi julgado e condenado em Tribunal Militar Especial, em 9/5/1934 a “uma pena de 10.800$00 de multa que não sendo paga no prazo legal será convertida em 18 meses de prisão correcional e perda de direitos políticos por 5 anos a partir da data em que atingir a maioridade” (na altura tinha 18 anos) . Da ficha policial, como motivo da prisão, consta apenas: Anarquista. 

Deu entrada no Aljube em 19/12/1934, sendo daqui transferido para Peniche em 19/2/1935 e, depois, para Angra do Heroísmo em  8/6/1935. Foi restituído à liberdade em 7/1/1936, tendo nessa data regressado a Lisboa. Em Peniche, foi o idealizador de O Libertário, um jornal manuscrito, que se fazia na prisão, revela Edgar Rodrigues,  “um esforço que se perdeu por ter boa parte dos jornais caído nas mãos da PIDE”

José António Machado foi preso novamente alguns meses depois em 22/7/1936, alegadamente por “por se referir publicamente e de forma desfavorável aos nacionalistas e Exército espanhóis, sendo libertado em agosto (1/8/1936)”.  Foi preso novamente em 8/10/1937, para “averiguações”, com a policia a tentar incriminá-lo como estando envolvido no atentado a Salazar. Recolheu “incomunicável a uma esquadra” e “transferido para a 1ª Esquadra em 27/4/1938. Baixou em 12/6/1938 ao Hospital de São José”.

Fugiu em 20/11/1938 do Hospital de Santo António dos Capuchos, tendo sido julgado à revelia em 11/11/39 e condenado a uma pena de 4 anos de prisão.

Durante este período, em liberdade, continua a apoiar as edições e a imprensa clandestina, sobretudo, A Batalha, dada a sua experiência como tipógrafo.

Perseguido pela polícia refugia-se em Coimbra onde começa a trabalhar no “Diário de Coimbra” onde assina com o nome de José Ferreira Graça, como a partir daí começa a ser conhecido. A própria ficha policial ostenta os dois nomes: José António Machado ou José Ferreira Graça.

É preso em Coimbra (*) , na redacção do “Diário de Coimbra” a 18/5/1942, com um mandato de captura emitido pelo Tribunal Militar Especial, “tendo recolhido aos calabouços da PSP naquela cidade”. Esteve preso no Aljube entre 21/5/1942 e transferido para Caxias em 4/6/1942 e posteriormente, a 5/12/1942 para Peniche.

Apesar de ter requerido novo julgamento - que acontece em 2/12/1942 e em que é absolvido -  a “volta” de José António Machado pelas prisões do fascismo não fica por aqui: em 30/11/1942 é transferido para o Aljube e em 16/12/1942 para Caxias. É posto em liberdade a 12/2/1943.

Em liberdade regressa a Lisboa, continuando a actividade jornalística, agora na  redacção do “Jornal do Comércio” – onde trabalhará até ao fim da vida, atingindo o cargo de chefe de redacção - e apoiando ao mesmo tempo as tipografias clandestinas libertárias, que se foram sucedendo no tempo em vários locais, fosse ao nível da escrita, fosse ao nível dos caracteres tipográficos a que tinha acesso no jornal em que trabalhava.

Pertenceu ao “núcleo duro” que manteve a chama e a propaganda anarquistas durante os anos da ditadura, em conjunto com Emídio SantanaMoisés da Silva RamosAcácio Tomás AquinoCustódio da CostaFrancisco Quintal,  Lígia Oliveira, Luísa Adão e muitos outros, embora também, no plano legal, tenha subscrito diversos abaixo-assinados de protesto contra a ditadura. Segundo a sua biogradia inserida na página da Imprensa Nacional, José António Machado subscreveu "a representação «Os Intelectuais Portugueses Protestam» (novembro de 1946), juntamente com dezenas de figuras como Adolfo Casais Monteiro ou Miguel Torga, contra a censura; assinou uma exposição que pedia o arquivamento do processo aberto a Aquilino Ribeiro devido ao livro Quando os Lobos Uivam  (abril de 1959), enquanto redator-jornalista do Jornal do Comércio (1962); subscreveu, em 8 de novembro de 1966, juntamente com mais 117 personalidades, um abaixo-assinado onde se exigia a demissão de Salazar, a dissolução da Assembleia Nacional e a nomeação de um governo de transição; assinou como «José António Machado, jornalista» a representação dirigida aos Deputados e ao Presidente da Assembleia Nacional preparada por Mário Soares, António Macedo, Francisco Sousa Tavares, Francisco Lino Neto, Raúl Rego, Francisco Salgado Zenha, Urbano Tavares Rodrigues e Gustavo Soromenho, de 6 de novembro de 1967, contra a censura e ausência de liberdade de expressão; assinou o abaixo-assinado dirigido ao Presidente da República contra «os atos de arbitrária violência a coberto de pretextos inaceitáveis» sobre Luís de Sttau Monteiro, preso em Caxias por ser autor do livro Peças em um acto."

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Muito activo também no pós 25 de Abril de 1974, colaborou no reaparecimento de A Batalha legal.

José António Machado, conhecido nos círculos próximos, com amizade, como o “Machadinho”, depois de na clandestinidade ter sido o “Graça”, morreu a 18 de Março de 1978, na sequência de uma operação e após uma doença prolongada, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.

José Francisco, seu companheiro de militância, refere num artigo necrológico sobre José António Machado, publicado na "Voz Anarquista" (nº 30) que, pouco antes de morrer, ainda “era em sua casa que fazia a revisão e a paginação do jornal [A Batalha], no qual colaborou, desde a composição à impressão e desta à sua distribuição e afixação na rua, durante a clandestinidade”, acrescentando que “resistente até ao fim da sua vida, com 62 anos, foi a enterrar na terra onde tinha nascido – Barreiro”.

(*) Segundo informação recolhida por João Freire, a prisão ter-se-à dado depois do próprio José António Machado, farto dos anos de vida clandestina, a ocultar-se das autoridades e impossibilitado de manter os laços e os contactos habituais, se ter, ele próprio, "denunciado" à polícia, facilitando a sua detenção.

Fontes

Edgar Rodrigues, “A oposição libertária em Portugal”, Editora Sementeira, Lisboa, 1982 pag. 196

“José António Machado, um dos obreiros da Batalha clandestina” https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2016/09/29/memoria-libertaria-jose-antonio-machado-graca-um-dos-obreiros-d-a-batalha-clandestina/

José Francisco, “Morreu José António Machado, companheiro que foi um exemplo”, Jornal Voz anarquista, nº 30  .

Lista de presos de Peniche http://www.urap.pt/attachments/article/530/ListaPresosPoliticosFortalezaPeniche_16MAR2014.pdf

MACHADO, José António, https://imprensanacional.pt/history-heritage/machado-jose-antonio/

Transferido de Peniche para o Aljube https://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=4368040

De Peniche segue para Angra do Heroismo.  https://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=4368069

https://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=4368069

Regressa a Lisboa https://digitarq.arquivos.pt/details?id=4363153

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