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Memória Libertária

Documentos e Memórias da História do Movimento Libertário, Anarquista e Anarcosindicalista em Portugal

Documentos e Memórias da História do Movimento Libertário, Anarquista e Anarcosindicalista em Portugal

Memória Libertária

21
Out21

AIT/SP: SOBRE A CARGA POLICIAL EM SÃO BENTO DURANTE A GREVE GERAL


No dia 14 de Novembro, na maior manifestação em dia de greve geral, os chefes da polícia, o ministro da administração interna e outros políticos tentaram justificar a carga policial sobre os manifestantes em São Bento, dizendo que as “forças de segurança” tinham sido muito tolerantes porque durante mais de uma hora “com serenidade e firmeza” levaram com pedras e garrafas atiradas por “meia dúzia de profissionais da provocação”.

Houve várias pessoas a atirar pedras e outros objectos ao cordão policial que defendia o Parlamento e não só eram bem mais do que meia dúzia, como muitos outros permaneceram por ali bastante tempo, sem arredar pé.

Também é verdade que houve uma carga violentíssima sobre os manifestantes, homens, mulheres, idosos, crianças, tudo o que se mexia foi varrido, atirado ao chão, ameaçado com gritos e balas de borracha. Houve ainda uma perseguição por várias ruas, onde se prenderam pessoas indiscriminadamente. Dezenas de pessoas foram identificadas sem saberem porquê. Nas esquadras não lhes foi dada a possibilidade de falar com um advogado, ir ao wc ou até de receber assistência médica.

Sobre a repressão policial temos apenas a dizer o seguinte: violência não é atirar pedras contra o corpo de intervenção, protegido com os seus fatos especiais, capacetes, escudos, cassetetes e armas. Violência não é a revolta de quem trabalha e não tem dinheiro suficiente para viver, de quem nem trabalho tem e desespera à procura, de quem passa fome, dos idosos que vêem as suas pensões reduzidas, de quem não explora ninguém e vive uma vida inteira a ser explorado pelos mesmos de sempre: políticos, banqueiros e empresários. Violência não é atacar a polícia quando esta defende o sistema ao qual pertence: o Estado, esse mesmo Estado que concedeu um aumento salarial de 10% para as forças de intervenção enquanto milhares de pessoas vivem em pobreza e outros para lá caminham.

Violência não é gritar palavrões contra os agentes policiais quando eles escolheram estar ali, especialmente os do corpo de intervenção. A polícia só existe para manter a ordem pública. E manter a ordem pública não é mais que evitar quaisquer acções que possam perturbar o sono dos ricos e poderosos.

Para nós violência é passar fome. Violência é 561 postos de trabalho serem destruídos todos os dias e 500 mil pessoas não terem qualquer apoio social. Violência é os 25 mais ricos de Portugal crescerem 17,8% em 2011 face ao ano anterior. Violência é passar toda a vida a trabalhar por um salário, apenas para sobreviver. Violência é ter de cumprir ordens sem nunca podermos ser nós a decidir como queremos viver. Violência são os ataques diários da polícia nos bairros sociais, violência é a detenção de imigrantes que procuram uma vida melhor, violência é prender pessoas por roubar algo para comer, violência é não poderes ir por ali porque está a Merkel a passar, não poderes ir por acolá porque é o parlamento onde se encontram seguros os governantes, não poderes passar porque simplesmente os polícias te gritam que tens de te ir embora se não queres levar um tiro. Violência foi a morte à queima roupa do Kuku na Amadora, os ataques da polícia contra os piquetes de greve, as balas de borracha numa manifestação no 1º de Maio em Setúbal, a carga brutal ontem em São Bento como em tantas outras situações. Que se desiludam aqueles que pensam que são as “pedradas” que causam alguma coisa, a violência policial em manifestações é uma constante, sobretudo se não houver televisões por perto a filmar.

A violência policial é a violência ordenada pelo sistema em que vivemos, em que uns têm tudo e outros sofrem na miséria. É a violência do Estado e do Capital. É a violência que irá crescer aqui em Portugal e em todos os lugares onde os governantes e os ricos tenham medo da revolta dos pobres.

Mas eles que não se esqueçam que não nos podem matar a todos. Não nos podem prender a todos. Haverá sempre quem resista. Quem volte. Com pedras ou sem pedras, haverá sempre quem lute contra os polícias armados, pois onde houver luta pela justiça e igualdade, haverá sempre cães de guarda a defender o dono.

Levamos um mundo novo nos nossos corações, e os golpes que nos desferem só nos fazem acreditar mais na justeza dos ideais e das formas de luta que defendemos.

Contra a repressão, solidariedade! Contra a exploração, acção directa!
Unidos e auto-organizados, nós damos-lhes a crise!

16/11/2012
Associação Internacional dos Trabalhadores – Secção Portuguesa
Núcleo de Lisboa
 
 
21
Out21

ANARQUISTAS PELA GREVE GERAL DE 14 DE NOVEMBRO


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(recebido com pedido de publicação)

A Greve Geral sempre foi considerada pelos anarquistas como um poderoso instrumento de luta e de combate. Numa altura em que todos nós, trabalhadores, desempregados, precários, estudantes, reformados, homens e mulheres de todas as idades, somos alvo de uma violenta afronta aos nossos direitos (dos salários aos subsídios sociais, da saúde ao corte nos direitos laborais, da educação à cultura) impõem-se, com renovada actualidade, formas de luta alargadas que mobilizem o maior número de explorados.

Apesar de críticos relativamente aos sindicatos do sistema – reformistas e colaboracionistas com o sistema político-partidário, sentados à mesa da concertação social, inundados de funcionários e de burocratas sindicais  –  e ao facto da greve geral do próximo dia 14 de Novembro estar a ser convocada mais como “um grito de protesto” do que uma afirmação clara de luta, consideramos que a alternativa aos cortes , à diminuição dos direitos laborais e à miséria só pode estar nas empresas, nas fábricas, nas ruas, no combate determinado de todos os explorados e oprimidos.

Por outro lado, ainda que os sindicatos da concertação social pretendam que esta greve assuma uma “dimensão nacional”, o facto de ter sido convocada simultaneamente em Portugal, Espanha e Itália faz com que a sua importância seja redobrada: a Europa dos explorados tem que se unir e fazer frente à Europa dos exploradores. Este é um primeiro sinal de que as palavras de ordem de protesto podem ser comuns e atravessar as fronteiras, encurralando o nacionalismo, que é o fomentador de todos os tipos de fascismo

Por isso, apesar de reconhecermos os limites e o carácter restrito desta Greve Geral, julgamos que dada a insatisfação reinante ela irá mobilizar muitas centenas de milhares de portugueses – e milhões de europeus – indignados e revoltados com a degradação das suas condições de vida e aspirando a uma nova organização social.

Nós preconizamos e lutamos por uma outra sociedade, de homens e mulheres livres e iguais, sem exploração nem opressão e sabemos qual o nosso lugar na sociedade: junto dos que sofrem e lutam.

Partimos, por isso, para esta Greve Geral com a convicção de que é nas empresas e nas ruas, nos bairros, que os anarquistas devem estar, divulgando as suas ideias, os seus modos de luta, a forma como se organizam.

Combatendo, de rosto aberto, as iniquidades, as injustiças, o medo e, ao mesmo tempo, denunciando os que, em nome dos trabalhadores, apenas pretendem criar-lhes novos jugos e novas submissões.

A acção directa, a sabotagem, a greve e a greve geral sempre foram os nossos instrumentos de luta. Ontem como hoje. Hoje como sempre.

Um grupo de anarquistas

Região Portuguesa,  Novembro de 2012

aqui; https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2012/11/09/anarquistas-pela-greve-geral-de-14-de-novembro/

21
Out21

GREVE GERAL IBÉRICA DE 14 DE NOVEMBRO: O SINDICALISMO NÃO É TODO O MESMO DE UM E DE OUTRO LADO DA FRONTEIRA


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“Levamos um mundo novo nos nossos corações” (Buenaventura Durruti)

A menos de duas semanas da greve geral ibérica (a que se juntou também uma das confederações sindicais italianas) é preciso salientar a diferença entre a organização sindical em Portugal e no Estado Espanhol. Em Portugal, por pressão do PCP e de sectores ligados à CGTP, logo a seguir ao 25 de Abril foi proibida a existência de outras centrais sindicais, por força da chamada “lei da unicidade sindical”. A própria UGT, criada por sindicalistas do PS e do PSD, tardou em aparecer – porque a existência de mais do que uma central sindical era ilegal. A lei foi alterada, mas o mal estava feito e o sindicalismo desacreditado e servindo de mera correia de transmissão dos partidos políticos. (Veja-se a promiscuidade da CGTP relativamente ao PCP ou da UGT em relação também ao PSD, mas sobretudo ao PS).

Em Espanha deu-se exactamente o contrário. O sindicalismo, que tinha sido uma das forças motoras da Revolução de 1936, com a CNT e a UGT, persistiu na clandestinidade e reforçou-se com o aparecimento das Comissiones Obreras, surgidas nas Astúrias após as greves mineiras dos anos 60. As CCOO foram inicialmente controladas pelo PCE, mas com a perda de influência deste partido transformaram-se numa central sindical heterogenea, cujas movimentações vão quase sempre a par e passo com as da UGT, ainda muito ligada ao PSOE. Este é o chamado “sindicalismo oficial”, mas para além dele existem várias centrais sindicais por todo o Estado Espanhol, sejam de âmbito estatal ou de âmbito regional.

No campo anarcosindicalista existem três centrais, cada uma delas com a sua especificidade. A CNT, a CGT, e a Solidaridad Obrera.

Em Espanha, a lei que rege os comités de empresa assenta numa espécie de parlamentarismo com eleição, nas empresas, dos representantes dos sindicatos, em listas próprias, um pouco como os deputados são eleitos para os vários parlamentos em listas partidárias.

A CNT, na altura, contestou este procedimento, dizendo que ele levava o parlamentarismo burguês para o mundo do trabalho e recusou-se a participar. Esta decisão motivou em 1979 uma cisão na CNT e alguns milhares de  militantes abandonaram a central sindical para formarem a CGT, que se transformou na terceira central sindical do país (depois das CCOO e da UGT,e que apresentou em conjunto com estas o pré-aviso para a greve de 14 de Novembro), com mais de 50 mil militantes e centenas de representantes sindicais por todo o país. Na actualidade as duas centrais sindicais – que se reclamam do anarcosindicalismo – têm efectuado diversas acções em comum e o seu relacionamento tem vindo a estreitar-se.

Solidaridad Obrerafoi fundada em 1990, e é uma pequena central sindical, reunindo alguns sindicatos, sediada sobretudo na Catalunha, em Alicante e na região de Madrid, com influência nalguns sectores como os transportes e que tem realizado diversas acções em comum com sindicatos alternativos de várias regiões do Estado Espanhol. Reclama-se igualmente do anarcosindicalismo.

No campo do sindicalismo revolucionário merece ainda destaque o Sindicato Andaluz de Trabalhadores (SAT), que reúne trabalhadores de diversas correntes, mas que utiliza métodos e práticas anarcosindicalistas, como a prática assemblearia, a acção directa, etc., confluindo muitas vezes em acções com a CNT, a CGT e a SO. Esta influência é mais visível ainda no seu sindicato agrícola – o SOC (Sindicato dos Operários do Campo) – onde as referências e a militância anarcosindicalista são muito fortes.(O SOC ocupou há alguns meses uma grande propriedade na Andaluzia – a Somonte – onde está a ser posta em prática uma experiência de cooperativismo agrícola interessante). Neste momento – entre 1 e 4 de Novembro –  decorre uma visita à Andaluzia em que cerca de duas dezenas de portugueses, alguns deles libertários, outros ligados a colectivos alternativos, vão conhecer, no terreno, algumas das experiências mais importantes lideradas pelo SAT (Marinaleda, Somonte, etc.).

São estes sindicatos que, na sua diversidade, fazem com que o movimento sindical seja forte e expressivo do outro lado da fronteira, enquanto que em Portugal o reformismo das práticas sindicais – com centenas de funcionários e burocratas sindicais a viverem dos descontos dos trabalhadores – e a falta de alternativas ao bipolarismo sindical têm  levado à perda de influência do movimento sindical e ao seu mero papel de instrumento das estratégias partidárias – sejam elas do PCP (CGTP), ou do PS/PSD (UGT).

aqui: https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2012/11/02/greve-geral-iberica-de-14-de-novembro-o-sindicalismo-nao-e-todo-o-mesmo-de-um-e-de-outro-lado-da-fronteira/

21
Out21

Convocatória Anarquista para a participação na Greve Geral de 14 de Novembro de 2012


 

Consideramos que a greve geral ibérica marcada para o dia 14 novembro é importante, sobretudo porque junta, pela primeira vez, numa jornada de luta trabalhadores de um e de outro lado da fronteira e porque a esta convocatória, promovida pelos sindicatos do sistema (CGTP, em Portugal, e CCOO e UGT, em Espanha), se associaram sindicatos e organizações de trabalhadores que contestam o sistema de exploração que rege a actual sociedade, tais como a CNT, a CGT e inúmeros colectivos anti-capitalistas e anti-autoritários

No entanto,  a luta  contra a austeridade, contra a degradação das condições de vida, contra a miséria e por outro modelo de sociedade, não pode acabar aqui.  A luta tem que continuar todos os dias até  que este regime económico fascista, encoberto pelo manto da democracia, seja finalmente derrotado. Está em jogo o futuro das nosso vidas.

Cidadãos, acordai! Chegou a hora de lutarmos todos os dias e em cada lugar onde possa ser combatida esta doença chamada capitalismo. Está nas tuas mãos mudar o rumo.

Organiza-te, luta, resiste!