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Memória Libertária

Documentos e Memórias da História do Movimento Libertário, Anarquista e Anarcosindicalista em Portugal

Documentos e Memórias da História do Movimento Libertário, Anarquista e Anarcosindicalista em Portugal

Memória Libertária

28
Out22

Carta/comunicado de José Correia Pires e José Rodrigues Reboredo aos seus camaradas da OLP, ao deixarem o Tarrafal em 1945 , sobre a unidade entre os anarquistas


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Ficha prisional de José Correia Pires 

https://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=4285647

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José Correia Pires foi libertado do Tarrafal 8 anos depois de ali ter chegado, sem julgamento. Em fevereiro de 1945, quando as autoridades carcerárias o informaram de que ia ser libertado em breve, com o seu também companheiro libertário José Rodrigues Reboredo (que esteve cerca de 3,5 anos no Tarrafal depois de uma vida de exilio, que o levou a Espanha e a França, onde conheceu os campos de concentração do fascismo), decidiram escrever uma carta de despedida aos seus companheiros da Organização Libertária do Campo do Tarrafal.

Nesta carta, que faz parte do espólio deixado pelo também libertário e tarrafalista António Gato Pinto, Correia Pires e Rodrigues Reboredo apelam à unidade de "sindicalistas, anarco-sindicalistas e anarquistas" para preservarem intacta a CGT, fundamental para "o triunfo dos sublimes ideais de emancipação humana por que lutamos", e  impedindo que ela e "A Batalha"  fossem "tomadas" pelos comunistas que, na altura, depois da reorganização partidária de 1940/41 e do fim da II Guerra Mundial gozavam de prestígio e apoio. Para os autores da missiva "separados os sindicalistas dos anarquistas ou os anarquistas dos sindicalistas, o nosso Movimento será absorvido pelos comunistas, pois todas as suas propostas de unidade e colaboração, por mais amigos e sinceros que se mostrem, não visam mais que um fim: o desaparecimento do nosso Movimento, para os comunistas estabelecerem o seu predomínio."

Para isso é fundamental a união e o companheirismo entre os libertários, mesmo que com opiniões diversas, uma vez que "desde (há) longos anos que combatemos juntos pela mesma causa, desde há muito tempo que o nosso sangue se verte na rua em conjunto, nas barricadas e em todos os locais de luta, morrendo lado a lado, varados pelas mesmas balas assassinas das hostes mercenárias da Burguesia ou abatidos traiçoeiramente pelas febres e outras doenças do clima tropical e doentio das regiões inóspitas da África, de Timor ou do maldito Tarrafal, mil vezes maldito pelas vítimas produzidas entre os nossos camaradas" referem os dois anarquistas no momento de deixarem o Tarrafal.

É essa carta/comunicado que a seguir se publica no dia em se assinalam os 46 anos da morte de José Correia Pires.

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(1945), "A todos os componentes da Organização Libertária do Campo do Tarrafal", Fundação Mário Soares / António Gato Pinto, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_160528 .  Cópia manuscrita de comunicado de José Rodrigues Reboredo e de José Correia Pires aos membros da Organização Libertária do Campo do Tarrafal, no momento da sua saída do campo. Fevereiro de 1945. 3 páginas.

*

A todos os componentes da organização Libertária do Campo do Tarrafal

Prezados camaradas:

É costume  corrente quando mudamos de localidade ou de país, despedirmo-nos dos nossos parentes, dos nossos amigos e todas as pessoas, enfim a quem nos sentimos ligados por laços de família, de amizade ou de companheirismo.

Ora, se é certo que há costumes que tendem a desaparecer por erróneos ou caricatos, o dever de cortesia, é crença nossa, perdurará pelas idades fora, porque tem um fundo humano, constitui uma prova dos instintos de sociabilidade do homem e, por consequência, corresponde  a uma necessidade social.

Sendo assim, nós, ao deixarmos o Tarrafal faltaríamos a um dos mais elementares preceitos de civilidade, se não cumpríssemos o dever de nos despedirmos de todo os camaradas que compõem a nossa organização, aqui no campo.

É esse, pois, o motivo porque resolvemos dirigir-vos as presentes linhas como motivo da nossa despedida.

Certamente que poderíamos cumprir este dever indo pessoalmente junto de cada camarada.

Mas todos vós sabeis o que se passa aqui, no campo, quando estamos para sairmos. Em primeiro lugar não sabemos o dia nem a hora a que somos chamados e, quando nos chamam, não nos permitem mais falas com quer que seja. Em segundo lugar, uma despedida antecipada, não só perde o seu verdadeiro significado, como arrisca-nos a cair no rídiculo se a nossa saída se não realizar por qualquer motivo imprevisto.

Ponderadas, pois, todas estas circunstâncias optámos, antes, por dirigir-vos algumas linhas por escrito, como afirmação do nosso sincero espírito de solidariedade para com todos vós, linhas em que sintetizamos alguns pontos do nosso pensamento, neste momento de separação das nossas pessoas.

Ao deixarmos este maldito Tarrafal, mil vezes maldito pelos imensos sofrimentos nele padecidos por todos os nossos camaradas, alguns dos quais aqui encontraram a negra morte – camaradas para os quais vai, neste instante da nossa partida, a nossa mais comovida homenagem -, nós queremos que vós nitidamente saibais que, não obstante a diferença de critérios, talvez, entre nós existentes quanto a alguns problemas da nossa organização, não obstante, porventura, (d)a diferença de ideias que entre nós possa haver quanto à solução do problema social e humano, nós partimos deste campo mantendo para convosco a máxima estima e consideração, sentindo-nos ligados pelos laços da mais fraternal camaradagem, estabelecida e mantida sobre a égide da C.G.T. e da Organização Específica, Organismos, certamente, que todos nós desejamos ver fortes e engrandecidos, com uma extensão cada vez maior e mais rica em resultados concernentes ao triunfo dos sublimes ideais de emancipação humana por que lutamos.

Falamos assim porque estamos absolutamente convencidos de que todos desejamos atingir o mesmo fim: realizarmos a transformação social e estabelecermos um sistema de vida que assegure à classe trabalhadora, a todos os homens, a garantia dos direitos que lhe são devidos por direito próprio e condição natural.

Porque pensamos desta forma, entendemos que era nosso dever neste momento de separação (decerto breve) dar-vos conta da nossa incondicional solidariedade hoje, e amanhã, lá fora, em qualquer parte [em] que nos encontremos, dentro dos organismos acima indicados.

Podeis estar certos que encontrareis sempre em nós o melhor dos desejos, a maior boa vontade e o máximo interesse de contribuir, tanto quanto possível, para a união da família Libertária. Entendemos sempre e continuamos a manter o mesmo critério de que todas as opiniões são respeitáveis, todos os juízos devem ser tomados em consideração e todas as ideias devem ser ouvidas dentro das nossas organizações.

O que é necessário é que respeitando-se precisamente este princípio, cada um respeite a opinião dos demais e haja a maior elevação possível na exposição das ideias e conceitos, buscando-se uma solução conciliadora, sempre que surjam critérios diferentes acerca dos problemas em causa.

Dentro desta orientação, possivelmente, (que) chegaremos em todas as ocasiões a um bom e franco entendimento e observar-se-á a harmonia e a confiança necessárias para continuarmos a lutar juntos contra o inimigo comum.

Permiti-nos, camaradas, dizer-vos com toda a sinceridade: qualquer rompimento entre nós representaria um perigo gravíssimo para o nosso Movimento. Seria a destruição de todo o labor realizado com tanto sacrifício, através de longos anos dos nossos camaradas, seria a perda de milhares de esforços que foi necessário despender para levar a cabo a nossa organização.

A desunião entre nós não pode produzir mais que o enfraquecimento imediato da nossa querida C.G.T., ocasionando que, no futuro, essa seja tomada pelos nossos adversários.

Haja em vista, camaradas, o que se passou em França com o Movimento Operário que, fracionando-se, tinha três C.G.T.!

Sindicalistas neutros, anarco-sindicalistas e anarquistas, todos unidos e lutando dentro de uma só C.G.T., representam uma força poderosa no nosso país – a única que pode garantir confiança às massas -, podem fazer-se respeitar pelas outras correntes, impedindo que estas se apoderem da C.G.T., e podem vantajosamente sustentar a luta contra a burguesia.

Separados os sindicalistas dos anarquistas ou os anarquistas dos sindicalistas, o nosso Movimento será absorvido pelos comunistas, pois todas as suas propostas de unidade e colaboração, por mais amigos e sinceros que se mostrem, não visam mais que um fim: o desaparecimento do nosso Movimento, para os comunistas estabelecerem o seu predomínio.

É este, camaradas, o panorama que se oferece neste momento à nossa Organização Confederal.

Através desta simples anunciação se pode ver o enormíssimo perigo que representa uma rutura no nosso Movimento – o Movimento Libertário –, ou seja dentro da C.G.T., mal já agravado com a criação da célebre Comissão Inter-sindical e outras dissenções anteriores.

Em face de tudo isto, camaradas, afigura-se-nos que devemos congregar todos os esforços para que esse perigo desapareça. É preciso conjugarmos todas as nossas energias para que os nossos adversários não possam amanhã apoderar-se da C.G.T. e do nosso jornal “A Batalha”, valendo-se da nossa desunião. Alerta, camaradas. Alerta, que o adversário é activo, tenaz e inteligente. Não é de estranhar que ele busque os meios para estabelecer um choque entre nós. Dividir para reinar! Eis a máxima de todos que pretendem vencer para estabelecerem o seu reinado.

Pensemos, pois, seriamente na responsabilidade que pesa sobre os nossos ombros, se contribuíssemos, porventura, para uma cisão entre nós.

Desde longos anos que combatemos juntos pela mesma causa, desde há muito tempo que o nosso sangue se verte na rua em conjunto, nas barricadas e em todos os locais de luta, morrendo lado a lado, varados pelas mesmas balas assassinas das hostes mercenárias da Burguesia ou abatidos traiçoeiramente pelas febres e outras doenças do clima tropical e doentio das regiões inóspitas da África, de Timor ou do maldito Tarrafal, mil vezes maldito pelas vítimas produzidas entre os nossos camaradas.

Pois bem! Evitemos romper essa união consagrada por tantos anos de luta em conjunto, essa união cimentada sobre tantas dores e tanto sangue vertido! Continuemos irmanados e identifiquemos mais, se é possível, ainda os nossos propósitos de união. Dentro da C.G.T. há lugar para todos desenvolverem a sua actividade e darem expansão ao seu saber e à sua capacidade construtiva e revolucionária. Que é necessário dar mais amplitude à C.G.T.  para que ela possa estar à altura das circunstâncias? Nisso estamos todos de acordo. Unamo-nos, pois, para que isso se faça, para que a C.G.T. viva e se torne cada vez maior, realizando a missão histórica que lhe cabe na obra de transformação económica-social da classe trabalhadora no nosso país. É este o nosso pensamento, neste momento, camaradas. E fiéis a ele, partimos de aqui absolutamente convictos de que amanhã, dentro da C.G.T., não surgirão quaisquer motivos que nos possam separar, tanto na luta pela realização dos nossos ideais, como na luta contra o sistema capitalista.

Partimos de aqui desejosos de contribuir o mais possível para a nossa união. Não alimentamos quaisquer ressentimentos que, porventura, possam impedir a mais estreita e leal colaboração entre todos nós em relação aos futuros trabalhos dentro do nosso Movimento.

São estes, camaradas, os propósitos que nos animam ao sairmos de aqui e que vos fazer conhecer neste momento da nossa despedida do Tarrafal. Recebei, camaradas, as nossas mais fraternais saudações, vossos e da causa, Tarrafal Fevereiro 1945

a) José R. R. e J. C P

(Actualizados vocabulário e pontuação do texto)

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Ficha prisional de José Rodrigues Reboredo

https://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=4293448

 

28
Out22

José Correia Pires: textos e notas por ocasião do 46º aniversário da sua morte


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O anarquista e antigo tarrafalista José Correia Pires nasceu em 1907, em Messines, no Algarve e morreu a 28 de Outubro de 1976, em Almada, onde residia. Um vida dedicada à militância anarquista primeiro em tempos de Republica; depois contra o fascismo, na clandestinidade e no Tarrafal;  mais tarde, já em democracia, com a fundação do jornal Voz Anarquista e do Centro de Cultura Libertária, em Almada.

Carlos Gordilho, que o conheceu e acompanhou, recolheu alguns dados sobre José Correia Pires e coligiu-os, levantando a questão dele – tão prolixo na escrita – ter deixado tão poucos textos enquanto esteve no Tarrafal (8 anos) e lançando a pergunta: “após 46 anos da sua morte, emerge a questão da sobrevivência dos seus escritos do campo de concentração do Tarrafal. Os escritos deste autor desapareceram ou encontram-se depositados, organizados e indevidamente identificados em fundos documentais?”

O também tarrafalista António Gato Pinto, residente no Barreiro, foi um dos seus amigos e companheiro e a ele se deve ter guardado no seu espólio alguns textos de José Correia Pires, entre os quais a versão original do livro “A Revolução Social e a sua Interpretação Anarquista” (publicado em 1975).

Textos e anotações sobre José Correia Pires, anarquista, coligidos e contextualizados por Carlos Gordilho

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José Correia Pires

"Podem chacinar-nos, podem algemar a liberdade, podem erguer uma prisão em cada lar e abrir uma sepultura em cada metro de terra! Os homens tombarão, mas as ideias nobres ficarão sempre de pé até que, por sua vez, possam triunfar sobre o último dos algoses".

(J. Correia Pires)

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Campo de Concentração do Tarrafal onde José Correia Pires  esteve preso durante 8 anos

1 – ONDE PARAM OS ESCRITOS DE JOSÉ CORREIA PIRES NO TARRAFAL?

O tarrafalista António Gato Pinto, nunca se declarou anarquista, mas era de orientação libertária. Entrou no campo de concentração do Tarrafal na primeira leva de prisioneiros, em 29 de outubro de 1936. Libertado, saiu em 1949. Conhece José Correia Pires no primeiro momento em que este chega ao campo, no dia 12 de junho de 1937. Ficam amigos por longos anos. E nessa posição de entreajuda, trabalham em conjunto, quando José Correia Pires instala uma carpintaria e uma loja de mobiliário, ambos os espaços na avenida D. Afonso Henriques, em Almada, e uma sucursal na Baixa da Banheira, Barreiro, área onde reside António Gato Pinto.

C. Pedro, pseudónimo de José Correia Pires, entra a 1 de março de 1946 no Comité Confederal, substituindo "Camilo", como elemento de ligação entre o Comité e o Conselho Confederal. No vigésimo nono ano da fundação do jornal «A Batalha», "apreciou-se o artigo de fundo escrito por C. Pedro para o próximo número de «A Batalha», que foi aprovado, embora Pinto e Lima (pseudónimos) tivessem feito algumas observações por causa das alusões à Rússia".

Esta referência à pratica de escrita de José Correia Pires, procura destacar a sua participação dotada de uma preparação intelectual e desambigua afirmação ideológica. Por esse motivo é surpreendente que lhe seja atribuído, isto no âmbito do espólio de António Gato Pinto,  a autoria de só dois manuscritos (um artigo de fundo que circulou no sector libertário do campo (1938) e  uma carta de despedida (1945) em co-autoria com José Rodrigues Reboredo, quando saiu do campo), tendo-se em conta que antes de ser deportado, em 1937, para o campo de concentração do Tarrafal, onde permaneceu oito anos, já publicava artigos de opinião na imprensa regional do sul do país. No período do seu exílio em Espanha (1932), editou um número do órgão da Federação Anarquista de Portugueses Exilados, «Rebelião», inserindo nesta publicação com 25 páginas vários artigos da sua autoria.

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Imagem: visita de Edgar Rodrigues (à direita) a Paiva Moura, em Almada.

2 - PERFIL BIOGRÁFICO DE JOSÉ CORREIA PIRES, POR EDGAR RODRIGUES.

Correia Pires nasceu em Messines, Algarve no ano de 1907.

Ali aprendeu três importantes conhecimentos: a ler, a profissão de carpinteiro e as ideias anarquistas.

Pouco depois ingressa nas Juventudes Sindicalistas e luta até ser preso em 1932, sendo então conduzido para o Aljube de Lisboa.

Libertado, volta à luta e participa do movimento de 18 de Janeiro de 1934. Mas o insucesso deste obriga-o a exilar-se em Espanha onde chega clandestinamente.

Ali viveu algum tempo sem conseguir emprego. Foi o seu amigo José Rodrigues Reboredo quem lhe conseguiu meios para sobreviver pelo seu próprio esforço.

Antes de explodir a revolução em Espanha retorna a Portugal e depois de viver na clandestinidade por algum tempo, trabalhando no sector da Federação Anarquista da Região Portuguesa (F.A.R.P.) acaba preso, processado e enviado para o Campo de Concentração do Tarrafal, de onde regressou combalido, praticamente incapaz fisicamente de exercer a sua profissão.

Assim mesmo não perdeu as convicções anarquistas. Lutou sempre escrevendo e dando exemplos de tolerância, de bondade e de coerência libertária.

Estudou na universidade da vida que lhe abriu suas portas bem cedo, e nela conseguiu grandes conhecimentos, uma excelente cultura sociológica, tornou-se um autodidacta respeitável, um homem bom!

Escrevia e falava sem dificuldades, com fluência, raciocinava progressivamente, fora sempre um anarquista actualizado.

Com o derrube da ditadura fascista portuguesa, uniu-se aos seus companheiros que haviam escapado aos 48 anos de perseguições. A todos movia a mesma intenção: publicar A Batalha. Mas o comportamento autoritário, de intolerância e o desejo de supremacia de alguns sobreviventes, fê-lo retornar a Almada e com Francisco Quintal, Sebastião Almeida, Jorge Quaresma, José Eduardo, Paulo Lola, Adriano Botelho, entre outros, fundar Voz Anarquista, onde colaborou até morrer, em Outubro de 1976.

Antes, porém escreveu a publicou 2 livros: Memórias de Um Prisioneiro do Tarrafal e A Revolução Social e a sua Interpretação Anarquista.

Pode dizer-se que Correia Pires se realizou, assistiu à derrocada da ditadura fascista portuguesa, ao desfalecimento dos seus algozes, a famigerada P.I.D.E., pôde ajudar a fundar um jornal genuinamente anarquista e morreu como viveu, de bem consigo mesmo, com o seu Eu, homem bom como sempre fôra.

(in Edgar Rodrigues, «A Oposição Libertária em Portugal - 1939/1974», pp. 203)

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3 - O PAPEL DE JOSÉ CORREIA PIRES, NO REAPARECIMENTO DO MOVIMENTO ANARQUISTA ORGANIZADO

É um elemento do grupo anarquista de Almada «Luz e Vida», e a partir de março de 1946, é também membro do comité confederal da C.G.T..

"Informei então das tentativas feitas no sentido de dar vida ao anarquismo militante, com organização própria, a primeira por um grupo de Lisboa, da qual fazia parte o camarada Lima, há perto de dois anos, que distribuiu um questionário aos camaradas e grupos anarquistas conhecidos e em actividade, pedindo a sua opinião sobre os vários pontos apresentados, entre os quais estava o sistematizado que devíamos optar de relação com o movimento operário. Era intenção do grupo distribuidor do questionário fazer uma publicação com todas as respostas recebidas e se as mesmas fossem favoráveis á organização específica dos anarquistas ou à criação dum simples comité de relações entre os grupos autónomos, convocar todos os grupos e camaradas para uma conferência plenária onde se tomariam acordos definitivos, num ou noutro sentido.

Só dois grupos, de lisboa, mandaram resposta ao questionário. Ultimamente um grupo de Almada, "Luz e Vida", distribuiu uma circular interessando os camaradas anarquistas na sua organização regional."

(Texto extraído do relatório do delegado da C.G.T. a Coimbra em 8 de novembro de 1947, in Edgar Rodrigues, «A Oposição Libertária em Portugal - 1939/1974», pp. 298-307)

Observação: o camarada Lima é o anarquista Adriano Botelho. A carta-questionário foi distribuída no ano de 1945. Mais tarde, em 1982, foi publicado no livro de Edgar Rodrigues, por nós aqui destacado,  pp. 95-97. O relatório está assinado por Vicente, pseudónimo  de Vivaldo Fagundes, e pelas letras M.R. (Moisés Ramos), Lisboa, 8/11/1947.  Aquando da sua chegada a Lisboa, no regresso do campo de Concentação do Tarrafal, onde permaneceu oito anos, José Correia Pires foi libertado no Forte de Caxias, a 9 de março de 1945.

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4-GRUPO ANARQUISTA DE ALMADA (CLANDESTINO) «LUZ E VIDA»

O grupo anarquista “Luz e Vida” é o grupo anarquista de Almada (clandestino), que depois de 25 de Abril de 1974 veio a designar-se “Grupo Cultura e Acção Libertária”, editor do jornal Voz Anarquista.        

“Prezados camaradas:

Subordinados à ideia de dar às actividades dos anarquistas portugueses um carácter homogéneo e eficiente, tanto na defesa e empenhamento do anarquismo, como na conquista de mais liberdade [...], foi, por um grupo anarquista de Lisboa, distribuído uma circular questionário, que este grupo (Luz e Vida) considera oportuno e assás interessante e à qual nos propomos responder:

A) organização especifica - à pergunta feita se veem os indivíduos continuarem a agrupar-se à base de afinidade ou entre os que vivem mais próximos, diremos: - o princípio de afinidade deverá ser sempre o preferido, não só como determinação a nosso princípio ideal mas muito especialmente como exigência de um maior aproveitamento do nosso labor revolucionário e ideológico, sabido com é que todo e qualquer empreendimento reclama sempre muita compreensão e geral entendimento entre os respectivos empreendedores. Diz-nos a experiência que quando não há a verdadeira afinidade entre um agrupamento, uma organização perde-se um tempo enorme com discussões inúteis e dificilmente pode surgir trabalho eficiente e valioso de agrupamentos que não assentem no princípio de afinidade. Assiste-se muitas vezes entre camaradas nossos a discussões estéreis e facilmente altercando-se sem motivo justificado exactamente por não haver entre si muita simpatia e menos afinidade, explodindo por vezes tempestades pouco edificantes e que em nada nos elevam. Significa isto, que o princípio de afinidade é entre nós o preferido, embora não deixemos de reconhecer que onde não seja possível a sua total aplicação, por falta de elementos ou ainda pela sua dispersão, se opte por qualquer sistema, sendo forçoso onde hajam anarquistas que se agrupem, pois se outros motivos não houverem a forçar os nossos vinculos e a nossa aproximação, bastam-nos a nossa comum repulsa pelo autoritarismo e apêgo às ideias de liberdade.

B) como se devem relacionar-se os grupos e indivíduos isolados? O anarquismo é essencialmente contrário a todo o princípio de uniformidade, a toda a ideia totalitária, por contrária à diversidade da vida e inimiga do princípio de liberdade e por isso em nenhuma das suas actividades ou desdobramentos persiste um critério rígido, inflexível, sendo notória uma maleabilidade quer no tempo quer no espaço, no referente a tática e método de luta, contrariamente ao que dizem e supõem os seus detractores. É por isso que não podemos estabelecer que as nossas relações tomem este ou aquele carácter uniforme, dado que o que não se pode fazer aqui se não poderia fazer ali e o que convenha a uma realidade pode não convir a outra. Significa isto que serão sempre as circunstâncias que terão a última palavra e os camaradas das respectivas localidades deverão ver qual o processo que melhor sirva as necessidades das nossas actividades relacionadoras. Isto quanto às relações individuais e de grupo para grupo. No referente às relações nacionais, cremos indispensável um comité relacionador que não só estreite relações com todos os grupos e camaradas isolados, como até procure compulsar as necessidades e iniciativas gerais e dar-lhes a expansão correspondente. É forçoso acentuar que em qualquer agrupamento anarquista a pratica dos princípios federalistas são sempre a sua norma e por princípios federalistas se compreende a pratica das normas gerais das actividades com observância rigorosa dos princípios de liberdade, que dizem salientar a possibilidade e conveniência do indivíduo livre no grupo livre e este dentro da realidade, e assim em toda a ordem social. Tanto em tempo de repressão como de liberdade, as nossas relações deverão ser sempre mantidas com a máxima precaução e cautela, optando materialmente pelos métodos que a experiência aconselhe. Neste sentido também não pode haver um critério único, para cada caso terão os camaradas encarregados dessa função que escolher o que menos perigos garantir.

Propaganda - Independentemente do que cada grupo ou indivíduo isolados possamos fazer, cremos ser de absoluta necessidade a criação de um comité ou secretariado de propaganda, coordenando tudo que possa concorrer para a disseminação e esclarecimento das ideias e problemas que com as mesmas se prendam e que aceitamos a ideia de um órgão na imprensa com carácter fraccional, ainda que com o apoio geral, sabido como é que de outro modo seria desbaratar energia e tempo.”

Observação:  Concordante com o seu próprio estilo de escrita, o autor do texto deve ser o José Correia Pires.

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Imagem: o texto original «A Revolução Social e a sua Interpretação Anarquista» com 21 páginas, datado de 18 de Fevereiro de 1938, encontra-se inserido no espólio de António Gato Pinto, deportado no Campo de Concentração do Tarrafal, e depositado na «Casa comum-Fundação Mário Soares», pasta 10439.001.014. Na "Introdução" da presente edição do texto que redigiu em 1971, editado em 1975, José Correia Pires escreve com imprecisão, informando o leitor que o texto circulou no Campo aí por volta dos anos 39, não está certo, e isso é prova que não teve oportunidade para dissipar a dúvida, isto é, de consultar o texto original de sua autoria. António Gato Pinto, morreu em 1973.

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José Correia Pires, (1907-1976,) discursa no encontro anarquista celebrativo do 1º Maio de 1974, na cervejaria Canecão, em Cacilhas, ladeado pelos companheiros, à esquerda, Sebastião Almeida. À direita, Emídio Santana e Francisco Quintal.

5 - RELEMBRAR A MUTAÇÃO DO GRUPO ANARQUISTA (CLANDESTINO) DE ALMADA. O MESMO GRUPO DEPOIS DO 25 DE ABRIL DE 1974, PASSA A SER DESIGNADO «GRUPO CULTURA E ACÇÃO LIBERTÁRIA», EDITOR DO JORNAL VOZ ANARQUISTA.

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Nesta "Acta", no ponto 1º, é referido a questão do Movimento Libertário Português e a publicação do jornal A Batalha. A tensão dos companheiros veteranos de Almada, com o grupo informal reunido à volta de Emídio Santana, aquando da edição em Setembro de 1974 do mencionado jornal, tem uma proveniência anterior. Ou seja, está na origem do apelo politiqueiro de Santana a candidaturas eleitorais dos anarcosindicalistas para os municípios; "O Emídio Santana, depois de sair da prisão, tentou formar um grupo político para concorrer às eleições municipais - ele e o Germinal de Sousa, filho do Manuel Joaquim de Sousa. Publicaram um manifesto e por causa disso houve uma grande bronca com os companheiros, mais ou menos chefiados pelo Correia Pires." (1)

Claro, a tensão foi acentuada, quando o Santana e os seus acólitos se apropriaram de todas as verbas enviadas do estrangeiro para o Movimento Libertário Português, aplicando esse fundo nas despesas com a produção do jornal A Batalha. Eu assisti à discussão levantada pelos companheiros Paulo Lola (elemento da FAI) e José Correia Pires, ambos delegados do GCAL, em oposição ao senhor pseudo anarquista Moisés Ramos e todos os outros implicados que acompanharam o Santana. Passaram-se quatro meses, entretanto, como águas paradas não move seja o que for, os veteranos anarquistas em conjunto respondem editando o jornal Voz Anarquista, que começa a circular nas bancas em Janeiro de 1975.

 (1) José de Brito, Retalhos da Memória, in Utopia, nº4, Outono-Inverno de 1996, pp. 63-68.

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6 - OUÇA ZACARIAS

O anarquista José Correia Pires, operário carpinteiro, sem nunca ter chegado a ser trabalhador efectivo na Companhia Portuguesa de Pesca, no sitio do Olho de Boi, aqui trabalhou dois anos e tal, isto quando se instalou em Almada, em 1945.

O documento que transcrevemos está do seguinte modo identificado: trata-se de um manuscrito reproduzindo uma carta de um carpinteiro (anónimo), após o seu despedimento. Documento de 8 páginas, com o título "Ouça Zacarias", é datado de setembro de 1947. O documento está inserido no espólio de Antonio Gato Pinto, ex-guarda nacional republicano e ferroviário, prisioneiro e amigo do Tarrafal de José Correia Pires.

“OUÇA ZACARIAS!

O que vou dizer-lhe não é propriamente uma explicação, que não lhe devo, mas antes um desabafo que não resisto à tentação de lhe fazer, exactamente porque a despeito da decepção porque me fez passar ainda tenho por você alguma consideração. É meu desejo que não veja nestas simples linhas mais que o desejo de o fazer pensar alguns minutos no meu caso, que você julgou arrumado com o meu despedimento, e que pondere as razões que tenho para estar ressentido e confessar que me enganei acerca da sua amizade e do que me prometeu, sem nada lhe ter pedido.

O que me acaba de suceder estou firmemente convencido que em nada o incomodou e nem o conteúdo desta carta lhe merecerá o menor interesse. Ora não importa. Há coisas que nos ocorrem que só nós as valorizamos, precisamente porque só nós as sentimos e compreendemos devidamente. Depois, que importa uma injustiça na pessoa de um simples operário se todos os dias e a todas as horas se praticam infâmias na pessoa de milhões? Que importância pode revestir o caso de se despedir um operário que se considera bem comportado e em tudo cumprindo os seus deveres numa fase em povos inteiros se humilham e se deprimem? Não, num mundo onde só prepondera a injustiça em nada, absolutamente em nada, conta a desconsideração e injustiça de que eu me considero vítima e nem eu quero que você lhe dê mais importância que a que lhe mereceu quando pensou incluir-me na lista dos que iam ser despedidos. Que pretendo então? Dizer-lhe que o seu espírito de justiça e lealdade está profundamente embotado e que perde muito no meu conceito todo o indivíduo que não cumpre o que promete, qualquer que seja o motivo do seu não cumprimento e muito mais quando simples futilidades são o motivo de tal procedimento. Não sei as razões que possa ter a meu respeito, mas o respeito pela sua própria dignidade e muito especialmente em obediência a uma situação que aí criei (e foi você que inicialmente mais para tal contribuiu) era forçoso da sua parte proceder de maneira diferente daquela que procedeu. Mais que uma vez e mais que um indivíduo me asseveraram espontaneamente que enquanto você estivesse à frente dos trabalhos da carpintaria eu não sairia do Olho de Boi, e isto, certamente, foi você quem propalou. Mas não foi pelo que outros me disseram, apenas guardo bem vivo na minha memória o seu prometimento de efectividade na casa, embora, como é lógico que assim fosse, nunca nada a tal respeito lhe tivesse pedido. Que aconteceu para que passados dois anos e tal de casa (situação que por si só já me dava o direito de não ser despedido por dá cá aquela palha) ser assim despedido? Disse-me você que tinha ordem para reduzir ao mínimo o pessoal e que não iria despedir carpinteiros mais velhos que eu na casa, deixando-me ficar. Absolutamente de acordo e não serei eu quem condene um tal proceder. Mas procedeu você assim? Não, e considero que os despedimentos que você ultimamente aí fez foram de uma injustiça a toda a prova e para um espírito recto e justo seriam motivo forte para sentidos arrependimentos e remorsos para toda a vida. Mas o meu caso é o mais flagrante e nunca pensei que você procedesse para mim como realmente procedeu!

Acredite que um dia me falaram muito mal de si, mas julguei estar em presença de um despeitado e não acreditei. Mais tarde mostrou-me uma ou duas cartas anónimas que também as não tomei a sério e até me revoltaram especialmente porque sempre detestei o anonimato, quando se acusa. Depois disto tudo confesso que se alguma vez mais ouvir falar mal de você não terei a mesma atitude de descrença que antes mantive. Porquê? Apenas porque embora o não considere um indivíduo mau, depois do que me fez sei que não é suficientemente cauteloso na não prática de qualquer injustiça que o ponha na alçada da critica e dos reparos dos que possam ser afectados ou tenham por habito criticar o que não for razoável e justo.

Durante o tempo que aí trabalhei pude verificar que na luta que você mantinha entre a defesa dos interesses da Companhia que você representa, e a defesa dos operários que por sentimentos e responsabilidades contraídas pelas suas afirmações em parte lhe competia defender, a sua conduta interpretei-a como bastante equilibrada e até com certa inteligência, sempre mais inclinado a defender os que na verdade mais necessitam que os defendam. Significa isto que como mestre não o considero pior, outrotanto não dizendo se se trata de camarada ou simplesmente de amigo. O que me fez tenho-o como uma grande deslealdade e, para melhorar a compreensão, ponha-se no meu lugar e veja se é ou não lamentável o que me aconteceu, partindo de um indivíduo de quem não esperava, não porque fosse meu desejo que não acontecesse, mas tão somente porque até no último momento conseguiu enganar-me sem necessidade nenhuma de o fazer. Não acha que tendo você tornado a resolução de me despedir que mo devia ter dito franca e lealmente quando me comunicou que o Victor Hugo também estava despedido e que tivesse eu paciência? Quando me disse que “nos puséssemos a pau” porque não disse concretamente o que pensava fazer? Admito ainda que vacilasse e temesse directamente dar-me assim essa notícia (no seu foro íntimo você tinha consciência do que isso representava), mas não merece perdão de me não ter dito o que pensava definitivamente fazer quando me dirigi, pedindo que me explicasse o que queria dizer aquele “ponham-se a pau” e que terminou por me dizer que me fosse aguentando e que se não pudesse aguentar que me diria com antecedência. Reconsidere bem este seu último prometimento e veja que nesse mesmo dia entrava de licença e com a lista dos que iam ser despedidos nas mãos dos seus operários-chefes e no número dos quais não hesitou em me incluir. Como classificaria você um indivíduo que o tivesse como amigo e lhe fizesse uma partida destas?

Não quero nem devo continuar, e termino por lhe asseverar que sofri uma grande desilusão exactamente por o ter tomado a sério. Mas já estou curado e presentemente só lamento o tempo que aí trabalhei que talvez noutros locais teriam modificado em parte o meu modo de vida. Sem mais não lhe prometo utilidade mas garanto-lhe que nunca lhe serei prejudicial.

Observações:

  1. O anarquista que exercia a profissão de carpinteiro nessa época em Almada era o José Correia Pires;
  2. A referida pessoa instala-se em Almada em 1945, após o regresso do Campo de Concentração do Tarrafal, talvez tenha vindo para Almada devido a esta oferta de emprego no sector naval;
  3. Nesta carta dirigida ao mestre Zacarias é mencionado que o sujeito despedido trabalha há dois anos e tal no "Olho de Boi", o que corresponde à fixação de José Correia Pires em Almada e está conforme com a data da carta;
  4. Ambos os protagonistas, António Gato Pinto e José Correia Pires, vão manter uma estreita relação pessoal por longo tempo. A sua actividade clandestina de José Correia Pires nas estruturas libertárias justifica que o seu fiel amigo seja efectivamente o depositário dos documentos. De facto, não foi feita qualquer análise grafológica forense dos manuscritos, a fim de atribuir as autorias desses documentos reunidos no espólio.
  5.  No fundo documental António Gato Pinto, depositado na casa comum-fundação Mário Soares, constituído por 247 pastas, está disponível para consulta pública um manuscrito designado "cópia manuscrita", pasta 09633.033, reproduzindo uma carta de despedida do campo de concentração do Tarrafal (1945), escrito de José Correia Pires e do seu amigo José Rodrigues Reboredo. Comparando de forma empírica a grafia da escrita desse texto, com algumas letras da caligrafia do texto "ouça zacarias" (1947), por nós atribuído ao autor josé correia pires, concluímos, que o copista do manuscrito em questão é o tarrafalista antónio gato pinto. Na verdade, encontramos nalguns manuscritos não identificados e s/d, determinadas similitudes com a grafia do manuscrito "ouça zacarias". Veja você mesmo as semelhanças, consultando os documentos nas pastas que aqui mencionamos. As semelhanças são evidentes, e parecem inquestionáveis:
     
    10439.018 (a cooperação como sistema)
    10439.08 (sobre Confederação Geral do Trabalho) http://casacomum.org/cc/pesqArquivo.php?termo=10439.008
    10439.007 (intenssifiquemos o nosso labor...) http://casacomum.org/cc/pesqArquivo.php?termo=10439.007
    10439.001.010 (considerações sobre...) | Cc | PesqArquivo

Companhia Portuguesa de Pescas.jpg

Instalações da Companhia Portuguesa de Pesca, Olho de Boi, Almada

Sobre José Correia Pires, autor de A Revolução Social e Sua Interpretação Anarquista (disponível aqui) ver textos de Irene Pimentel (aqui) e de Maria João Raminhos Duarte (aqui) e do próprio Correia Pires (aqui). Para uma contextualização dos anos 30 no movimento anarquista ver o artigo de Paulo Guimarães “Cercados e Perseguidos: a Confederação Geral doTrabalho (CGT) nos últimos anos do sindicalismo  revolucionário em Portugal (1926-1938)” (aqui), a tese de doutoramento de Antónia Gato "Tarrafal: resistir como promessa. O poder de transformar uma experiência de opressão numa história de grandeza" (aqui) ou, sobre a reconstituição do movimento anarquista pós 25 de Abril de 74, o artigo de Carlos Gordilho "Vestigios da vida do "outro" anarquismo em Almada" (aqui)

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