06
Nov22
António Ferreira, ex-preso social, libertário
No dia 6 de novembro de 2013 morrria, em Setúbal, António Ferreira, ex- preso, libertário, natural de Portimão, que motivou uma forte campanha de solidariedade por parte de vários colectivos que exigiam a sua libertação. Durante 30 anos, António Ferreira foi protagonista de todas as lutas de contestação promovidas por reclusos e “visitou” as prisões mais duras de Portugal.
Na altura da sua morte, escreveu António Pedro Dores, responsável pelo Observatório das Prisões:
"António Ferreira de Jesus descansará em paz
António Ferreira de Jesus (30/10/1940 a 6/11/2013) era um libertário. Conheci-o como um colaborador de todas as lutas contra a perversidade carcerária. A vida dele foi - soube-o mais tarde – praticamente toda feita entre muros (52 dos 73 anos de vida). Mas na prisão a sua fama era de ser superior. De inspiração e fonte de confiança para todos os que estivessem em condições de reclamar justiça. O Ferreira era quem sabia organizar com mais clareza as palavras para explicar o que se estava a passar. E como isso é importante numa cadeia.
Sofreu de tudo quanto o regime prisional tem para oferecer: transferência como castigos informais, isolamentos, censura nas comunicações, negligências nos cuidados de saúde, ameaças de morte para que se calasse. Mas a maior tortura foi judicial, a que baralhou as papeladas como justificação para que a pena cumprida fosse maior do que a pena de condenação.
António Ferreira de Jesus ensinou muito do que aprendemos sobre as prisões. Minucioso na observação, contido e preciso na afirmação, ponderava o valor das palavras e assumia as suas posições como questões de honra. Sabia que tudo podia ser pretexto para um ataque ao que tinha de mais precioso. A dignidade era o seu alimento. E o companheirismo a sua imagem de marca.
Atraiu um grupo de jovens correligionários para amigos, com quem manteve uma fraterna amizade, de que fui testemunha. Grupo que lhe serviu de amparo à saída da prisão e lhe soube assegurar a liberdade profunda a que sempre aspirou. E que ele sempre exigia. Bem hajam.
Ficou claro para ele, e pagou com a vida essa certeza, o carácter desumano e ilegítimo de qualquer sistema prisional, seja sob regimes fascistas ou democráticos, seja quanto a presos de consciência ou presos sociais.
António Pedro Dores"