No dia 29 de Abril de 2006 abria as portas, no Porto, a CasaViva, uma experiência temporária de um espaço alternativo, libertário e autogestionado que durante 10 anos serviu de porto de abrigo para centenas de projectos e iniciativas de índole cultural e anti-autoritária. A CasaViva era o espaço da liberdade no Porto.
Num dos primeiros textos publicados no blogue da CasaViva definia-se assim o que ela pretendia vir a ser. E foi:
"A CasaViva é um projecto que se quer aberto à comunidade, disponível para acolher iniciativas irreverentes, que proponham novas formas de pensar, através da música, pintura, teatro, conversa, cinema, fotografia, oficinas, literatura, dança. É um espaço de entrada livre, bate o batente para entrar.
A CasaViva não paga cachet e não cobra à porta. Acesso gratuito. E cada qual é livre de estender o chapéu depois da actuação. A divulgação dos eventos cabe a quem os propõe. A CasaViva participa através do blog e por email. Para isso, precisa de ter acesso atempado (mínimo uma semana) à informação do que se vai realizar: texto e imagem (400x300 dpi). Os ensaios públicos (3 bandas máx.) devem realizar-se às sextas-feiras e sábados, até às 22h00. A CasaViva acredita nas redes autónomas, em permanente construção, de cultura e software livres. Por isso, ainda que possamos ouvir e descarregar com linux as músicas localizadas no myspace, optamos por potenciar outras redes de partilha mais distribuídas e menos controladas pelas grandes corporações. Netlabels, como jamendo, phlow magazine, enough records, alg-a lab ou commonsbaby são alternativas de publicação e divulgação. Se quiserem mais informação, escrevam para este email ou falamos quando cá chegarem para tocar, actuar, etc... A CasaViva regista som e imagem dos concertos, podendo depois divulgar esses conteúdos através dos seus canais de divulgação – blog, facebook, rádio. É também habitual, de tempos a tempos, editarmos um CD com músicas de todas as bandas que por cá passam. Se acharem que isto é um abuso, é sinal que se equivocaram no local onde tocar.
A CasaViva quer-se um espaço livre de violência. Por vezes a violência surge onde menos se espera, basta um "mosh" mal feito… Por isso apelamos aos grupos que vêm actuar no sentido de reforçarem essa mensagem, na divulgação do evento e/ou durante o próprio evento. Pelo nosso lado, estamos presentes ao longo do evento para ajudar quando as coisas descambam, mas preferimos fazer tudo para que as situações sejam evitadas a ter de intervir.
A CasaViva apoia-se numa dezena de amigos que se dedicam ao projecto por gosto. Gente que abre e fecha a porta, orienta a concretização das iniciativas, promove o debate, pensa, despeja cinzeiros, varre o chão e limpa sanitas. A bem da manutenção do espaço, e seguindo a filosofia de partilha de direitos e de responsabilidades, esperam-se contribuições semelhantes de quem procura a casa para nela fazer acontecer coisas.
A CasaViva é uma casa particular, temporariamente cedida pelos proprietários, sem contrapartidas financeiras. Apoiado nos ditos amigos que não querem formalizar o projecto. A contrapartida é conservar o espaço, zelar por ele e revitalizá-lo. Animando-o enquanto alternativa ou mexendo na pele. Pode-se intervir, respeitando a estrutura e alguns revestimentos.
Meia dúzia de salas livres, uma cozinha, sanitas e urinol. Um corredor comprido e uma caixa de escadas iluminada por clarabóia. Tem horta, loja livre, oficina de serigrafia, hacklab, bookcrossing. Dispõe do seguinte equipamento: um projector, PA (mesa de mistura e amplificador e respectivas colunas (COLUNAS PEVEY POWER 250 WATTS 8 OHMS) e microfone sem suporte nem cabos. Está a iniciar a colecção e a catalogação de filmes, cds, revistas, livros, fanzines, para partilhar. Informação sempre gratuita."
Logo, na abertura, teve lugar uma inciativa que tomou o nome de "Liberdades".
Durante os 10 em que esteve a funcionar ficaram memoráveis muitas outras iniciativas. A Casa fechou as portas, como combinado com os proprietários, a 1 de Maio de 2015, também com a organização de uma iniciativa e a divulgação de um texto, onde se podia ler:
"Morro a 1 de Maio. Se me tens algum carinho, não me evoques. Não me chores. Não me metas na gaveta do lembras-te quando. Se nostalgia for o sentimento que fica depois de mim, esta viagem de 9 anos não valeu a pena.
Preferia deixar-te o sabor amargo de algo inacabado. Não para que me continues. Antes para que te dê asas à vontade de experimentar. Para que te anime a levantares-te contra quem te oprime, a inventar formas de estar e viver livres de poder, a remar contra a corrente do capital, a criar, enfim, a tua própria utopia.
Só assim, só se a minha morte te elevar os níveis de raiva e de sonho, só se mil novas experiências de liberdade se erguerem, só assim, repito, terá valido a pena. Se a cidade arde por falta de espaços de partilha, que se criem esses espaços. E que se veja a cidade a arder.
Despeço-me. Até nunca. O colectivo que me gere diz até já."
Famosas ficaram também muitas faixas que, por diversas vezes, "decoraram" a frente do prédio ocupado pela CasaViva e que, por várias vezes também, desencadearam a ira da Câmara Municipal e da polícia que os retiravam motivando novos protestos do colectivo que geria este "ESPAÇO TEMPORÁRIO*MULTICULTURAL*INTERVENTIVO*GRATUITO*SEM FRONTEIRAS*SEM ROSTO*EXPERIMENTAL*REVOLTADO*APARTIDÁRIO ", como o definiam os membros do colectivo que o geria.
relacionado: https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2014/05/06/porto-comunicado-da-casa-viva-sobre-a-retirada-da-faixa/