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Memória Libertária

Documentos e Memórias da História do Movimento Libertário, Anarquista e Anarcosindicalista em Portugal

Documentos e Memórias da História do Movimento Libertário, Anarquista e Anarcosindicalista em Portugal

Memória Libertária

09
Jan23

(memória libertária) As faixas da Casa Viva, no Porto, e a repressão policial


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No dia 20 de dezembro de 2008, dia internacional de solidariedade com os jovens gregos em revolta, depois do assassinato pela polícia grega do jovem anarquista de 15 anos, Alexandros Grigoropoulos (Alexis), o Centro Social Casa Viva (março de 2006 a maio de 2015), um espaço autogestionado na Praça Marquês de Pombal, no Porto, decidiu colocar uma faixa no prédio que ocupava denunciando a actuação da policia grega.  Na altura foi distribuído um comunicado à população (O espectro da liberdade surge sempre com uma faca nos dentes) a explicar o sentido da faixa. Duas semanas depois, a 5 de Janeiro, os Bombeiros Sapadores do Porto, chamados pela PSP, retiraram a faixa, e foi levantado um auto de apreensão.

Dias depois a Casa Viva reagia com um comunicado em que denunciava a actuação da polícia e das autoridades e em que se alertava para a, cada vez maior, violência exercida contra qualquer dissidência: "Os processos de intimidação à divergência apertam-se. Espera-se que o medo de qualquer coisa, independentemente do que seja, impeça as pessoas de se manifestarem, de exporem opiniões, de se levantarem perante as injustiças dos poderosos. Depois de visitas policiais à Casa em dias de reuniões, depois de visitas regulares ao blog, veio o roubo/apreensão da faixa, um processo-crime sobre “os responsáveis pela faixa”, o reconhecimento policial de que já estamos todos fichados e as ameaças de que, ou atinamos, ou nos fecham a Casa e nos mandam de saco, por causa da questão da propriedade, aliás, por causa das drogas, aliás por qualquer coisa que lhes apeteça." (aqui)

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Mas a tensão entre as autoridades locais e os activistas da Casa Viva devido às faixas não  ficou por aqui. Cinco anos depois, para assinalar o 1º de maio de 2014 decidiram colocar uma faixa, na frontaria do edificio, criticando a escravidão do trabalho assalariado. A frase escolhida foi: "SER ESCRAVA PARA SOBREVIVER, IDE-VOS FODER!".

No dia 2 de Maio, sem que qualquer uma das ocupantes da casa estivesse presente, numa acção conjunta,  a PSP,  Polícia Municipal e Sapadores do Porto retiraram a faixa, sem qualquer explicação. A Casa Viva reagiu com um comunicado em que reivindicava o direito a cada um usar a fachada das suas casas como muito bem entendesse, " já muito bem pago pelos impostos (IMI) no direito de habitar!" (aqui)

Video relacionado: https://youtu.be/XclwwxL5Ql0

 

05
Jan23

Há 14 anos a polícia assassinou um jovem de 14 anos no Bairro de Santa Filomena, na Amadora. O agente que o matou foi ilibado.


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Passaram ontem 14 anos sobre a morte pela polícia de Kuku (Elson Sanches), um jovem negro, de 14 anos, no bairro de Santa Filomena, na Amadora.

Este assassinato teve uma ampla repercussão em diversos sectores da sociedade portuguesa, nomeadamente entre os anarquistas, motivando diversas manifestações nas semanas e meses posteriores.

Segundo a Plataforma Gueto, citada pela Rede Libertária, que divulgou incessantemente todas as iniciativas de solidariedade, a morte de Kuku, foi “mais uma execução sumária, com pena de morte, dum jovem negro por parte da polícia, e um julgamento injusto feito no tribunal dos media, que condenou o nosso irmão e absolveu mais um assassino.

Uma perseguição policial do passado domingo, 4 de Janeiro às 21h, ditou a morte de Kuku, com apenas 14 anos.

Segundo a versão "oficial" de fontes policiais os agentes identificaram o carro furtado, onde seguiam 4 jovens, no bairro de Santa Filomena. Por não terem respeitado a ordem para parar, a polícia iniciou uma perseguição que só acabou no bairro da Quinta da Lage quando os jovens abandonaram o carro e continuaram a fuga a pé. Depois de terem disparado tiros para o ar, a polícia alega que Kuku, que foi o último a sair da viatura, apontou uma arma de calibre 6.35 a um agente, tendo este, em legítima defesa, disparado um tiro que o feriu mortalmente na cabeça. Outro irmão foi ainda atingido com uma bala na perna.

Ainda na sua versão oficial a polícia declara que o agente não atirou para a matar. Quem não quer matar não aponta uma arma à cabeça, portanto a intenção do agente era matar ou teria apontado a outra parte do corpo.

Na manhã seguinte os media iniciaram a sua propaganda, usando apenas as fontes policiais, para sujar a imagem do jovem e legitimar a acção do polícia, alegando que se tratava de um jovem referenciado por crimes violentos.

Com esta propaganda os media conseguiram transmitir a ideia de se tratar dum jovem violento que era uma ameaça para os agentes, e para a sociedade, bem como glorificar a polícia por mais uma "missão cumprida": assassinar um negro.

Como se não bastasse a idade de Kuku, 14 anos, para que este não pudesse ser considerado um criminoso violento, o mesmo foi referenciado como tal apenas por furtos, dos quais não resultou nenhuma condenação. Ainda que tal tivesse acontecido, em nenhum dos casos houve uso de violência. Tendo em conta aquilo os media têm propagandeado nos últimos meses como "criminalidade violenta" só prova que esta usa e abusa de tais critérios sem nenhum rigor para operar a sua propaganda racista e continuar a fomentar o medo dos imigrantes seus descendentes na opinião publica.”

Anos depois (2012) o polícia que matou Elson Sanches foi absolvido pela juíza do Tribunal da Amadora que julgou o caso, tal como, em geral, acontece sempre que a policia é acusada de mortes ou actuações violentas. O Estado defende sempre os seus algozes.

Relacionado:

https://redelibertaria.blogspot.com/2009/01/jovem-de-14-anos-baleado-na-cabea-por.html

https://redelibertaria.blogspot.com/2009/01/agente-da-psp-que-baleou-kuku-este.html

 https://redelibertaria.blogspot.com/2009/01/uma-das-vises-sobre-o-que-se-passou-na.html

https://redelibertaria.blogspot.com/2009/01/concentrao-contra-represso-policial-por.html

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