(memória libertária) José de Brito: "Os mortos que vocês mataram gozam de boa saúde"
José de Brito (Algarve, 1901- Lisboa, 21 de agosto de 1996) foi um anarquista muito interventivo, que suscitou alguns conflitos, mas que deixou também naqueles que o conheceram uma chama de rebeldia e de inconformismo salutar. A sua casa na Calçada da Bica, em Lisboa, era lugar de encontro de libertários de várias gerações e de várias nacionalidades nos anos que se seguiram a Abril de 1974. Tendo passado a sua juventude na América Latina, sobretudo na Argentina, regressa a Portugal depois de escapar por uma "unha negra" ao pelotão de fuzilamento. Aqui desenvolve uma forte actividade comercial, mantendo sempre ligação aos companheiros anarquistas.
Após o 25 de Abril de 1974 participa no esforço organizativo do movimento libertário e, ao mesmo tempo, edita uma pequena publicação, com outros companheiros, "A merda", que vende dezenas e dezenas de milhar de exemplares, mas que alguns sectores libertários contestam e repudiam. Numa célebre nota publicada nos jornais A Batalha e na Voz Anarquista, em Janeiro de 1976, intitulada "Desfazendo a confusão" os colectivos de "A Batalha", da "Voz Anarquista" e de "A Ideia" denunciam "certo grupo de baixo espírito mercantil (que) edita, além doutras, uma publicação intitulada MERDA, único produto da sua facúndia, que se reclama de ANARCA, e em seguimento se vende em bancas juntamente com obscenidades como exploração de baixo gosto".
No entanto, José de Brito continuou a editar diversas publicações, muitas delas textos teóricos do anarquismo, na Cooperativa Fomento Ácrata mantendo também um forte relacionamento com os sectores mais jovens do movimento libertário, nomeadamente com a Associação Cultural "A Vida" que, entre os anos de 1995 e 2012, editou a revista "Utopia".
Esta revista, na altura da sua morte, publicou um texto autobiográfico de José de Brito, reunindo passagens de várias entrevistas dadas a José Tavares e a Stephanie Zoche para o filme Memória Subversiva, onde nos conta em linhas gerais o percuso da sua vida, que agora recuperamos:
Mais sobre José de Brito: https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2013/01/22/bandeira-negra/
Notas necrológicas por José M. Carvalho Ferreira e de José Luís Félix: http://www.utopia.pt/edicoes/Binder4.pdf
José de Brito e a mulher, Serafina, na sua casa na Calçada da Bica, rodeados de livros
Foto publicada no nº 4 da revista Utopia, de 1996