Custódio da Costa (1904-1980): o militante escolhido para dar o sinal do início do 18 de janeiro em Lisboa
Custódio da Costa, o militante anarcosindicalista escolhido para dar o sinal do 18 de janeiro de 1934, em Lisboa, morreu a 22 de Novembro de 1980, há precisamente 42 anos
Custódio da Costa, natural de Esgueira, Aveiro, onde nasceu a 10/1/1904. foi militante anarcossindicalista, padeiro de profissão (em particular na marinha mercante), filiado no Sindicato dos Manipuladores de Pão, integrado na CGT, e esteve envolvido na organização do movimento insurrecional de janeiro de 1934 contra o Estado Novo. Estava incumbido de fazer explodir uma bomba no Miradouro da Senhora do Monte, na Graça, em Lisboa, às 3 horas da manhã do dia 18 de Janeiro de 1934, sinal combinado para fazer eclodir o movimento contra a fascização dos sindicatos. Não o fez por decisão do Comité Nacional da CGT, uma vez que no dia anterior um atentado comunista contra a linha férrea na Póva de Santa Iria tinha posto a polícia de sobreaviso. Durante todo o dia são mandados telegramas e outra forma de avisos para vários pontos do país informando que o movimento tinha sido suspenso. No entanto, há levantamentos operários em localidades como Almada, Silves e Marinha Grande.
Preso e condenado, foi degredado para os Açores e, de seguida, para o campo de concentração do Tarrafal, onde ficou até novembro de 1949.
Da ficha da Pide consta que foi “preso em 4/2/934. Transportou e entregou a Romão Duarte ingredientes para o fabrico de bombas e ainda transportou da Cova da Piedade para Lisboa cerca de 80 bombas que foram distribuídas a vários indivíduos, indo algumas para a Marinha Grande.”
Foi condenado pelo Tribunal Militar Especial em 8/3/1935 a “12 anos de degredo numa das colónias c/ prisão” e multa de 20.000$00. Em 8/9/934 segue para Angra do Heroísmo, sendo transferido para Cabo Verde em 23/10/36. Em 6/8/49 foi-lhe concedida a liberdade condicional pelo prazo de 3 anos com as seguintes condições: “1º Fixação da residência em Cabo Verde, sem prejuízo da vinda à Metrópole, mediante autorização da entidade fiscalizadora; 2º Não frequentar meios ou locais especialmente procurados por elementos suspeitos ou perturbadores da ordem pública; 3º Não acompanhar pessoas suspeitas ou de má conduta, designadamente antigos companheiros que tenham estado ligados a actividades subversivas; 4º Aceitar a protecção e indicações de uma instituição do Patronato ou de pessoa encarregada de o exercer”.
Foi “solto condicionalmente em 1/4/49, pelo prazo de 3 anos e com residência fixada em Cabo Verde, sem prejuízo da vinda à Metrópole, mediante autorização da entidade fiscalizadora” (Director do Tarrafal e a PIDE). Desembarca em Lisboa a 10/11/949, devendo apresentar-se todos os meses, no dia 11, no Piquete da PIDE.
Foi-lhe concedida a liberdade definitiva por sentença de 24/10/952. No total, entre prisão e liberdade condicional, esteve debaixo do jugo das autoridades fascistas durante 18 anos.
Depois da sua libertação, colaborou com Emidio Santana e outros libertários na Associação dos Inquilinos Lisbonenses, uma das associações onde estes mantiveram uma forte influência durante um longo período, sobretudo durante as décadas de 60 e 70.
Custódio da Costa no jardim da sede de A Batalha, na Rua Angelina Vidal, em Lisboa, c.1975
Após o 25 de Abril de 1974, colaborou dedicadamente na reaparição do jornal “A Batalha” e do movimento libertário, tendo durante vários anos assegurado o funcionamento das instalações deste jornal, que servia também de sede a vários outros grupos e actividade do Movimento Libertário (da Rua Angelina Vidal à Av.Alvares Cabral).
Participou também no depoimento colectivo de antigos tarrafalistas, editado pela Regra do Jogo, em 1978, "O 18 de janeiro de 1934 e alguns antecedentes" , em que antigos responsáveis pelo movimento do 18 de janeiro (Acácio Tomáz de Aquino, Américo Martins, Custódio da Costa, José Francisco, Marcelino Mesquita e Emidio Santana que o coligiu) repunham a verdade histórica, depois das tentativas de apropriação e adulteramento que sobre ele o PCP fazia, tentando chamar a si a organização de um movimento que, na altura, classificou como "anarqueirada".
Custódio da Costa morreu em Lisboa a 20 de novembro de 1980.
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