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Memória Libertária

Documentos e Memórias da História do Movimento Libertário, Anarquista e Anarcosindicalista em Portugal

Documentos e Memórias da História do Movimento Libertário, Anarquista e Anarcosindicalista em Portugal

Memória Libertária

21
Out21

MANIFESTO DO COLECTIVO LIBERTÁRIO DE ÉVORA


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Um grupo de cidadãs e de cidadãos, homens e mulheres, reunidos em Évora, decidiu constituir-se em colectivo de reflexão e de acção como resposta à constante violação e limitação dos seus direitos e liberdades individuais e colectivas, bem como à constante diminuição da qualidade de vida e de perspectivas de futuro que a maioria dos trabalhadores, estudantes, desempregados, reformados ou simplesmente desocupados hoje enfrentamos.

Face à crise generalizada do capitalismo, e depois de morto o modelo das “democracias populares”, que mais não foi do que uma outra forma do capitalismo sobreviver ancorado na ideologia do Estado todo poderoso, é preciso reencontrar alternativas que, aliás, estiveram desde sempre na prática e na teoria dos sectores mais interventivos do movimento social e operário em todo o mundo.

As experiências autogestionárias, de acção directa, baseadas nas assembleias de base, com o mínimo possível de delegação de poderes, assentes no livre pensamento e na absoluta liberdade de organização, preferencialmente em rede e a partir da base, mantêm todo o seu carácter de inovação e de radicalidade.

É preciso voltar a colocar sobre a mesa questões como o poder e as relações de poder; o Estado; o salariato; a luta de classes. Reenquadrar a ecologia no contexto global da espécie humana e não apenas em termos de ambiente. Debater a violência e o pacifismo. Perceber como se pode passar de uma sociedade totalitária, onde o poder político e económico agem apenas em função do lucro e não da satisfação das necessidades do conjunto da humanidade, para uma sociedade assente na fruição e na utilização da imensa capacidade tecnológica hoje existente de modo a acabar com o fosso entre ricos e pobres, entre fartos e esfomeados, entre os que têm acesso à generalidade dos bens de consumo e os que deles estão totalmente excluídos, entre os que detêm o poder e aqueles que são totalmente despossuídos de qualquer grau de influência.

É preciso pensar e perceber o que são os chamados índices de felicidade ou de conforto e de que maneira, cada ser humano, enquanto tal, pode e deve participar, no chamado “banquete da vida”, de que hoje muitos milhões de seres humanos são, logo à nascença, postos à margem.

Queremos perceber também ao detalhe esta sociedade em que nos integramos. Alentejanos e eborenses consideramos ter muitas palavras a dizer no contexto local, fora dos confrontos da política partidária, onde a natureza dos interesses em jogo é quase sempre idêntica e pouco transformadora. Partindo desta nossa realidade sabemo-nos e sentimo-nos cidadãos do mundo, cosmopolitas, e queremos trazer também até ao espaço que habitamos novas experiências, outras ideias, formas diferentes de sonhar o futuro.

Não nos resignamos ao cardápio das ideias feitas, prontas a consumir, no “self-service” partidário. Fiéis à velha máxima da velha Associação Internacional de Trabalhadores de que a emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores ou não o será, consideramos que todos, organizados e intervenientes, temos uma palavra a dizer na condução das nossas vidas e na construção de espaços de encontro e de ruptura com a apatia social e o imobilismo político que parecem caracterizar os dias que correm.

É contra isso que nos batemos e é contra isso que nos vamos bater. A favor de uma vida que valha, de facto, a pena viver. E não a sobrevida que o capitalismo (nas suas mais variadas formas) nos tem para oferecer.

Por tudo isto, prometemos não ficar parados e rasgar novas janelas na imensa planície das ideias e das práticas e convidamos quem esteja de acordo e solidário com este manifesto a juntar a sua à nossa voz.

Colectivo Libertário de Évora

Outubro/2012

aqui: https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2012/10/29/manifesto-do-colectivo-libertario-de-evora/

21
Out21

Convocatória Anarquista para a participação na Greve Geral de 14 de Novembro de 2012


 

Consideramos que a greve geral ibérica marcada para o dia 14 novembro é importante, sobretudo porque junta, pela primeira vez, numa jornada de luta trabalhadores de um e de outro lado da fronteira e porque a esta convocatória, promovida pelos sindicatos do sistema (CGTP, em Portugal, e CCOO e UGT, em Espanha), se associaram sindicatos e organizações de trabalhadores que contestam o sistema de exploração que rege a actual sociedade, tais como a CNT, a CGT e inúmeros colectivos anti-capitalistas e anti-autoritários

No entanto,  a luta  contra a austeridade, contra a degradação das condições de vida, contra a miséria e por outro modelo de sociedade, não pode acabar aqui.  A luta tem que continuar todos os dias até  que este regime económico fascista, encoberto pelo manto da democracia, seja finalmente derrotado. Está em jogo o futuro das nosso vidas.

Cidadãos, acordai! Chegou a hora de lutarmos todos os dias e em cada lugar onde possa ser combatida esta doença chamada capitalismo. Está nas tuas mãos mudar o rumo.

Organiza-te, luta, resiste!

20
Out21

POEMAS SOCIAIS EDITADOS PELA ASSOCIAÇÃO DOS TRABALHADORES RURAIS ESCOURALENSE (ESCOURAL-ÉVORA) POR VOLTA DE 1920


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No 2º poema há a indicação, manuscrita: “O presidente(*)  foi chamado ao juiz por causa disto”

(*) da Associação dos Trabalhadores Rurais Escouralense, fundada em 1911 – nota CLE

Fonte: projecto MOSCA (AQUI)

Título:
Caderno de poemas sociais
Data:
s.d. (c. 1920)
19
Out21

CONCENTRAÇÃO FRENTE AO ESTABELECIMENTO PRISIONAL DE LISBOA ÀS 11 HORAS, DO DIA 8 DE JANEIRO DE 2013


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Cartaz aqui 

“Presos/as, familiares e movimentos sociais convocam uma concentração de solidariedade e denúncia no dia 8 de Janeiro de 2013 (amanhã) pelas 11horas da manhã, em frente ao Estabelecimento Prisional de Lisboa. Haverá visita para familiares que termina pelas 11:30h. Apareçam! Circulem esta mensagem.

São diversas as denúncias sobre a tensão vivida por presos e familiares de presos no Estabelecimento Prisional de Lisboa (bem como noutras prisões em portugal), a prática de tortura dentro desta instituição do Estado viola leis nacionais e internacionais de Direitos Humanos. São diversos os casos de espancamento praticados por guardas no Estabelecimento Prisional de Lisboa, são relatados com regularidade bem como outras queixas relativas a condições de celas, comida, cuidados de saúde e tratamento humilhante de familiares. Presos/as, familiares e movimentos sociais solicitam a intervenção urgente sobre o comprometimento do Estado Português com a não violação dos Direitos Humanos nas prisões em Portugal (inclusive recentemente Portugal ratificou o Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes da ONU, convenção que assinou em 2006.).

Vamos dar voz a esta opressão!
Circulem sff pelos vossos contactos.”

fonte: https://www.facebook.com/IndignadosLisboa?fref=ts

aqui: https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2013/01/08/concentracao-hoje-terca-feira-frente-ao-estabelecimento-prisional-de-lisboa-as-11-horas/

19
Out21

“MISSIONÁRIOS DO ERRO E DA MENTIRA” – UM OPÚSCULO ANTICLERICAL EDITADO PELA FEDERAÇÃO ANARQUISTA DA REGIÃO SUL (ANOS 20)


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*

Núncios, bispos, cardeais, cónegos, monsenhores,

— Truculenta manada obesa de hipopótamos —

Virgem mãe dos heróis, ó Liberdade! enxóta-mos,

E fazemos transpôr, a grunhir, sem demoras,

As fronteiras do globo em vinte e quatro horas! 

GUERRA JUNQUEIRO

 

Eis um homem que passa de olhos no chão ou de olhar fito vagamente no espaço, sem se fixar nos outros homens  a não ser quando estes o não podem ver.

Para ainda mais acentuar o carácter dúplice e indeciso da sua individualidade, este homem é aparentemente uma mulher pois que veste saias, não usa barba, tem a pele setinosa como as damas e o andar participa um tanto ou quanto do ondulado mulheril…

A cor do traje reflete também o carácter deste vivente ou o da sua missão nas sociedades que o criaram: ou é negra como a treva da ignorância que ele espalha e propaga, sombria como o crime que encarna; ou é vermelha como os apetites sanguinários da sua natureza, cor simbólica da impetuosidade e veemência das suas paixões; ou é roxa como a hipócrita penitência da sua vida, roxa como a violeta cuja modéstia quer imitar e que na vida deste homem só serve para ocultar a traição pronta a ferir o adversário desprevenido.

Vede o seu todo: aquela adiposidade dá a conhecer a madraçaria, apanágio do seu viver. Aqueles lábios grossos são indício da sua sensualidade. Aquele olhar infixo, miado encoberto, voltado sob os cílios, denota a dissimulação do seu pensar; aquele vago retraimento do seu corpo, que parece sempre prestes a fugir, descobre a cobardia da sua alma.

Misto de camaleão, porco, raposa e hiena. As suas falas são untuosas, melífluas. As suas maneiras insinuantes, muitas vezes pegajosas, permitam-me a expressão.

Dir-se-ia que em certas ocasiões de toda a sua natureza golfa a baba, escorre um pus oleoso que lhe facilita o escorregar-se por entre aqueles que, enojando-se com o seu contacto, não obstante pretendem apanhá-lo para o aniquilar sentindo com pesar que em virtude da oleosidade de todo o seu ser, se lhes escapa.

E contudo, eis que em consequência dessas secreções repugnantes, conseguiu como a lesma agarrar-se a esta ou aquela sociedade ou deslizar sem que o pressintam. Este homem, que sem ser hermafrodita é, por assim dizer, meio homem meio mulher, castrado e sátiro, sodomita e femeeiro, asceta e libidinoso, ente inqualificável que afinal, em última análise, nem é homem nem mulher, pois que ambas estas entidades nega, acervo híbrido de todas as incongruências sociais que censura e aproveita, este homem, dizia eu, é o padre!

Não nos iludamos.

Por mais belas que sejam as imagens que Victor Hugo fez deste produto não há padres bons. Todos eles são perigosos; são missionários do erro, da mentira.

E, embora o grande poeta nos pintasse com mãos de mestre um exemplar virtuoso entre os que mais o poderiam ser, a verdade e que, quanto mais virtuosos os padres são, isto é, quanto mais ricos daquela virtude de convenção social religiosa, tanto mais nocivos, pois mais iludem e arrastam a humanidade à servidão, à inconsciência e inciência, à abjeção da vida, à impassibilidade sofredora de todas as explorações. Que nos importa que um padre seja virtuoso se ele, ministro de uma religião de mentira, é obrigado, como tal, a manter a sociedade no desconhecimento do que a cerca, na subserviência ao desconhecimento, na sujeição aos que a governam e exploram, no terror do que não compreende nem convém ao padre que lhe expliquem?

O padre vem, cheio de fé ou inconvicto dizer-nos, por exemplo, que tem o poder de nos perdoar os agravos, ofensas, pecados que tenhamos cometido – não contra ele mas em prejuízo de outrem; que tem o dom de ler as nossas consciências; que só ele poder intermediário entre nós e Deus; que só ele nos pode encaminhar para o Ceu; que só ele poderá convencer o velho chaveiro Pedro a abrir-nos as portas do Paraíso.

Este homem dizendo tudo isto mente: tanto basta para que seja perigoso e daninho;para perpetuar um estado de coisasque é fonte de todos os sofrimentos dahumanidade em benefício de uma ou váriascastas açambarcadoras do produto do trabalhodos crentes e supersticiosos miseráveis.

Como pode um padre, tenha ele a alma de um justo (?) acreditar que possui a faculdade de remir as ofensas, erros, crimes dos outros homens, ele que é tão susceptível de pecar como qualquer mortal?

E poderá garantir que em certo modo ele os seus colegas não tenham concorrido para a existência do crime que vão julgar? Um homem que prevarica porque ignora, porque foi embrutecido por ideias falsas, desviado da verdade por mistificações religiosas, alucinado nos seus vícios por uma educação jesuítica, não pratica um crime contra as leis da convenção social, ou contra as leis inidilúveis da natureza senão porque a isso foi levado pela influência do meio que o cerca, na elaboração do qual foi agente ou factor, entre outros, o padre.

Portanto esse padre quando lança aabsolvição sobre os delinquentes ou oscondena a uma penitência, mente aos homense a si mesmo.

Se tem a noção dessa mentira, é um impostor, um burlão. Se não tem, é idiota.

Em ambos os casos é um mal pela perniciosa influência que o seu proceder vai operar nas massas ignaras.

Não há religião que, analisada friamente pelo espírito amante da verdade, se não revele um tecido de necedades e torpezas com um recheio de moral que a própria religião é a primeira a tornar ineficaz por motivo das suas contradições.

Como pode pois um homem ministrar semelhante cúmulo de despautérios e imoralidades com a convicção de que faz obra meritória a não ser esse homem um imbecil?

Forçosamente é tolo e se não é, teremos de concluir que é velhaco e mistificador!

Não vos deixeis pois iludir, ó povos, por esses tartufos de saias, insexuadas que negam a virilidade humana, santificam o ódio ao sol brilhante e vivificador da natureza; glorificam noite do espírito, a humanidade servil, a renúncia à vida, a aversão à família que eles por condição abjecta nunca poderão compreender.

O padre é a entidade mais prejudicial que a fatalidade das coisas criou. Ele é o consagrador da torpeza social que nos esmaga!

Urge pois extirpar firmemente, rapidamente, implacavelmente, sem contemplações algumas, este maldito cancro.

JOSÉ CARLOS DE SOUSA

Reprodução de brochura editada  nos anos 20 pela Federação Anarquista da Região Sul, com sede em Cercal do Alentejo e reproduzida em facsimile aqui: http://mosca-servidor.xdi.uevora.pt/projecto/components/com_library/texts/41_BNP_AHS548.pdf )

aqui: https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2013/01/02/missionarios-do-erro-e-da-mentira-um-opusculo-anticlerical-editado-pela-federacao-anarquista-da-regiao-sul-anos-20-e-divulgado-pela-revista-alambique/