Há cem anos em Silves - depois de uma greve de mais de mês e meio dos corticeiros, que tiveram que mandar os filhos para outras localidades, entregues aos cuidados de outros operários, quando celebravam o regresso dos seus familiares - a multidão foi dispersada a tiro pela GNR. Houve um morto, o corticeiro Francisco Gonçalves, pai de 6 filhos, e mais de uma dezena de feridos.
"A Batalha" o grande diário operário, porta-voz da CGT anarco-sindicalista, que integrava o sindicato dos corticeiros de Silves, publica, dois dias depois, em manchete a toda a primeira página: "República atascada em sangue!
Um crime mais bárbaro, mais repugnante e ignomioso do que o dos Olivais!
Na cidade de Silves, a guarda republicana, comandada pelo tenente Vinhas, recebe a tiro os filhos dos grevistas corticeiros que regressavam aos seus lares, assassinando um operário, pai de seis filhos, ferindo muitos operários e crianças e, entre elas, uma no rosto e outra numa orelha!
Eis o trágico resultado da política de incitamento ao crime feita pelo ministro do interior.
Sr. Ministro: mande condecorar os assassinos!"
Era o tempo de um sindicalismo de combate, revolucionário, que nada tem a ver com as atuais burocracias sindicais, meras correias de transmissão dos partidos políticos (nomeadamente do PCP) que se aproveitam dos sindicatos para dar trabalho à sua máfia política e os sujeitar às estratégias partidárias - e que, por isso, pouco mais são do que cadáveres adiados.
Fica a 1º página de "A Batalha", de 24 de junho de 1924, com a verdadeira crónica de mais um episódio negro da República contra o movimento operário organizado na CGT anarcosindicalista e que fez de Silves uma das localidades no Algarve e no país com maior peso na luta contra o fascismo.