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Memória Libertária

Documentos e Memórias da História do Movimento Libertário, Anarquista e Anarcosindicalista em Portugal

Documentos e Memórias da História do Movimento Libertário, Anarquista e Anarcosindicalista em Portugal

Memória Libertária

24
Dez22

No final de 2014 a AIT-SP publicou o último número do Boletim Anarco-Sindicalista


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Em finais de 2014 saía aquele que seria o último número do boletim trimestral da Secção Portuguesa da Associação Internacional dosTrabalhadores constituída no final dos anos 90/início de 2000. O Boletim Anarco-Sindicalista nº 47, com 12 páginas, divulgava seis endereços electrónicos relativos a núcleos ou contactos locais da AIT-SP em Lisboa, Porto, Guimarães, Coimbra, Algarve e Setúbal, bem como uma série de lutas em todo o país. Anunciava também a realização no Porto, a 5 e 6 de Dezembro desse ano, de um Congresso Extraordinário da AIT (já em processo de convulsão interna, que levaria mais tarde à saída de diversas organizações da AIT e à constituição da CIT - Confederação Internacional do Trabalho, em 2018).

Embora este seja o último número do Boletim Anarco-Sindicalista, a AIT-SP manteve-se em actividade até ao inicio de 2017, com presença em diversas lutas e também nas redes sociais (aqui) e (aqui).

Para além do Boletim Anarco-Sindicalista, a AIT-SP publicou também dois números da revista teórica Apoio Mútuo, com artigos mais desenvolvidos sobre o anarco-sindicalismo.

Seria bastante útil que companheiros que estiveram ligados à AIT-SP fizessem um pequeno historial desta organização (fundação, principais actividade e núcleos, processo de extinção, etc.) que, durante os anos da sua existência, foi muito activa e que desenvolveu um trabalho importante na divulgação do anarco-sindicalismo e da auto-organização dos trabalhadores, através da acção directa e sem mediadores. Teve também um papel relevante nos contactos internacionais com as principais organizações anarco-sindicalistas do continente europeu.

21
Dez22

Há 40 anos era publicado o livro de Edgar Rodrigues "A Oposição Libertária em Portugal (1939-1974)", o último de quatro volumes sobre a História do Movimento Libertário em Portugal


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Há 40 anos, em dezembro de 1982, com a publicação de "A Oposição Libertária em Portugal (1939-1974)", o militante e historiador anarquista Edgar Rodrigues concluía a sua resenha sobre o movimento anarquista em território português, iniciada em 1980 com "O Despertar Operário em Portugal (1834-1911)" e em 1981 com "Os Anarquistas e os Sindicatos (1911-1922)" e "A Resistência Anarco-Sindicalista à Ditadura (1922-1939)", todos editados pela Editora Sementeira (ligada ao grupo editor de A Ideia). Este trabalho de longo fôlego, repleto de dificuldades e de lacunas, derivadas da distância (Edgar Rodrigues estava radicado há longos anos no  Brasil) e da incompreensão de alguns companheiros, como o autor refere no preâmbulo à obra, constituiu-se, no entanto, como de enorme importância para o estudo do papel dos anarquistas na oposição à ditadura.  Durante décadas, os comunistas e uma parte substancial da oposição, muitas vezes por desconhecimento, mas na maior parte dos casos por má fé,  apregoavam que o anarquismo tinha morrido depois do 18 de janeiro de 1936 e das prisões em massa ocorridas até ao final da década de 30. No entanto, este trabalho veio provar, através da mais variada documentação e da biografia de muitos militantes anarquistas, que, embora debilitado, o movimento anarquista manteve-se vivo durante grande parte da vigência do regime fascista em Portugal a ele se opondo e resistindo na clandestinidade. 

20
Dez22

"Arriba Franco más alto que Carrero Blanco"


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Logo após o 25 de Abril de 74, ainda Franco "reinava" no Estado Espanhol, era grande a solidariedade entre os anarquistas portugueses e espanhóis, servindo, nalguns casos, Portugal como retaguarda de apoio a companheiros espanhóis perseguidos pelo regime franquista. Desta solidariedade internacionalista resultou a manifestação de solidariedade com os trabalhadores espanhóis convocada pelos anarquistas para o Rossio, a 3 de Março de 1975, em que, entre outras palavras de ordem, também se ouviu, numa analogia com o atentado da ETA ao principal chefe militar do estado espanhol: "Arriba Franco más alto que Carrero Blanco". (arquivo Portal Anarquista)

19
Dez22

Rede Libertária: um blogue que durante três anos e meio serviu de elo de relacionamento entre os libertários


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No dia 12 de dezembro de 2007 começa a ser editado o blogue “Rede Libertária” que pretende ser “uma ferramenta de comunicação entre aqueles que agem, sentem e pensam contra uma sociedade autoritária, estatista, capitalista e repressiva. Destina-se à difusão de notícias, iniciativas, críticas e textos de reflexão libertários, locais e/ou internacionais. Através do cruzamento/discussão de informação pretende criar,manter e reforçar laços entre colectivos e indivíduos anarquistas”, escrevem os seus autores, divulgando um endereço para a recepção de notícias.

Durante cerca de três anos e meio, quando a internet começa a ser um espaço de divulgação de iniciativas e expressão de ideias, o blogue “Rede Libertária” é o ponto de referência para inúmeros colectivos que desenvolvem actividade por todo o país, desde o Grupo “Gonçalves Correia” , em Aljustrel,  a AIT/SP em Lisboa, ou a CasaViva, no Porto. Pela suas páginas passam centenas de iniciativas e muitas campanhas de solidariedade e de denúncia.

No dia 10 de setembro de 2009, no entanto, a repressão policial abate-se contra este espaço informativo, detendo um individuo por alegadamente colaborar com a Rede Libertária.

Escreve o blogue (a 25 de setembro de 2009):

“No passado dia 10 de setembro, um computador foi apreendido e uma pessoa foi constituida arguida por, alegadamente, ter colocado um post na rede libertaria. (http://redelibertaria.blogspot.com/2009/01/blog-post.html).

Segundo o email recebido pela rede libertaria, no passado dia 10 de setembro pelas 8 horas da manhã, a policia judiciaria (secção de combate ao terrorismo e banditismo), entrou numa casa em lisboa, com mandato de busca e apreensão. Os 3 agentes da PJ vasculharam duas divisões da casa, tiraram fotografias, recolheram literatura e material informático (computadores, discos externos e dvds).

Em seguida, " fui levado à secção de combate ao terrorismo e banditismo da polícia judiciária, na av. columbano bordalo pinheiro, onde acabei por ser informado do que sou acusado. deram-me como arguido num processo por difamação e incitação à violência. Na base deste processo está um post colocado no blog em http://redelibertaria.blogspot.com/2009/01/blog-post.html. Mostraram-me documentos (do google e da pt) que dizem ter havido uma ligação da parte de um administrador do site a partir da minha linha adsl de acesso à internet num dia do princípio de fevereiro deste ano. Sendo que a minha rede está aberta e acessível a alguma distância da minha casa, não é possível eu conseguir saber quem terá postado o post."

A PJ ficou com um computador.

Nada nesta situação nos surpreende. Não esperamos NADA desta ou de qualquer outra polícia.

O disparar para todos os lados da PJ acertou, aleatoriamente, num indivíduo que nada tem a ver com o projecto da rede libertária e, mesmo se tivesse, é pidesca a forma como a polícia entra, remexe, vasculha, leva o que bem lhe apetece, quando bem lhe apetece, como bem lhe apetece, sempre com o selo branco do Estado.

Ficar simplesmente indignado com esta situação parece-nos ridículo.

A continuação de um ataque cerrado contra o Estado e toda a autoridade encontra aqui mais um dos seus motivos.

Rede Libertária”.

Apesar deste incidente, que teve repercussão mediática, o blogue “Rede Libertária” continuou a funcionar, sempre com vários posts por mês, sendo actualizado até 23 de junho de 2011 e constituindo um importante elo de relacionamento e de difusão de iniciativas oriundas do espaço libertário.

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A imagem que motivou a acção da polícia, a detenção de um companheiro e a apreensão do computador.

 

14
Dez22

A vida e morte da FARP-FAI (1975-1979)


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Voz Anarquista, nº11, Janeiro de 1976

No dia 14 de Dezembro de 1975 é constituída em Almada a FARP- FAI (Federação Anarquista da Região Portuguesa, filiada na Federação Anarquista Ibérica) reunindo diversos grupos anarquistas entre os quais os grupos editores da revista «A Ideia» e da «Voz Anarquista» a que se viriam a somar no ano seguinte (1976) outros grupos e companheiros  entre os quais o grupo ligado à revista «Acção Directa», que nos nºs 7 de Novembro/Dezembro de 1976 e 8 de Janeiro/Fevereiro de 1977 exibe, na contra-capa, a indicação: "Revista editada pelo Grupo Anarquista “Acção Directa” federado na FARP-FAI".

Entre as actividades que a FARP desenvolveu ressalta o comício anarquista na Voz do Operário em 15 de Janeiro de 1977 e a participação na realização de duas conferência libertárias em Outubro de 1977 e em Fevereiro de 1978 na sede de A Batalha, em Lisboa

A FARP existe até 1979, com uma existência atribulada e diversas dissensões internas, em que a mais grave terá sido a polémica entre o grupo ligado à revista "Acção Directa" e os grupo “Os Iguais”, que editava a  revista "A Ideia", a propósito do III Congresso Anarquista, em Carrara (Itália). Em Março de 1978 o  grupo editor da “Acção Directa” envia aos órgãos de comunicação social um comunicado assinado por António Mota em que se distancia do III Congresso Anarquista realizado  pela Internacional de Federações Anarquistas (IFA) entre os dias 23 e 27 de março, em Carrara, onde esteve presente uma delegação portuguesa. No nº 10, a Revista “A Ideia” (de que alguns elementos tinham estado em Carrara) publica o comunicado e, a seguir, num texto intitulado “Polémica” considera que com este texto, tal como com um artigo publicado no nº 11 da revista “Acção Directa” “'Alguns aspectos essenciais da acção dos Anarquistas'”, o grupo "Acção Directa" distancia-se do pensamento defendido pelos membros de “A Ideia”,  e enveredam por “posições - mais restritivas dentro do panorama libertário - dos anarquistas INDIVIDUALISTAS”. Também a "Voz Anarquista", sem publicar o comunicado da “Acção Directa”, critica esta tomada de posição e escreve que a IFA só representa os grupos que a ela queiram aderir e não a totalidade do movimento anarquista.

Desgastada com as polémicas internas e não dando resposta às necessidades organizativas com que o movimento se depara (em junho de 1976 já se havia constituído a ALAS, juntando os companheiros que se movimentavam em torno do anarcosindicalismo e do jornal “A Batalha”, havendo mesmo a 7 de Dezembro de 1978 nova reunião na sede de “A Batalha” para discutir a necessidade de uma nova organização anarquista. “Empreendamos um caminho que afirme as nossas ideias em resposta a uma civilização em crise”, afirma a convocatória do encontro), a FARP suspende a sua actividade em plenário realizado em Almada a 17 de Novembro de 1979.

08
Dez22

Memória de dois espaços ocupados na área da grande Lisboa: 26 da Rua do Passadiço e Laranjinha


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(foto actual do nº 26 da Rua do Passadiço, Lisboa)

Há 18 anos, precisamente no dia 8 de dezembro de 2004, era ocupado o número 26 da Rua do Passadiço, em Lisboa, por um grupo de pessoas que pretendiam dinamizá-lo com um conjunto de actividades. No local onde hoje se encontra um edifício voltado para o turismo e para  a gentrificação do centro da cidade acalentaram-se sonhos de uma Lisboa e de uma vida diferentes.

O prédio foi desocupado no dia 14 de Abril do ano seguinte, através de uma intervenção policial musculada, e o relato (e balanço) destes meses de ocupação foi feito por um dos intervenientes, que assina como Vladimir, num artigo publicado na revista anarquista Utopia #19.

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No histórico de ocupações de espaços em Portugal, destaca-se também o nascimento, em dezembro de 2013, do espaço Laranjinha num antigo jardim de infância abandonado junto à estação de comboios  de Massamá-Barcarena. Durante perto de 2 anos a Laranjinha desenvolveu diversas actividades, promovendo conversas, debates, filmes, etc. Foi despejada pela polícia a 21 de outubro de 2015.

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