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Memória Libertária

Documentos e Memórias da História do Movimento Libertário, Anarquista e Anarcosindicalista em Portugal

Documentos e Memórias da História do Movimento Libertário, Anarquista e Anarcosindicalista em Portugal

Memória Libertária

21
Out21

VALENTIM ADOLFO JOÃO: “NÃO TENHO VAGAR AMOR”


BNP N61 CX 58 F14

Esta fotografia pessoal de Valentim Adolfo João foi conservada por Emídio Santana, que a entregou ao Arquivo Histórico-Social (AQUI)

Valentim Adolfo João (30 de Março de 1902-29 de Janeiro de 1970) foi um destacado dirigente do Sindicato dos Mineiros (primeiro da Mina de São Domingos, depois de Aljustrel). Anarcosindicalista, participou em 1932 na última grande greve dos mineiros da Mina de São Domingos, , tendo sido o último destes a ser libertado das prisões políticas da ditadura, nos anos 60, neste caso, do forte de Peniche. Preso em 1924 por lançamento de bomba. Delegado ao Congresso Operário de 1925. Membro do Grupo de Propaganda e Estudos Sociais da Mina de S. Domingos (1923/33). Participa na Conferência Anarquista do Sul de 1925 – UAP (AQUI)

Relativamente a Valentim Adolfo João há uma referência em José Correia Pires, no livro ““Memórias de um prisioneiro do Tarrafal” (1975), em que este anarquista conta a sua fuga do Algarve, nas vésperas do 18 de Janeiro de 1934, a caminho de Espanha. De Beja passa à Mina de São Domingos e à fronteira. “Na fronteira descalcei-me, arregacei as calças e com a companhia de um camarada de nome António Patrício, irmão do velho militante anarquista Valentino Adolfo João, excelente camarada e envolvido mais tarde no atentado a Salazar, esteve preso mais de uma dezena de anos e faleceu há cerca de três. Valentim Adolfo João estava fixado a umas dezenas de quilómetros da fronteira e fui dirigido a ele. Ali o encontrei feito agricultor, vivia com a mulher e filhos numa barraca de vime. Já nos conhecíamos por correspondência, mas quando o vi, cabeleira ao alto e desenvolta, lembrei-me da «Cabana do Pai Tomás», e Valentim dava na verdade uma excelente figura de romance. Fazia a sua sementeira e era um autêntico camponês. Fiquei ali um dia e uma noite e recordo-me que ele gozava ali de bom ambiente, nessa noite fomos visitados por uma patrulha da guarda fiscal ou os chamados «carabineiros», que decerto modo me vieram a ser úteis para a minha introdução em Espanha!… (aqui)

Também o escritor Modesto Navarro que encontrou o irmão, Patrício, em Aljustrel, já na década de 70, escreve sobre Valentim Adolfo João no seu livro “Poetas Populares Alentejanos”. Apesar de várias inexactidões (o atentado a Salazar foi em 1937 e não em 1933 como refere Modesto Navarro. Valentim Adolfo João morreu em Janeiro de 1970 e não em 1971), eis o texto de Modesto Navarro com umas “quadras” atribuidas a Valentim Adolfo João.

“Quando do atentado contra Salazar, em 1933, [esta data não está correcta. O atentado a Salazar, levado a cabo por um conjunto de anarquistas e de outros antifascistas deu-se  a 4 de Julho de 1937 – nota de Portal Anarquista] Valentim Adolfo João, na altura presidente do Sindicato dos Mineiros de Aljustrel, foi acusado pela PVDE (aquela que viria a ser a PIDE) de ter fornecido o dinamite. Sabe-se hoje que os fascistas aproveitaram esse acontecimento para perseguirem e prenderem muitos democratas. A partir daí, Valentim Adolfo João andou com um nome suposto (José Dias) até 1946, data em que foi reconhecido em Setúbal. Condenado a 28  anos de prisão, foi libertado quase no fim da década de 1960/1970,  já completamente destruído. Veio a morrer por volta de 1971.  É seu irmão, o sr. Patrício, que nos diz estas décimas em Aljustrel, explicando que, na  altura em que Valentim Adolfo João as fez, organizava o sindicato com outros mineiros.

Namorava uma moça com a sua idade, dezanove anos, e um dia ela queixou-se da pouca  atenção que lhe dedicava: – «Passa-se uma noite, passa-se outra, e tu sem apareceres…»  Ao que Valentim Adolfo João respondeu:

Não tenho vagar amor
para te dar atenção
tenho muito que fazer
na minha Associação

É meu desejo transformar
esta pobre sociedade
que semeia a iniquidade
para nos escravizar
temos muito que lutar
com força audácia e valor
para extinguirmos a dor
a miséria e o sofrimento
e por isso neste momento
não tenho vagar amor

Se a vida fosse a sorrir
se de encantos fosse o viver
e se num breve alvorecer
a luta nos redimir
então poder-te-ei garantir
imorredoira afeição
mas enquanto a escravidão
produzir mal e desgosto
não posso fugir do posto
para te dar atenção

Olha para todo o mundo
verás tanta dor tanta desgraça
eu amo a beleza, amo a graça
amo o bem-estar profundo
o capital iracundo
procura nos perverter
mas nós havemos de vencer
apeando os comodistas
e amando os idealistas
tenho muito que fazer

Sociedade corrompida
teus erros são vis e sicários
aleivosos, argentários
que nos negam o direito à vida
e eis porque minha querida
distraio a atenção
e para acabar a escravidão
eu prego por toda a parte
construindo um baluarte
a minha associação”

(Texto retirado da obra “Fado Operário no Alentejo, séculos XIX – XX” de Paulo Lima, 2004, ed. Tradisom, Vila Verde, pp. 90 e 91. 2)

aqui: https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2013/02/02/valentim-adolfo-joao-nao-tenho-vagar-amor/

21
Out21

“AIT E ANARCO-SINDICALISMO: ALTERNATIVA ATUAL E RAÍZES HISTÓRICAS” EM DEBATE NA UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR (COVILHÃ)


Realiza-se hoje, dia 6 de dezembro de 2012, às 14h30, no Anfiteatro 7.22 – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade da Beira Interior (Covilhã).

José Rocha Paiva, da Associação Internacional de Trabalhadores – Secção Portuguesa (AIT-SP), profere, dia 6 de dezembro, às 14H30, no anfiteatro 7.22 da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UBI, a conferência “AIT e Anarco-sindicalismo: alternativa atual e raízes históricas”.
A génese ideológica do anarco-sindicalismo, a história do mesmo em Portugal e seu impacto, o percurso histórico da AIT e as perspetivas futuras são os temas a tratar na iniciativa organizada pelo Grupo de Estudos Políticos da UBI.
Entrada livre.

Fonte: Grupo de Estudos Políticos e Faculdade de Ciências Sociais e Humanas e AIT/SP

aqui:https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2012/12/06/ait-e-anarco-sindicalismo-alternativa-atual-e-raizes-historicas-hoje-em-debate-na-universidade-da-beira-interior-covilha/

21
Out21

Jaime Rebelo, o anarquista da boca cerrada


rebelo01

A 22 de Dezembro de 1900 nascia em Setúbal o anarcosindicalista e resistente antifascista Jaime Rebelo. Pescador e marítimo de profissão, ainda jovem aderiu à Confederação Geral do Trabalho (CGT), da qual foi um dos principais responsáveis em Setúbal. Viveu a maior parte da sua vida em Cacilhas. Como militante anarco-sindicalista foi um dos animadores, com Francisco Rodrigues Franco, da Associação de Classe dos Trabalhadores do Mar de Setúbal, mais conhecida por  “Casa dos Pescadores”, que foi encerrada na sequência do golpe de Estado de 28 de Maio de 1926 e da qual conseguiu salvar documentação importante.

Em 1931, em consequência da chamada “Greve dos 92 dias” , foi preso e torturado pela PIDE. Durante os interrogatórios, cortou a língua para evitar falar e denunciar os companheiros. Há duas versões: uma, com os próprios dentes; outra, entre dois interrogatórios, com uma lâmina que trazia escondida no tacão dos sapatos. Sabendo deste facto, o escritor Jaime Cortesão dedica-lhe um dos seus poemas mais belos (ver mais abaixo) – o Romance do Homem da Boca Cerrada. Este poema circula clandestinamente durante toda a ditadura salazarista e foi publicado em 1937 no jornal comunista “Avante”, que procurava, nessa altura, forçar uma política de Frente Popular.

Uma vez em liberdade e vitima de perseguições constantes emigrou para Espanha. Ali filiou-se na CNT anarcosindicalista e durante a Revolução Espanhola fez parte das milícias confederais e comandou uma unidade que combateu na frente meridional. Com o triunfo fascista em Espanha, foi para França, voltando depois a Portugal onde continuou a lutar contra a ditadura do Estado Novo, ganhando a vida a partir de 1968 como revisor do jornal “A República”, ao lado do também anarquista Francisco Quintal.

Depois do 25 de Abril presidiu à primeira Assembleia Geral da restituída “Casa dos Pescadores” e participou na constituição da Cooperativa Editora de “A Batalha”, antigo jornal diário da CGT. Membro activo do Movimento Libertário Português (MLP) participou na criação do jornal “A Voz Anarquista”, editado pelo Centro de Cultura Libertária de Almada. Jaime Rebelo morreu a 7 de Janeiro de 1975. O historiador César de Oliveira dedicou-lhe um estudo “Jaime Rebelo: um homem para além do tempo”, publicado em Março de 1995 na revista História. No bairro de São Julião, em Setúbal, há uma avenida com o seu nome.

 Romance do Homem da Boca Cerrada

– Quem é esse homem sombrio
Duro rosto, claro olhar,
Que cerra os dentes e a boca
Como quem não quer falar?
– Esse é o Jaime Rebelo,
Pescador, homem do mar,
Se quisesse abrir a boca,
Tinha muito que contar.

Ora ouvireis, camaradas,
Uma história de pasmar.

Passava já de ano e dia
E outro vinha de passar,
E o Rebelo não cansava
De dar guerra ao Salazar.
De dia tinha o mar alto,
De noite, luta bravia,
Pois só ama a Liberdade,
Quem dá guerra à tirania.
Passava já de ano e dia…
Mas um dia, por traição,
Caiu nas mãos dos esbirros
E foi levado à prisão.

Algemas de aço nos pulsos,
Vá de insultos ao entrar,
Palavra puxa palavra,
Começaram de falar
– Quanto sabes, seja a bem,
Seja a mal, hás de contá-lo,
– Não sou traidor, nem perjuro;
Sou homem de fé: não falo!
– Fala: ou terás o degredo,
Ou morte a fio de espada.
– Mais vale morrer com honra,
Do que vida deshonrada!

– A ver se falas ou não,
Quando posto na tortura.
– Que importam duros tormentos,
Quando a vontade é mais dura?!

Geme o peso atado ao potro
Já tinha o corpo a sangrar,
Já tinha os membros torcidos
E os tormentos a apertar,
Então o Jaime Rebelo,
Louco de dor, a arquejar,
Juntou as últimas forças
Para não ter que falar.
– Antes que fale emudeça! –
Pôs-se a gritar com voz rouca,
E, cerce, duma dentada,
Cortou a língua na boca.

A turba vil dos esbirros
Ficou na frente, assombrada,
Já da boca não saia
Mais que espuma ensanguentada!

Salazar, cuidas que o Povo
Te suporta, quando cala?
Ninguém te condena mais
Que aquela boca sem fala!

Fantasma da sua dor,
Ainda hoje custa a vê-lo;
A angústia daquelas horas
Não deixa o Jaime Rebelo.
Pescador que se fez homem
Ao vento livre do Mar,
Traz sempre aquela visão
Na sombra dura do olhar,
Sempre de boca apertada,
Como quem não quer falar.

Jaime Cortesão

aqui: https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2012/12/18/memoria-libertaria-jaime-rebelo/

21
Out21

AIT/SP: SOBRE A CARGA POLICIAL EM SÃO BENTO DURANTE A GREVE GERAL


No dia 14 de Novembro, na maior manifestação em dia de greve geral, os chefes da polícia, o ministro da administração interna e outros políticos tentaram justificar a carga policial sobre os manifestantes em São Bento, dizendo que as “forças de segurança” tinham sido muito tolerantes porque durante mais de uma hora “com serenidade e firmeza” levaram com pedras e garrafas atiradas por “meia dúzia de profissionais da provocação”.

Houve várias pessoas a atirar pedras e outros objectos ao cordão policial que defendia o Parlamento e não só eram bem mais do que meia dúzia, como muitos outros permaneceram por ali bastante tempo, sem arredar pé.

Também é verdade que houve uma carga violentíssima sobre os manifestantes, homens, mulheres, idosos, crianças, tudo o que se mexia foi varrido, atirado ao chão, ameaçado com gritos e balas de borracha. Houve ainda uma perseguição por várias ruas, onde se prenderam pessoas indiscriminadamente. Dezenas de pessoas foram identificadas sem saberem porquê. Nas esquadras não lhes foi dada a possibilidade de falar com um advogado, ir ao wc ou até de receber assistência médica.

Sobre a repressão policial temos apenas a dizer o seguinte: violência não é atirar pedras contra o corpo de intervenção, protegido com os seus fatos especiais, capacetes, escudos, cassetetes e armas. Violência não é a revolta de quem trabalha e não tem dinheiro suficiente para viver, de quem nem trabalho tem e desespera à procura, de quem passa fome, dos idosos que vêem as suas pensões reduzidas, de quem não explora ninguém e vive uma vida inteira a ser explorado pelos mesmos de sempre: políticos, banqueiros e empresários. Violência não é atacar a polícia quando esta defende o sistema ao qual pertence: o Estado, esse mesmo Estado que concedeu um aumento salarial de 10% para as forças de intervenção enquanto milhares de pessoas vivem em pobreza e outros para lá caminham.

Violência não é gritar palavrões contra os agentes policiais quando eles escolheram estar ali, especialmente os do corpo de intervenção. A polícia só existe para manter a ordem pública. E manter a ordem pública não é mais que evitar quaisquer acções que possam perturbar o sono dos ricos e poderosos.

Para nós violência é passar fome. Violência é 561 postos de trabalho serem destruídos todos os dias e 500 mil pessoas não terem qualquer apoio social. Violência é os 25 mais ricos de Portugal crescerem 17,8% em 2011 face ao ano anterior. Violência é passar toda a vida a trabalhar por um salário, apenas para sobreviver. Violência é ter de cumprir ordens sem nunca podermos ser nós a decidir como queremos viver. Violência são os ataques diários da polícia nos bairros sociais, violência é a detenção de imigrantes que procuram uma vida melhor, violência é prender pessoas por roubar algo para comer, violência é não poderes ir por ali porque está a Merkel a passar, não poderes ir por acolá porque é o parlamento onde se encontram seguros os governantes, não poderes passar porque simplesmente os polícias te gritam que tens de te ir embora se não queres levar um tiro. Violência foi a morte à queima roupa do Kuku na Amadora, os ataques da polícia contra os piquetes de greve, as balas de borracha numa manifestação no 1º de Maio em Setúbal, a carga brutal ontem em São Bento como em tantas outras situações. Que se desiludam aqueles que pensam que são as “pedradas” que causam alguma coisa, a violência policial em manifestações é uma constante, sobretudo se não houver televisões por perto a filmar.

A violência policial é a violência ordenada pelo sistema em que vivemos, em que uns têm tudo e outros sofrem na miséria. É a violência do Estado e do Capital. É a violência que irá crescer aqui em Portugal e em todos os lugares onde os governantes e os ricos tenham medo da revolta dos pobres.

Mas eles que não se esqueçam que não nos podem matar a todos. Não nos podem prender a todos. Haverá sempre quem resista. Quem volte. Com pedras ou sem pedras, haverá sempre quem lute contra os polícias armados, pois onde houver luta pela justiça e igualdade, haverá sempre cães de guarda a defender o dono.

Levamos um mundo novo nos nossos corações, e os golpes que nos desferem só nos fazem acreditar mais na justeza dos ideais e das formas de luta que defendemos.

Contra a repressão, solidariedade! Contra a exploração, acção directa!
Unidos e auto-organizados, nós damos-lhes a crise!

16/11/2012
Associação Internacional dos Trabalhadores – Secção Portuguesa
Núcleo de Lisboa
 
 
21
Out21

NA UNIVERSIDADE DE ÉVORA,MESA REDONDA: “GONÇALVES CORREIA: A UTOPIA DE UM CIDADÃO”


Vai realizar-se na Universidade de Évora uma Mesa redonda, subordinada ao tema “Gonçalves Correia: a utopia de um cidadão” (nome da exposição que pode ser vista na UE até ao fim do mês sobre a vida e obra do anarquista alentejano Gonçalves Correia)

A mesa redonda vai ter lugar esta terça-feira, 20 de novembro de 2012, pelas 16 horas, na sala 124 do Colégio do Espírito Santo da Universidade de Évora.

Participantes:

Prof. António Cândido Franco (DLL-UE)
Prof. Paulo Guimarães (DH-UE)
Dr.ª Paula Santos (Diretora da Biblioteca Municipal de Beja)
Dr.ª Francisca Bicho (responsável pela exposição Gonçalves Correia: a utopia de um cidadão)
Prof.ª Sara Marques Pereira (Diretora da Biblioteca Geral da Universidade de Évora)

Informação aqui: http://www.ueline.uevora.pt/agenda/(item)/5085

21
Out21

ANARQUISTAS PELA GREVE GERAL DE 14 DE NOVEMBRO


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(recebido com pedido de publicação)

A Greve Geral sempre foi considerada pelos anarquistas como um poderoso instrumento de luta e de combate. Numa altura em que todos nós, trabalhadores, desempregados, precários, estudantes, reformados, homens e mulheres de todas as idades, somos alvo de uma violenta afronta aos nossos direitos (dos salários aos subsídios sociais, da saúde ao corte nos direitos laborais, da educação à cultura) impõem-se, com renovada actualidade, formas de luta alargadas que mobilizem o maior número de explorados.

Apesar de críticos relativamente aos sindicatos do sistema – reformistas e colaboracionistas com o sistema político-partidário, sentados à mesa da concertação social, inundados de funcionários e de burocratas sindicais  –  e ao facto da greve geral do próximo dia 14 de Novembro estar a ser convocada mais como “um grito de protesto” do que uma afirmação clara de luta, consideramos que a alternativa aos cortes , à diminuição dos direitos laborais e à miséria só pode estar nas empresas, nas fábricas, nas ruas, no combate determinado de todos os explorados e oprimidos.

Por outro lado, ainda que os sindicatos da concertação social pretendam que esta greve assuma uma “dimensão nacional”, o facto de ter sido convocada simultaneamente em Portugal, Espanha e Itália faz com que a sua importância seja redobrada: a Europa dos explorados tem que se unir e fazer frente à Europa dos exploradores. Este é um primeiro sinal de que as palavras de ordem de protesto podem ser comuns e atravessar as fronteiras, encurralando o nacionalismo, que é o fomentador de todos os tipos de fascismo

Por isso, apesar de reconhecermos os limites e o carácter restrito desta Greve Geral, julgamos que dada a insatisfação reinante ela irá mobilizar muitas centenas de milhares de portugueses – e milhões de europeus – indignados e revoltados com a degradação das suas condições de vida e aspirando a uma nova organização social.

Nós preconizamos e lutamos por uma outra sociedade, de homens e mulheres livres e iguais, sem exploração nem opressão e sabemos qual o nosso lugar na sociedade: junto dos que sofrem e lutam.

Partimos, por isso, para esta Greve Geral com a convicção de que é nas empresas e nas ruas, nos bairros, que os anarquistas devem estar, divulgando as suas ideias, os seus modos de luta, a forma como se organizam.

Combatendo, de rosto aberto, as iniquidades, as injustiças, o medo e, ao mesmo tempo, denunciando os que, em nome dos trabalhadores, apenas pretendem criar-lhes novos jugos e novas submissões.

A acção directa, a sabotagem, a greve e a greve geral sempre foram os nossos instrumentos de luta. Ontem como hoje. Hoje como sempre.

Um grupo de anarquistas

Região Portuguesa,  Novembro de 2012

aqui; https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2012/11/09/anarquistas-pela-greve-geral-de-14-de-novembro/

21
Out21

GREVE GERAL IBÉRICA DE 14 DE NOVEMBRO: O SINDICALISMO NÃO É TODO O MESMO DE UM E DE OUTRO LADO DA FRONTEIRA


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“Levamos um mundo novo nos nossos corações” (Buenaventura Durruti)

A menos de duas semanas da greve geral ibérica (a que se juntou também uma das confederações sindicais italianas) é preciso salientar a diferença entre a organização sindical em Portugal e no Estado Espanhol. Em Portugal, por pressão do PCP e de sectores ligados à CGTP, logo a seguir ao 25 de Abril foi proibida a existência de outras centrais sindicais, por força da chamada “lei da unicidade sindical”. A própria UGT, criada por sindicalistas do PS e do PSD, tardou em aparecer – porque a existência de mais do que uma central sindical era ilegal. A lei foi alterada, mas o mal estava feito e o sindicalismo desacreditado e servindo de mera correia de transmissão dos partidos políticos. (Veja-se a promiscuidade da CGTP relativamente ao PCP ou da UGT em relação também ao PSD, mas sobretudo ao PS).

Em Espanha deu-se exactamente o contrário. O sindicalismo, que tinha sido uma das forças motoras da Revolução de 1936, com a CNT e a UGT, persistiu na clandestinidade e reforçou-se com o aparecimento das Comissiones Obreras, surgidas nas Astúrias após as greves mineiras dos anos 60. As CCOO foram inicialmente controladas pelo PCE, mas com a perda de influência deste partido transformaram-se numa central sindical heterogenea, cujas movimentações vão quase sempre a par e passo com as da UGT, ainda muito ligada ao PSOE. Este é o chamado “sindicalismo oficial”, mas para além dele existem várias centrais sindicais por todo o Estado Espanhol, sejam de âmbito estatal ou de âmbito regional.

No campo anarcosindicalista existem três centrais, cada uma delas com a sua especificidade. A CNT, a CGT, e a Solidaridad Obrera.

Em Espanha, a lei que rege os comités de empresa assenta numa espécie de parlamentarismo com eleição, nas empresas, dos representantes dos sindicatos, em listas próprias, um pouco como os deputados são eleitos para os vários parlamentos em listas partidárias.

A CNT, na altura, contestou este procedimento, dizendo que ele levava o parlamentarismo burguês para o mundo do trabalho e recusou-se a participar. Esta decisão motivou em 1979 uma cisão na CNT e alguns milhares de  militantes abandonaram a central sindical para formarem a CGT, que se transformou na terceira central sindical do país (depois das CCOO e da UGT,e que apresentou em conjunto com estas o pré-aviso para a greve de 14 de Novembro), com mais de 50 mil militantes e centenas de representantes sindicais por todo o país. Na actualidade as duas centrais sindicais – que se reclamam do anarcosindicalismo – têm efectuado diversas acções em comum e o seu relacionamento tem vindo a estreitar-se.

Solidaridad Obrerafoi fundada em 1990, e é uma pequena central sindical, reunindo alguns sindicatos, sediada sobretudo na Catalunha, em Alicante e na região de Madrid, com influência nalguns sectores como os transportes e que tem realizado diversas acções em comum com sindicatos alternativos de várias regiões do Estado Espanhol. Reclama-se igualmente do anarcosindicalismo.

No campo do sindicalismo revolucionário merece ainda destaque o Sindicato Andaluz de Trabalhadores (SAT), que reúne trabalhadores de diversas correntes, mas que utiliza métodos e práticas anarcosindicalistas, como a prática assemblearia, a acção directa, etc., confluindo muitas vezes em acções com a CNT, a CGT e a SO. Esta influência é mais visível ainda no seu sindicato agrícola – o SOC (Sindicato dos Operários do Campo) – onde as referências e a militância anarcosindicalista são muito fortes.(O SOC ocupou há alguns meses uma grande propriedade na Andaluzia – a Somonte – onde está a ser posta em prática uma experiência de cooperativismo agrícola interessante). Neste momento – entre 1 e 4 de Novembro –  decorre uma visita à Andaluzia em que cerca de duas dezenas de portugueses, alguns deles libertários, outros ligados a colectivos alternativos, vão conhecer, no terreno, algumas das experiências mais importantes lideradas pelo SAT (Marinaleda, Somonte, etc.).

São estes sindicatos que, na sua diversidade, fazem com que o movimento sindical seja forte e expressivo do outro lado da fronteira, enquanto que em Portugal o reformismo das práticas sindicais – com centenas de funcionários e burocratas sindicais a viverem dos descontos dos trabalhadores – e a falta de alternativas ao bipolarismo sindical têm  levado à perda de influência do movimento sindical e ao seu mero papel de instrumento das estratégias partidárias – sejam elas do PCP (CGTP), ou do PS/PSD (UGT).

aqui: https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2012/11/02/greve-geral-iberica-de-14-de-novembro-o-sindicalismo-nao-e-todo-o-mesmo-de-um-e-de-outro-lado-da-fronteira/

21
Out21

MANIFESTO DO COLECTIVO LIBERTÁRIO DE ÉVORA


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Um grupo de cidadãs e de cidadãos, homens e mulheres, reunidos em Évora, decidiu constituir-se em colectivo de reflexão e de acção como resposta à constante violação e limitação dos seus direitos e liberdades individuais e colectivas, bem como à constante diminuição da qualidade de vida e de perspectivas de futuro que a maioria dos trabalhadores, estudantes, desempregados, reformados ou simplesmente desocupados hoje enfrentamos.

Face à crise generalizada do capitalismo, e depois de morto o modelo das “democracias populares”, que mais não foi do que uma outra forma do capitalismo sobreviver ancorado na ideologia do Estado todo poderoso, é preciso reencontrar alternativas que, aliás, estiveram desde sempre na prática e na teoria dos sectores mais interventivos do movimento social e operário em todo o mundo.

As experiências autogestionárias, de acção directa, baseadas nas assembleias de base, com o mínimo possível de delegação de poderes, assentes no livre pensamento e na absoluta liberdade de organização, preferencialmente em rede e a partir da base, mantêm todo o seu carácter de inovação e de radicalidade.

É preciso voltar a colocar sobre a mesa questões como o poder e as relações de poder; o Estado; o salariato; a luta de classes. Reenquadrar a ecologia no contexto global da espécie humana e não apenas em termos de ambiente. Debater a violência e o pacifismo. Perceber como se pode passar de uma sociedade totalitária, onde o poder político e económico agem apenas em função do lucro e não da satisfação das necessidades do conjunto da humanidade, para uma sociedade assente na fruição e na utilização da imensa capacidade tecnológica hoje existente de modo a acabar com o fosso entre ricos e pobres, entre fartos e esfomeados, entre os que têm acesso à generalidade dos bens de consumo e os que deles estão totalmente excluídos, entre os que detêm o poder e aqueles que são totalmente despossuídos de qualquer grau de influência.

É preciso pensar e perceber o que são os chamados índices de felicidade ou de conforto e de que maneira, cada ser humano, enquanto tal, pode e deve participar, no chamado “banquete da vida”, de que hoje muitos milhões de seres humanos são, logo à nascença, postos à margem.

Queremos perceber também ao detalhe esta sociedade em que nos integramos. Alentejanos e eborenses consideramos ter muitas palavras a dizer no contexto local, fora dos confrontos da política partidária, onde a natureza dos interesses em jogo é quase sempre idêntica e pouco transformadora. Partindo desta nossa realidade sabemo-nos e sentimo-nos cidadãos do mundo, cosmopolitas, e queremos trazer também até ao espaço que habitamos novas experiências, outras ideias, formas diferentes de sonhar o futuro.

Não nos resignamos ao cardápio das ideias feitas, prontas a consumir, no “self-service” partidário. Fiéis à velha máxima da velha Associação Internacional de Trabalhadores de que a emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores ou não o será, consideramos que todos, organizados e intervenientes, temos uma palavra a dizer na condução das nossas vidas e na construção de espaços de encontro e de ruptura com a apatia social e o imobilismo político que parecem caracterizar os dias que correm.

É contra isso que nos batemos e é contra isso que nos vamos bater. A favor de uma vida que valha, de facto, a pena viver. E não a sobrevida que o capitalismo (nas suas mais variadas formas) nos tem para oferecer.

Por tudo isto, prometemos não ficar parados e rasgar novas janelas na imensa planície das ideias e das práticas e convidamos quem esteja de acordo e solidário com este manifesto a juntar a sua à nossa voz.

Colectivo Libertário de Évora

Outubro/2012

aqui: https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2012/10/29/manifesto-do-colectivo-libertario-de-evora/

21
Out21

Convocatória Anarquista para a participação na Greve Geral de 14 de Novembro de 2012


 

Consideramos que a greve geral ibérica marcada para o dia 14 novembro é importante, sobretudo porque junta, pela primeira vez, numa jornada de luta trabalhadores de um e de outro lado da fronteira e porque a esta convocatória, promovida pelos sindicatos do sistema (CGTP, em Portugal, e CCOO e UGT, em Espanha), se associaram sindicatos e organizações de trabalhadores que contestam o sistema de exploração que rege a actual sociedade, tais como a CNT, a CGT e inúmeros colectivos anti-capitalistas e anti-autoritários

No entanto,  a luta  contra a austeridade, contra a degradação das condições de vida, contra a miséria e por outro modelo de sociedade, não pode acabar aqui.  A luta tem que continuar todos os dias até  que este regime económico fascista, encoberto pelo manto da democracia, seja finalmente derrotado. Está em jogo o futuro das nosso vidas.

Cidadãos, acordai! Chegou a hora de lutarmos todos os dias e em cada lugar onde possa ser combatida esta doença chamada capitalismo. Está nas tuas mãos mudar o rumo.

Organiza-te, luta, resiste!

21
Out21

2º Encontro Nacional de Assembleias Populares em Coimbra nos dias 2 e 3 de Fevereiro de 2013


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A Europa e o mundo explodem em manifestações em resposta às políticas neo-liberais que são impostas pela Troika, pelos governos nacionais e pelas instituições internacionais que controlam a economia. Estas políticas arrastam uma parte cada vez maior da população para a miséria e a pobreza extrema. Os movimentos sociais e a população em geral mobilizam-se em Portugal e no Mundo, mantendo-se em estado de alerta, com o objectivo de substituir as políticas que impõem desemprego, cortes salariais, sobrecarga fiscal, asfixia económica, diminuição das pensões e prestações sociais, destruição da saúde, da educação, da cultura, etc.

Neste momento, mais do que nunca, é fundamental apostar na organização permanente das pessoas, não apenas para resistir, mas também para mudar a situação do país e da Europa, para construir alternativas e colocá-las em prática. Caso não haja organização na base, a energia das manifestações de rua perde-se no desencanto e na apatia. Só as populações organizadas podem decidir o seu destino. As assembleias populares podem ser uma dessas formas da população se organizar.

Nesse sentido, Coimbra vai acolher nos dias 2 e 3 de Fevereiro um Encontro Nacional de Assembleias. Este encontro vai contar com elementos de assembleias e colectivos assembleários de vários pontos do país. Presentes estarão também vários companheiros do estado espanhol que relatarão as suas experiências. Durante este Encontro irá gerar-se um debate abrangente sobre os problemas e desafios que as assembleias populares enfrentaram neste último ano de trabalho, sobre a sua importância na auto-organização das populações, sobre as suas iniciativas e projectos futuros, bem como sobre as possibilidades de articulação entre si.

PROGRAMA:
Sábado, 2.Fev
> 12h00 – recepção junto à Sé Velha
> 13h00 – almoço
> 14h00-20H00 – ENCONTRO (ateneu de coimbra)
> 20H30 – jantar
> 22h00 – conversa/debate “ocupações e espaços comunitários” (ateneu de coimbra)
 
Domingo, 3.Fev
> 10h00-13h00 – ENCONTRO (salão brazil)
> 13h30 – almoço
> 15h00-18h00 – oficina “media activism” (salão brazil)

inscrições e pedidos de informação: acampadacoimbrablog@gmail.com

Assembleia Popular de Coimbra
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